29 junho 2007

Trindade IV - 1 de Julho de 2007


I Reis 19.16, 19-21
Salmo 77.1-2,11-20
Gálatas 5.1, 13-25
São Lucas 9.51-62

Santidade

O Mestre frequentemente afirmava que a santidade era menos o que foi feito e mais o que se permitiu acontecer. Para um grupo de discípulos que tinha dificuldade em compreender isto, ele contou a seguinte estória:
Era uma vez um dragão de uma só perna... que perguntou para centopéia... como é que você consegue administrar todas estas pernas? Eu mal consigo me arranjar com uma!
- Para dizer a verdade, respondeu a centopéia - Eu não as administro em absoluto!
Anthony de Mello, S.J. - One Minute Wisdom



Cerâmica e Cruz de Cantuária


A Grande Mistificação do Mal

Pode-se indagar se jamais houve antes, na história humana, povo com tão pouco chão sob seus pés - pessoas para quem toda alternativa disponível parecesse igualmente intolerável, repugnante e fútil, e que olhasse para além destas alternativas em busca de suas forças, tão inteiramente no passado ou ainda no futuro, e que, no entanto, sem serem sonhadores, eram capazes de esperar pelo sucesso de sua causa, tão quieta e confiantemente.

A grande mistificação do mal tem feito igual confusão com todos os nossos conceitos éticos. Pois o mal, aparecer disfarçado como luz, caridade, necessidade histórica ou justiça social é simplesmente desconcertante para quem quer que tenha crescido segundo nossos tradicionais conceitos éticos; já para cristãos, baseando suas vidas sobre a Escritura, tudo isto meramente confirma a iniquidade fundamental do mal... Quem resiste mesmo? Somente a pessoa cujo padrão final não é seu mesmo... princíoios, consciência, liberdade ou virtude, mas aquele que estiver pronto a sacrificar tudo isto quando chamado à obediência e ação responsável, na fé e adesão exclusiva a Deus - a pessoa responsável, que tenta fazer da sua vida toda uma resposta à questão e ao chamdo de Deus.
Dietrich Bonhoeffer, Letters and Papers from Prison


Cerâmica do I Século, Palestina


Todos... Miseráveis Pecadores


Sou sempre a favor da auto-estima espirital. Se devemos amar nosso próximo como a nós mesmos, o que está implícito por Jesus no segundo mandamento do sumário da Lei, precisamos primeiro amar-nos a nós mesmos. Devemos recordar e alegrar-nos pelo fato de que fomos criados à imagem de Deus e de que partilhamos da dignidade plena da Criação. Eu creio nisto. Mas eu também creio que em maioria, somos - miseráveis pecadores. Somos feitos miseráveis pelas ofensas que cometemos e também por suas conseqüências. O pecado e o mal nos tornam miseráveis. Mas isto não nega a dignidade da Criação; significa sim a realidade do pecado e de que -
nada há em nós que esteja são. O que não significa que não sejamos saudáveis. Significa, isto sim, que em nós mesmos, de nós mesmos, e por nós mesmos, nada temos dentro de nós que nos possa curar da enfermidade do pecado e do mal. A cura do pecado não é só uma questão da mente sobre a matéria; não se trata só de uma força de vontade que nos leve até a bondade... Nós todos precisamos de ajuda.
... especialmente as mulheres? Muitos... guardaram a noção de que, de alguma forma, os pecados da carne se interpõem entre o pecador e Deus.. Tais pecados, no entanto, não eram pecado por ofenderem a razão mas, antes, porque davam prazer... o que, no Calvinismo refratário do qual eram herdeiros, é um fim inaceitável. O sexo existia assim, só para a geração de crianças, vergonhoso para os homens e doloroso para as mulheres, ambos como parte de um plano divino; o sexo, por qualquer outro propósito, simplesmente juntaria dor e vergonha, especialmente se algum prazer sem punição estivesse envolvido. As mulheres eram tidas então como vasos de vergonha que, como Eva, Jezabel e Dalila, levaram seus homens a finais desastrosos.
Peter J. Gomes, The Good Book:
Reading the Bible with Mind and Heart

