26 dezembro 2008

27 de Dezembro de 2008 • Natal do Senhor I

Leituras
Livro de Eclesiástico 3.2-6, 12-14
Salmo 147
Carta aos Colossenses 3.12-21
Evangelho de São Lucas 2.22-40

Maria e o nascimento do Senhor

O nascimento virginal, como a Igreja ensina, será mesmo parte de nossa fé cristã? Esta é uma pergunta oportuna no tempo em que celebramos o nascimento de Jesus. Quando estivemos, na Eucaristia do Natal, dissemos estas palavras: “ ... e encarnou, por obra do Espírito Santo, da Virgem Maria.” Quando rezamos assim, estamos mesmo significando o anúncio da Igreja ou trata-se só de um pedacinho do Credo pelo qual passamos sem muita atenção? Em outras palavras: cremos mesmo que o nascimento virginal é parte necessária de nossa fé? Já houve um bocado de grandes nomes da teologia e de outros cristãos que afirmaram não ver no nascimento virginal um componente necessário da Fé Cristã. Estritamente falando eles podem estar “certos” no sentido de que nossa fé no Senhor Jesus não depende do nascimento virginal e sim da Ressurreição. A base da pregação e ensino apostólico sempre foi o anúncio da Ressurreição do Senhor. O nascimento de Jesus nem aparece, por exemplo, no Livro de Atos dos Apóstolos. O ponto central de nossa fé reside no evento da Páscoa.
De qualquer forma, o ensino sobre o nascimento virginal sempre foi uma tradição solene, forte, séria e inspiradora da Encarnação, central para a fé e a teologia Anglicanas. É o que designamos como um dos mistérios divinos. Deus se relaciona com a ordem criada sob formas que somente compreendemos em parte. Quando o santo Espírito de Deus vem sobre nós mesmos, somos efetivamente transformados! Por vezes somos até maravilhosamente curados! Muitas outras coisas formidáveis Deus opera em nossas vidas quando estamos em comunhão com Ele. Por que seria diferente com a menina Maria?
O encontro de nossa Senhora com o anjo Gabriel é um dos instantes mais encantadores em que vemos Deus tocar o mundo de forma tão especial. Ele não estava agindo contra as leis da natureza mas atuava com a ordem natural sob uma forma que ia ao encontro da resposta maravilhosa da adolescente Maria. Deus chamou Maria para ser instrumento da vinda do Ungido de Deus (o Cristo).
Quando Maria respondeu, ela foi também poderosamente tocada por Deus. Assim, a segunda Pessoa da Bendita Trindade foi nela concebida como ser humano.
O nascimento virginal é parte de nossa fé e nós o acolhemos com alegria e encanto. Não necessitamos de qualquer análise “científica”. Deus atuou e veio dentre nós de forma única como o fez em Jesus nosso Senhor. Igualmente de forma maravilhosa e misteriosa, Deus continua a vir até nós sob as formas de pão e vinho, quando recebemos o Corpo e Sangue de Cristo na Santa Eucaristia. O que verdadeiramente importa é que nós, com a Bem-Aventurada Virgem Maria, entremos em comunhão com Deus. Ele sempre anseia em partilhar seu amor e exuberância de vida conosco.
Rezemos para que todos os que lerem este texto tenham também um Santo Natal, um nascimento transformador em suas vidas.

21 dezembro 2008

21 de Dezembro de 2008 • Advento IV

Leituras

II Samuel 7.1-5, 8-11, 16
Carta aos Romanos 16.25-27
Evangelho de São Lucas 1. 26-3




