26 abril 2009

26 de Abril de 2009 • Páscoa III

Leituras do Domingo
Atos dos Apóstolos 3.13-15, 17-19.
I Carta de São João 2.1-5.
Evangelho de São Lucas 24.35-48.






Ovos de Chocolate e Jesus Ressuscitado!

O teólogo leigo Anglicano C. S. Lewis contava de uma criança que na manhã da Páscoa dizia baixinho para si mesma, “Ovos de chocolate e Jesus ressuscitado!” Parece uma combinação maluca, quase sacrílega aos ouvidos de adultos... mas ela é verdadeira. Qualquer separação entre um mundo sagrado e o assim chamado profano, aos olhos da fé cristã, não se sustenta. A alegria da vitória da Páscoa se expressa na mente da criança através dos ovos de chocolate e da “notícia” de Jesus Ressuscitado. Recordemos sempre o quanto estão perto e interligados os céus e a terra na mente das crianças. Talvez isso ajude muito mais que outras dicotomias equivocadas que praticamos (como corpo e alma, material e “espiritual”!). Conservamos ou cultivamos muitas categorias falsas em nossas mentes de adultos “esclarecidos”! Devemos aprender a permitir que tudo da vida, mesmo fraldas e disciplina, sejam entremeadas com o céu que está sempre presente, especialmente nas crises e dores. Quem sabe, poderemos então ver nossa condição de pais não como “armadilha”, ou como fardo, e olhemos para nossa própria casa, confusa, selvagem ou a seu modo... maluca ... como um dom do céu, lugar santo da Presença do Senhor. Bem no centro de nossas vidas, “melhor ou pior a sorte”, o Cristo é agora, e será sempre, a Ressurreição e a Vida, capaz de nos reerguer de toda forma de desesperança, fraqueza, pecado e desespero.

19 abril 2009

19 de Abril de 2009 • Páscoa II

Leituras de Domingo
Livro de Atos dos Apóstolos 2.32-35.
I Carta da São João 5.1-6.
Evangelho de São João 20.10-31



Vivendo pela bênção da Ressurreição


As formulas do LOC para a Eucaristia reconhecem a necessidade de transformação continuada pelo dom mesmo desta qualidade de existir. A vida ressuscitada é promessa do Pai através da Ressurreição de Jesus. Contudo, embora a clareza da bênção final na celebração da eucarística, as bênçãos que nos chamam a uma mudança pela vida toda são visíveis já bem no centro e no coração da santa liturgia. Recordando, (atualizando), o amor de Deus que nos foi dado a conhecer pelo dom de Cristo, o pão e o vinho são consagrados – abençoados – para que sejam para nós o Corpo e o Sangue do Senhor. No entanto, por mais familiar que nos seja o reconhecimento desta bênção, há ainda outra lembrança. Nela, e por ela, nos ofertamos diante do altar, assim como fazemos com o pão e vinho, “que sejamos aceitáveis por Ele, sendo santificados pelo Espírito Santo...” diz um dos ritos. No outro, (Rito I)... a oração parece mais complexa mas pode ser ainda mais esclarecedora. Dizemos então... “E aqui te apresentamos, ó Senhor, a oferta de nós mesmos. E humildemente suplicamos que aceites este nosso sacrifício de louvor e ação de graças, e te dignes abençoar e santificar com teu Espírito Santo a este Pão e Vinho, para que nós, revestidos de tua graça e bênção celestial, sejamos unidos, com Cristo em tua Santa Igreja...” O chamamento nos convoca a acolher a bênção que requer nos ofertemos a nós mesmos. Assim, tentando nossa pobre obediência, a bênção mesma nos guiará, como o fez com Cristo, pelo caminho da Cruz à vida da Graça. Então, não estaremos somente “recebendo uma bênção” e seremos, nós mesmos, bênção para outros.

10 abril 2009

Quadra da Páscoa do Senhor, 2009

Carta Pastoral da Câmara dos Bispos ao povo de Deus na IEAB

Eis que dois deles viajavam nesse mesmo dia para um povoado chamado Emaús, próximo de Jerusalém; e conversavam sobre todos esses acontecimentos. Ora, enquanto conversavam e discutiam entre si, o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles; seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo... E eles pararam, com o rosto sombrio...”
Evangelho de São Lucas 24. 13-17.