23 junho 2007

Trindade III - 24 de Junho de 2007

Zacarias 12.8-10, 13.1
Salmo 63.1-8
Galatas 3.23-29
São Lucas 8.26-39

O Critério do Reino

A confissão cristã suscitou uma conversão na estima sobre as mulheres que era então corrente tanto no Judaísmo como dentre os Gentíos. O texto tão bem conhecido e citado de Gálatas 3.28 é uma formula batismal primitiva que foi tomada e citada por São Paulo; "Desse modo não há diferença entre judeus e não judeus, escravos e livres, homens e mulheres: todos vocês são um só, em união com Cristo Jesus." Esta formula declara que os pontos clássicos de conflito humano - diferenças étnicas, status social e a guerra dos sexos, todos sendo sempre campos de tensão em ocasiões particulares com presença de preconceito e comportamento discriminatório - são irrelevantes para a comunidade cristã.
A vida cristã em comunidade era então regulada por critérios contrários ao que seria usual no mundo...
A reversão de valores expressa na formula batismal de Gálatas está bem de perto ligada à tradição de Jesus. Não só os pregadores itinerantes mas também os cristãos numa dada comunidade, se comprometiam com o critério do Reino de Deus, pregado por Jesus. Em última instância, estavam convencidos de que o Senhor Ressuscitado estava vivo e agindo dentre eles.. Em comentários sobre Gálatas 3.28, ainda lemos que aí se trata de uma esperança escatológica que somente se materializará no - final dos tempos -, quando Deus criar um novo céu e uma nova terra; aqui e agora, as coisas permancem como são. Alguns exegetas também distinguem uma significância salvadora - diante de Deus - que não tem a mesma significação que - diante dos homens -. Isto é em primeiro lugar, contraditório ao contexto, que se preocupa com o Batismo e com a comunidade em Cristo, e ainda com a comunidade, preocupada em ajustar sua conduta segundo o Espírito de Cristo (I Coríntios 12.1 e ss.) Ora, pelo Batismo a pessoa é feita nova criatura desde já, porque está em Cristo. A experiência de que Gálatas 3.28 ainda não fora cumprida, não exclui a convicção mesma afirmada. Quem quer que a aplique somente - ao final dos tempos - ou que é somente válida - diante de Deus - deixa a realidade entregue às suas próprias leis.
Suzanne Heine, Women and Early Christianity:
Are the Feminist Scholars Right? 1987


Zacarias 12.8-10,13.1
(A promessa em Davi)
História do jovem Davi, final do século XII, Bíblia de Souvigny,
Figuras de Deus, Dominque Ponnau, UNESP
Moldura e arte de Paula Suzuki



Um em Cristo


Podemos alegrar-nos porque, subjacente ao Sacramento do Santo Batismo, está a promessa de Cristo em renovar-nos, para que então possamos começar a viver além das antigas barreiras que negam a humanidade plena daqueles que eram da "religião, classe, raça ou gênero errados." A antiga formula batismal citada por São Paulo em Gálatas 3.27-28 recorda que as divisões da velha criação foram vencidas, e antigas formas de dominação não mais pertencem à vida em Cristo. Assim como a divisão original entre macho e fêma foi ultrapassada, também a de judeus e gentios, escravos e livres... devem agora ser compreendidas no contexto das antigas igrejas domésticas. Alguns podem arguir que atualmente a lista deve ser ainda mais longa, para incluir hetero-sexuais e homossexuais, fisicamente aptos e deficientes, ricos e pobres, capitalistas e socialistas. É a negação e vitória destas divisões, bem como a nova vida de liberdade, o sinal da presença de Cristo.

Letty M. Russell, Church in the Round:
Feminist Interpretation of the Church, 1993

15 junho 2007

Trindade II - 17 de Junho de 2007

I Reis 21.1-10 (11-14), 15-21a
Salmo 5.1-8
Gálatas 2.15-21
São Lucas 7.36 - 8.3


Outro Ponto de Vista

Aqui, (I Reis, capítulos 16-21)... a sexualidade é tecida numa temática bem maior, como um tapete de gênero, poder, perdão e idolatria... Uma compreensão melhor desta rainha poderosa (Jezabel), deve levar em conta tanto o seu próprio contexto social, bem como a polêmica teológica bíblica... na condição de princesa fenícia... ela estava acostumada à privilégios reais, desacostumada com os impulsos mais democráticos da cultura Israelita, onde se considerava que a terra dada a cada família israelita era dom de Yahweh mesmo, bem mais que concessão do rei. Daí a resposta brutal à recusa de Nabote em vender sua vinha... compreendida, de seu ponto de vista, como resposta real apropriada à insubordinação, em contraste com a inaceitável fraqueza de Acabe enquanto líder."
Claudia V. Camp, I and II Kings - The Women's Bible Commentary



Um encontro bem pastoral


Dom Renato Raatz fala aos alunos


Dom Renato Raatz, Diocesano de Pelotas,
palestrante especial sobre a vocação ao Ministério Ordenado



Eucaristia, o centro da vida da casa



Comunhão da família SETEK



Jacinto e Joaquim, estudantes Angolanos


Mais um aniversário da Educação Teológica na IEAB.
15 de Junho, festa em lembrança de Evelyn Underhill, teóloga leiga anglicana, mística, falecida neste dia, em 1941, lembrada como "madrinha do Seminário". A data é significativa pelos 104 anos "do Seminário" e tem como marca de identidade o nome e a vocação mesma de Underhill.
O texto a seguir foi lido e distribuido aos presentes na celebração da Santa Eucaristia.