Os Anjos, o Advento, o Natal e a Epifania

Nas leituras desta época do ano os Anjos do Senhor andam muito ocupados. Um deles visita Zacarias e diz que sua esposa teria uma criança. Outro aparece ainda à Maria, José, aos pastores e aos magos. Os anjos também apareceram a Moisés na sarça ardente; à Agar, a mãe de Ismael; e a Abraão quando preparava o sacrifício de seu filho Isaque. Jacó luta com anjo. Uma experiência devocional séria talvez fosse convidar pessoas da sua congregação que tivessem algum relato semelhante de visitação. Aquilo que pode parecer uma “reunião” bem breve (com escassos experiências...), pode bem acabar por se tornar um bom ciclo de relatos de visitações. É possível que o “tema” pareça piegas ou do gênero da bobice “new age”. Mas a Fé Cristã, com maturidade e inteligência, acolhe a presença dos anjos não só nos relatos bíblicos do passado mas na vida pessoal dos crentes em cada geração. Qual seria o seu relato da visitação de um anjo? O que teria feito com que o anjo o / a visitasse? O que foi que seu anjo disse? Estas são perguntas devocionais que vale aprofundar no tempo que já estamos vivendo, antes e depois do Natal do Senhor. Rezar é crucial para nós, o tempo todo. Mas o tempo do Advento é uma oportunidade muito especial para que se reúnam pequenos grupos (ou em família) para que se amadureça na busca de Deus. O exercício devocional que referimos antes pode ser uma ocasião de crescimento e comunhão justamente agora quando nos preparamos esperando pela vinda do bem mais valioso! Se você entende que a intensidade do esforço ou a pequenez de sua fé são mpedimentos, recorde que o Deus Altíssimo vem à nós como um nenê. Isto não é só surpreendente. É também perigoso! Os nenês, afinal são fracos, incapazes de se defender, necessitam de cuidados e, não devemos esquecer, não conseguem dizer muita coisa! O hino 20, Pequena Vila de Belém, composto pelo Revdo. Philip Brooks, mais tarde Bispo de Massachusetss, foi pela primeira vez cantado no Natal de 1868. A terceira estrofe nos ensina assim: “...sereno e sem alarme, vem Ele ao mundo assim, trazendo aos homens
redenção, amor e paz sem fim.” Sereno e sem alarme!

14 dezembro 2008

14 de Dezembro de 2008 • Advento III

Leituras
Isaías 61.1-2, 10-11
Salmo 126
I Tessalonicenses 5.16-24
S. João 1.6-8, 19-28



Advento


O Advento desmantela o nosso mundinho arrumado por conveniência pessoal e nos prepara para um mundo radicalmente maior que é o universo do amor de Deus. O Natal de Jesus é o melhor sinal destas coisas. O Advento não é um tempo para disfarces. Nele, o que está oculto deve vir à luz. É tempo de tremor. Ele nos envolve como que numa espécie de terremoto, sacudindo os padrões nem sempre verdadeiros ou maduros que dominam a experiência humana. Esta a razão porque as leituras dos domingos nos sugerem transformação e apocalipse. É como se o Advento fosse um tempo de demolição, de preparação do terreno para a construção do que é genuinamente novo. No calendário da Igreja do Ocidente ainda antes do século VI, o Advento parece ter-se desenvolvido como um tempo preparatório e então, penitencial, enraizado no ensino da esperança. O Advento participa assim da visão bíblica do arrependimento e da esperança, particularmente na figura de João, o Batista, rudemente pregando pelos caminhos do deserto, clamando por contrição e batizando os que se prontificavam a esperar pela Soberania de Deus. Enquanto os mensageiros trazem até João a resposta de Jesus, o Mestre se volta para os presentes e inicia uma revelação apaixonada que antecipa o que lhe passa pela mente naquela hora crítica. Jesus começa por mostrar a importância do papel do João na economia de Deus. Diz ele que João é o maior dentre os nascidos de mulher e que com ele a era profética se encerrava e um tempo novo se abria. Jesus sabe que no Reino do Pai há um só que é grande, Ele mesmo, ainda se sinte ainda menor que João numa escala popular de valores, alguém que voluntariamente aceita o papel mais humilde (São Lucas 22.25-27), mas que em breve será revelado como o Filho do Homem em poder. Tudo isto nos empurra a pensar melhor sobre nossas vidas como cristãos. Nelas, também nossas atitudes. Pensando sério, não podemos evitar de refletir sobre o impacto das atitudes em nossas vidas. Elas talvez sejam até mais importantes que os fatos. Mais importantes que o passado, que a educação, que o dinheiro, que as circunstâncias, que os fracassos, que os sucessos e do que os outros pensam ou dizem. São até mais importantes que as aparências, que os nossos dons e habilidades.
Nossas atitudes podem quebrar uma comunidade, a igreja e a família. Mas o que há de encorajador é que Deus nos dá a oportunidade de considerar as atitudes que tomaremos no dia. Não podemos mudar o passado. Não podemos mudar o fato de que as pessoas agirão de um certo modo. Não podemos mudar o inevitável. A única coisa que podemos efetivamente é tocar a única corda de que dispomos... nossa atitude. A vida talvez seja 10% do que nos acontece e 90% de como a ela respondemos. Neste tempo do Advento, de terremoto nos nossos padrões e revelação das coisas que só Deus conhece, rezar mais sobre nossas atitudes é também um exercício penitencial.