Como disse alguém, - um dia, nós também nos descobriremos no caminho de Emaús. Em verdade, muitas vezes nós temos cantado: “Pelo vale escuro segurei, Jesus... breve a noite desce, noite de Emaús...” Hino 258. De fato, o “estranho” foi reconhecido mas sua presença logo se dissipou dos olhos dos discípulos. A jornada, a conversação e a revelação foram benditas, inesperadas, tocantes e verdadeiras.
Esta, talvez, se pode dizer, é em muitos momentos nos últimos anos nossa experiência como eclesianos da IEAB, como cidadãos de nosso país e, não menos, na lembrança de nossa própria vida pessoal e familiar... “com o rosto sombrio.”
Como brasileiros sofremos pela corrupção disseminada e quase sempre impune. “A miséria só existe porque tem corrupção” canta Gabriel o Pensador. Amarguramos as condições contraditórias de uma realidade social que poderia ser muito diferente, justa, saudável e promissora. Milhões de famílias brasileiras sofrem o “apartheid” de classe que bem conhecemos. Nossos jovens anseiam por oportunidades que talvez, injustamente, nunca venham a ter. A realidade política se mostra mais e mais decepcionante. Nas últimas décadas, os mesmos nomes de políticos profissionais mais que reprováveis não só são reeleitos mas agravam a saúde de um processo democrático que poderia ser nossa força como cidadãos. Saúde e educação, o binômio inarredável para a população toda e sua dignidade, têm cedido espaço para a propaganda esperta e a impostura oficial. Andamos, como diz São Lucas, “com o rosto sombrio”.
Na vida da IEAB, suas dioceses e paróquias, temos também sofrido a perplexidade diante de tropeços em nosso ser e agir. São, não menos, adversidades que se abatem, semelhantemente, sobre outras tradições eclesiais. A escassez de recursos não parece ser a causa primeira para explicar uma condição dramática mas gravemente conspira para o enfrentamento dos obstáculos. De qualquer forma, “com o rosto sombrio”...nós nos sabemos no caminho de Emaús. Reunidos como Câmara dos Bispos, ouvimos relatos doloridos mas, ao mesmo tempo, nos alegramos com a partilha de inúmeras situações de Boas Novas que o Pai tem proporcionado nas várias dioceses. O povo da Deus na IEAB tem amadurecida a sua fé ainda que em meio a tempos de tristeza ou novidade de vida. Os Bispos agradecem a Deus pela voz e sabedoria dos leigos ouvidas na reunião da Câmara. O caminho de Emaús se confirma assim, neste tempo da Ressurreição, como a força de vida transformada de que tanto necessitamos. A tristeza não usa máscaras e talvez por isso nos abale e reforce tanto, não por nossa própria coragem mas pela presença bendita do Ressuscitado andando conosco.
As adversidades e o sofrimento agem como uma escola pela qual aprendemos a ver e compreender coisas que antes não entendíamos. Através das crises rezamos um discernimento mais adulto na experiência da fé. Pelo caminho da Cruz , cativados pelo Crucificado, somos sustentados na comunhão e esperança a nós revelada como povo de Deus, na visão do Cristo no meio de nós. Contudo, fé antiga da Igreja, herdada de nossos pais, necessita testemunhar também às situações contemporâneas de indiferença, injustiças, desesperanças, empobrecimento e anseio de muito mais vida. O tempo da Páscoa nos recorda que não ficamos órfãos. Não estamos sós. A Igreja não somos nós mas Deus conosco! O sentido mesmo da fé na Ressurreição nos significa concretamente que as mudanças devem ou podem acontecer. É pela luz da Presença do Ressuscitado no meio de nós que nos sentimos capazes de mudar e transformar. A rejeição e a morte não têm a última palavra. O Senhor Ressuscitado é princípio de vida abundante, corajosa e restauradora. É pela luz da Páscoa do Senhor que vemos com mais clareza nossas estruturas como Igreja de Deus. Amamos a muitas delas. Reconhecemos que elas necessitam de cura e de novas formas. Amamos a Igreja ainda muito mais mas não a confundimos com estruturas que devem ficar em seu próprio tempo. Muitas destas formas já não mais falam à nossa geração e às condições de vida de nosso povo. É aí que a adoração reaparece como o fato mais central da vida e da fé. Sem a adoração primeiro, nem mesmo a missão se justifica.
Devemos com urgência abrir mão de muito do nosso ruidoso interior, medroso do silêncio. Pela quietude e pelo silêncio, na escuta da sabedoria do Pai, começando na vida de piedade pessoal, envolvendo não menos a ação litúrgica e a prática pastoral, vislumbraremos, como em Emaús, o semblante do Ressuscitado a nos encorajar. A IEAB inteira, começando por seus Bispos, todo clero “e as congregações confiadas aos seus cuidados”, no tempo da Páscoa da Ressurreição é gravemente interpelada pela oportunidade de metanoia, de vida radicalmente nova e de testemunho na Missão.
O mistério da Ressurreição de Jesus, transformador de tantas gerações antes de nós, hoje nos interpela e pacientemente revela caminhos e oportunidades novas. A Páscoa nos chama a provar do fermento santo de vida ressuscitada. Pela participação nos santos mistérios do Pão e do Vinho recebemos o dom do perdão e da emenda de vida.
Reunidos em Porto Alegre de 30 de Março até 3 de Abril, os Bispos da IEAB, antecipando a semana da Paixão do Senhor, rezaram e intercederam por nossa restauração como povo pascal, vencendo a morte, anunciando a esperança, semeando encorajamento e suplicando pela redescoberta pessoal e eclesial daquilo que o Cristo de Emaús nos ensina e revela.