ADORAÇÃO


"A adoração em todas as suas formas é a resposta da criatura ao Eterno; nós nem precisamos delimitar esta definição à esfera humana. Há um sentido em que podemos pensar da vida do universo inteiro, visível e invisível, consciente e inconsciente, como um ato de adoração, glorificando sua Origem, seu Sustentador e seu Fim. É só em um contexto assim que podemos começar a compreender a emergência e o crescimento do espírito da adoração nos seres humanos, ou a influência que ela exerce sobre suas atividades. A adoração pode ser encoberta ou direta, consciente ou inconsciente. Se consciente, seu colorido emocional pode passar do medo à reverência, chegando ao amor que se doa completamente.. Mas quaisquer que as suas formas de expressão possam ser, é sempre uma relação sujeito-objeto; e sua existência constitui uma forte crítica à todas as explicações imanentes da Realidade.

A adoração é o reconhecimento da Transcendência; quer dizer, da Realidade independente do adorador, o que é mais ou menos profundamente... colorido pelo mistério... que aí já chegou primeiro.
Assim, tomamos muito a sério esta coisa estranha que é a Adoração, dando-lhe o status que merece, dentre as diversas respostas dos humanos ao ambiente. Descobrimos que ela nos obriga a assumir uma atitude para com o ambiente. Mesmo em sua forma mais crua, a lei da oração - na verdade, o fato da oração - é já a lei da fé.

A vida de oração do cristão, embora profundamente pessoal, é essencialmente a vida da pessoa que é também parte de um grupo... O cristão não pode cumprir com seu dever espiritual na solidão. Ele é parte de um complexo social e espiritual por sua nova relação com Deus... mesmo sua contemplação mais solitária não é matéria simplesmente individual; a adoração deve ser sempre tida em sua relação com o propósito e a ação de Deus que a incita, bem como à vida total da Igreja.

A liturgia cristã - tomando a palavra em seu sentido mais geral - é a incorporação artística desta vida social e também pessoal. Aqui, não estamos preocupados com suas origens históricas, suas implicações doutrinais, ou com as formas principais que assumiu em seu desenvolvimento; a nós concerne agora sua existência aqui, aqui e agora, seu valor e sentido como o cenário ordenado da adoração incorporada da Igreja, a mediação clásssica pela qual a incessante ação adorante da Noiva de Cristo recebe expressão visível e audível, passada e presente, abrindo-se à história, mas sempre com Deus, atuando como cenário da adoração cristã; não se trata pois de um pobre esboço que a alma de alguém, ou mesmo de um grupo, seja capaz de fazer."


Trecho do livro
Adoração, publicado em 1936 Como disse um dos seus editores, "os textos de Evelyn Underhill conseguem, poderosamente, iluminar os cantos escuros da alma em sua busca, através da oração, da do Deus Todo PoderosoMajestade e Mistério."

08 junho 2007

Trindade I - 10 de Junho de 2007

I Reis 17.8-16 (17-24)
Salmo 146
Gálatas 1.11-24
São Lucas 7.11-17

Ressurreição e Fé
Não conseguimos compreender exatamente o que a Ressurreição é; devemos nela viver pela fé. Contudo, o Novo Testamento está cheio de analogias para realidades que somente podemos conhecer pela fé: parábolas sobre a compaixão de Deus, imagens de banquetes que sugerem a qualidade do reino de Deus, metáforas de plantio e colheita para descrever - transformação. O Apocalipse ensina através de imagens e símbolos; ele vem ao nosso encontro como imaginação. Os símbolos nos alcançam sentido e, ao mesmo tempo, preservam o contexto de mistério. São transparentes ao divino. É importante lembrar disto, pois é o que nos libera para imaginar o que a Ressurreição poderia ser, sabendo que a Escritura jamais pode plenamente descrevê-la ou, literalmente, acompanhá-la. Nesta área, como em todas as demais, vivemos por analogia.
A imaginação é especialmente importante quando lidamos com o paradoxo corpo / espírito, pois é ela que abarca a diferença entre matéria e espírito, unindo-os em um ato único de experiência e conhecimento. Ela nos alerta para a poesia que encontramos no mundo material.
Kathleen Fischer, Moving On: A Spiritual Journey for Women of Maturity



Sentimento de Pais

O que é mesmo que faz com que a morte de uma criança seja tão indescritivelmente dolorosa? Sepultei meu pai e foi muito doloroso. Mas nada é como isto. É de se esperar que sepultemos nossos pais; mas não esperamos - não, em nossos dias - sepultar um filho. O sepultamento de uma criança e um horrorosa alteração de expectativa.