07 dezembro 2008

7 de Dezembro de 2008 • Advento II

Leituras
Isaías 40.1-5, 9-11
Salmo 85
II Carta de S. Pedro 3.8-14
S. Marcos 1.1-8


Esperando pela Vinda

“Advento” significa “vinda”, em Latim. É a primeira estação do Ano Cristão e tem quatro domingos. A coroa do Advento, um círculo como coroa, verde, com 4 velas, uma para cada domingo ou, conforme uso mais recente, com uma quinta vela no centro, parta a festa mesma do Natal. Nesta quadra, o Glória e outros hinos de louvor devem ser omitidos e a Igreja se move para a Oração Eucarística II que enfatiza mais a Encarnação (Cristo plenamente humano e plenamente divino). Durante estas semanas todas nós nos preparamos, corações e mentes para celebrar com plenitude a festa do Santo Natal do Senhor. Lembremos que não se trata do dia 25 somente mas do período que vai de 25 de Dezembro até 5 de Janeiro. É um tempo em que olhamos para o primeiro Natal e aguardamos, confiantes, a Segunda Vinda. É um tempo de preparação, expectativa, espera, zelo, compaixão, solidariedade e esperança. Não menos importante é que as crianças sejam instruídas a perceberem a distinção entre o tempo do Advento e o tempo do Natal. O comércio tornou isso muito difícil mas, por isso mesmo é ainda mais necessário! As crianças (e ao adultos não menos!) precisam aprender que este é muito mais que um
tempo para compras... O Advento é um tempo para reconciliação e perdão, tempo para servir e alcançar àqueles a quem talvez tenhamos magoado. É tempo para ser luz na escuridão. É tempo para refletir e continuar nossa jornada com Jesus Cristo, Senhor das nossas vidas. Embora a oração seja crucial em todos os momentos, o Advento é uma oportunidade especial para que nos ofereçamos ao serviço de Pai.
Austin Farrer é o nome de um Anglicano que temos citado semanalmente no blog do SETEK (www.setek-setek.blogspot.com). Farrer foi um dos grandes “divines” no meio do século XX, professor em Oxford, teólogo, filósofo, capelão, além de ser pároco e amigo de outro nome não menos conhecido como o de C. S. Lewis. Seus sermões são uma mistura única de clareza teológica, qualidade literária e realismo prático. Em um destes (Fish out of the Water, 1960) ou, “Peixe fora d’água”, ele nos aconselha sobre a preparação para a Santa Comunhão: “É difícil prepararnos para a Comunhão já que não é fácil encarar a verdade. Mas não é complicado demais nem enigmático. Você deve simplesmente aceitar aquilo que sabe que Deus exige de você, além de renunciar ao que você sabe que ele proíbe... e arrepender-se. Lembre de algo pelo qual deve dar graças e alguém por quem rezar... e assim você terá sua preparação.” Não poderíamos fazer nada melhor neste Advento que seguir o conselho de Austin Farrer.