“Não há dor que seja sem divino fim; Faze, ó Deus, que a Igreja compreenda assim, e, apesar das trevas, possa ver, Senhor, que Tu mesmo a levas, com imenso amor.”
(Hino 258)

Nota: A Câmara dos Bispos, reunida em POA de 30 de Março / 3 do corrente decidiu, por unanimidade, pospor a realização da reunião do Sínodo Geral e da Confelider em razão da comemoração, em 2010, do 120º Aniversário da IEAB ( e da lembrança dos 200 anos de presença da Capelania Britânica no Brasil). Esta transferência, além de permitir melhor preparação para os eventos e sua celebração, concederá ainda mais tempo para a atual coleta e exame de dados já em andamento. É também possível que o Arcebispo de Cantuária, Sua Graça o Arcebispo Rowan Williams, possa estar conosco em ocasião tão especial, lado a lado com outros convidados e visitantes por nós esperados.

05 abril 2009

5 de Abril de 2009 • Domingo da Paixão do Senhor

Leituras do Domingo
Profecia de Isaías 50.4-7
Salmo 118.19-29
Carta aos Filipenses 2.6-11
Evangelho de São Marcos 14.1-15, 47.

A Procissão das Palmas

A procissão das palmas é oportunidade para se testemunhar à comunidade local mais “vizinha” da paróquia ou capela; é uma oportunidade para “dançar” com toda a nossa expressão e certeza da vitória da Ressurreição do Senhor. Assim o rei Davi fez ao ver a arca da aliança ser transportada em Jerusalém. Pode-se sugerir à congregação que use vestuário de cores alegres e até mesmo instrumentos de percussão (feitos em casa!) . As palmas ou ramos (sem corte destrutivo de plantas), deverão estar também presentes e agitadas como se fossem bandeiras. Se houver música acompanhando a procissão, ou canto, algum momento de ensaio deve ser feito durante a semana. O trajeto deverá ser o razoavelmente mais “envolvente” possível na vizinhança. Não há necessidade de livros ou hinários já que o canto deve ser de fácil memorização. Alguém pode julgar a procissão como “muito” diferente mas, de qualquer forma, não será irreverente! Assim como a mulher “gastou” um creme caro e raro para os pés de Jesus, mostrando sua “adoração”, da mesma forma devemos ter momentos em que movemos nossos corpos (caminhando ou dançando) em adoração também. É expressão física da fé enraizada em nossos corações e nossas mentes. É adoração devida ao rei que se encaminha a Jerusalém para nos assegurar a salvação. Um ritmo básico para a procissão pode incluir... caminhar juntos, parar por segundos e retomar a caminhada. A congregação deve ser encorajada a alguma improvisação comedida, trocando as pessoas de posição ou batendo palmas, por exemplo. Além disso, não se pode esquecer de agitar as palmas. O canto escolhido, de alguma forma, deve recordarnos daquele em louvor de quem caminhamos.