Mas é mais que isto. Sinto muito mais, mas não consigo explicar. Uma criança vem ao mundo sem meios de sustento. Imediatamente nós, pais, damos de nós mesmos. Tomamos para nós mesmos o cuidado amoroso de permanecer com a criança... o caminho todo, até que tenha seu próprio futuro, um futuro em poderemos alegrar-nos com seus triunfos e entristecer-nos com suas dificuldades. Há nossos planos, esperanças e medos por ela. O futuro que abracei como meu mesmo foi destruído. Escapou de meus braços. Por vinte e cinco anos eu o guardei, sustentei e encorajei com minhas próprias mãos, ajudando a crescer para que se tornasse um homem por si mesmo. Ele então me escapou e foi perdido.

David Lockwood, Love and Let Go


África do Sul - Março 2007


TEAM (Por Uma Missão Anglicana Efetiva)

Chamamento para a Comunhão Anglicana

De 7 até 14 de Março próximo passado, tendo como hospedeira a Província Anglicana da África do Sul, sob a presidência Arcebispo Njongonkulu Ndungane, tendo ao lado o próprio Arcebispo de Cantuária, a grande maioria das províncias anglicanas do mundo esteve reunida, através de seus representantes e especialmente, por networks como o de Justiça e Paz. O propósito foi o de responder ao chamado do testemunho profético, necessidade de desenvolvimento social e enfrentamento do drama do HIV e AIDS.

Na véspera do final da Consulta o Plenário reunido trabalhou as Recomendações abaixo listadas para a Comunhão como um todo. Uma primeira marca de qualidade foi claramente expressa: com respeito a estes desafios, mais que o vocabulário dos Alvos de Desenvolvimento do Milênio, das Nações Unidas, precisamos falar com nosso próprio vocabulário como Igreja, mesmo que corramos um risco a mais.

1 - Fome e Empobrecimento: Perceber o uso dos alimentos como arma e ferramenta de opressão e alienação. Tratar do problema dos alimentos como fonte de sáude e não a serviço de indicadores econômicos ou políticos. A questão alimentar não deve ainda ser considerada como indicadora de "desenvolvimento" econômico mas como sinal vital de vida sustentável. Buscar a necessidade e ou possibilidade da criação de bancos de sementes.

2 - Educação: O binômio Igreja / Escola. Muito maior atenção para a educação básica, qualificação de professores e disponibilidade de bolsas de estudo.

3 - Igualdade de Gênero: Por seu testemunho a Igreja deve dispor de boas lições para a juventude. A ordenação de mulheres e também sua liderança na vida plena da Igreja são um chamamento a ser ainda melhor respondido.

4 - Redução da Mortalidade Infantil: Atenção muito especial às crianças recém nascidas e não menos no acompanhamento de seus primeiros anos de vida.

5 - Melhoria visível nas condições de acompanhamento e cuidado na maternidade. Nesta área, assim como em muitas outras, já que a Igreja conta com grupos de mulheres, deve contar também com a formação e participação responsável de grupos de homens.

6 - Combate HIV / AIDS. Incluir aí as enfermidades "oportunistas" como a tuberculose e outras. A malária ainda faz parte desta preocupação. A Igreja deve prestar acompanhamento pastoral tanto aos infectados como aos familiares não menos afetados!

7 - Cooperar e educar no sentido da sustentabilidade do Ambiente. Responsabilidade em todos os níveis de vida, local, nacional e planetária.

8 - Construção e fortalecimento de parcerias, das Igrejas umas com as outras e também com NGOs e associações voluntárias de serviços.

9 - Percepção e Redução dos Conflitos não só étnicos mas também na própria população nacional. Descobrir os "refugiados" de classe... da sociedade de cada dia.

10 - Proteção dos Direitos da Criança e Preservação da Vida dos Jovens.


CHAMADOS À AÇÃO

(Estratégias de Ação para todas as Províncias)

1 - Todas as Províncias deverão propor Planos de Ação segundo as preocupações acima listadas. Serão Estratégias de Desenvolvimento para cada uma e para todas as Províncias. Há uma data que precisa ser considerada decisiva: O Plenário decidiu-se por 07/07 de 2007. Temos, pois, um prazo já menor que um mês. O Plano de Ação de cada Província deve propor passos tangíveis e resultados verificáveis!

2 - Empenhar-se, quanto possível, em termos de advocacia e defesa, com as demais Igrejas, NGOs e agências de solidariedade e comunidade.

3 - Monitoração: A Comunhão deverá propor-se um Processo de Avaliação e Revisão dos passos alcançados ou ainda não... Todo este conjunto deve ser encarado somente como um início. Mas todas as iniciativas e ações devem começar no nível local (paroquial - diocesano e provincial), segundo a data limite.

O texto acima resulta das anotações do primeiro esboço feito em Plenário, traduzido pelo representante brasileiro no Peace and Justice Network da Comunhão Anglicana, na tarde de 13 de Março de 2007.

01 junho 2007

Domingo da Santíssima Trindade - 3 de Junho de 2007

Provérbios 8.1-4, 22-31
Salmo 8
Carta aos Romanos 5.1-5
São João 16. 12-15
Na Rotina de Cada Dia
Para os místicos, toda oração e meditação conduzem a uma compreensão e mergulho ainda mais profundos na vida da Trindade, vendo-a refletida no mundo criado, participando da vida comum e cotidiana. Por duas vezes me foi dado perceber esta experiência como num relance. Ambas as oportunidades ocorreram em ocasiões muito improváveis. A primeira, durante uma refeição ao ar livre numa fazenda, em meio as festividades em atenção a uma senhora francesa idosa. Estávamos reunidos quando subitamente, sem qualquer aviso, passou-se à conversa sobre a Trindade de Deus, sua significação e lugar na vida e na fé. A segunda ocasião, aconteceu no campus da Universidade de Manchester. Ao longo da viagem, pela estrada de Oxford, meu companheiro, sacerdote, também inesperadamente falou sobre sua compreensão da Trindade e como ele formara e dirigira seu próprio trabalho pastoral e vida espiritual... Ambas as experiências me alcançaram uma impressão muito forte, percebendo que a Trindade não está inescapavalmente além do horizonte humano, mas toca nosso existir em todos os seus cantos mais distantes.
John Harriot, The Empire of the Heart


Escultura de São Domingos de Silos, 1150
Figuras de Deus, Dominique Ponnau, UNESP
Arte de Paula K.Suzuki
A Força do Mal

Visitei um campo de refugiados chamado Jalazon, na West bank ocupada da Palestina. Aí, nas condições repressivas mais rígidas, perto de 6.000 pessoas tentavam manter alguma vida familiar e comunitária apesar de todas as adversidades. Passamos a tarde visitando uma creche e o centro de acolhida para mulheres. Caminhamos pelas ruas, impressionados pela visão das casas arrazadas pelos gigantescos Caterpillar ou simplesmente lacradas aos seus antigos moradores. Fomos convidados para a residência de uma mulher cujo filho de 13 anos de idade fora morto pelos militares. Éramos dez pessoas, sentadas naquela moradia pobre e desprovida de quase tudo. Mas mesmo aí, o dever da hospitalidade precisava ser observado. Notei as garrafas de limonada sendo passadas através da janela que estava atrás de mim e, em poucos minutos todos nós fomos graciosamente servidos com a bebida refrescante. Bebíamos nossos refrescos em um dia particularmente quente e poeirento quando, subitamente, ouvimos uma assustadora explosão, imediatamente seguida por outra. Um minuto mais tarde, um homem idoso correu para a casa sufocado e soluçando. Foi então que o gás lacrimejante começou a infiltrar-se em nossa peça da casa, fazendo-nos tossir, lacrimejar com olhos ardendo e finalmente correr. Deixamos os copos e buscamos uma outra peça mais no interior da pobre moradia. Mesmo assim, tivemos que correr para fora dela e retornar ao nosso carro, justo quando uma patrulha armada do exército descia a colina em nossa direção. O momento foi confuso. A experiência de hospitalidade e partilha da dor foi destroçado, e as mulheres que nos recebiam se sentiram, ao mesmo tempo, assutadas e constrangidas - em atenção à nós - porque, para elas, a opressão era uma ocorrência regular. Um momento de graça terminava em terror e confusão. Eu o experimentei como um momento literalmente diabólico, um momento em que tudo dasabou. É assim que reconhecemos a força do mal no mundo - simplesmente destruindo tudo.
Kathy Galloway, Getting Personal: Sermons and Meditations