24 fevereiro 2011

UM OLHAR ANGLICANO SOBRE A TRÍPLICE ORDEM MINISTERIAL E A QUESTÃO DA AUTORIDADE

Pe. Enrique Illarze, oasb, é presbítero anglicano, beneditino,
teólogo liturgista, especialista em Espaço Litúrgico e Arte
Sacra, e Pároco em Porto Alegre.


Este capítulo tenta apresentar a tríplice ordem ministerial e a questão da autoridade a ela conexa dentro da Igreja Anglicana. Para isso, a questão levantada é colocada no grande marco referencial da Religião em geral para depois entrar no Cristianismo e na visão anglicana. O caminho escolhido para isso é o caminho da inter-disciplinariedade. Portanto, auxílios da Fenomenologia das Religiões, da História, e da Sociologia foram utilizados para iluminar a reflexão teológica sobre o tema, ciente de que todo o saber é inter-relacionado com outros ramos do saber humano. As limitações de espaço impediram um maior aprofundamento, especialmente nos séculos XVIII e XIX (o que lamentamos) e uma comparação com outras vertentes cristãs do ecumenismo do século XX, que teríamos gostado de analisar, para completar o quadro do tema em estudo. Na análise dos teólogos carolinos, foi posto o clássico Hooker, e junto com eles outros dois, não tão importantes, mas que são interessantes pela diversidade de suas opiniões, e para que os textos pudessem, no diálogo, mostrar a diversidade de opiniões sobre o tema.

I – ANTROPOLOGIA DA RELIGIÃO

O Sagrado - No cerne de toda religião encontramos o elemento do sagrado, que é por essência indefinível e que se movimenta entre o limite do antropológico e do absoluto, imanente e transcendente ao mesmo tempo, que se dá na experiência religiosa como “senso do Nume” (1), e nasce no sujeito como sentimento de “criaturalidade” (2) , ou seja, de dependência absoluta do sujeito passivo da experiência religiosa perante a “superioridade e inacessibilidade absoluta do numinoso” (3). Temos aqui dois elementos fundamentais: o ser humano e o numinoso. Entre ambos há uma relação que se expressa através das percepções e sentimentos de mistério, tremor assombroso, majestade, força, poder (dynamis, mana). Essas percepções são objetivadas em “vivências” (4), segundo os modos de vida reais e possíveis, e os modos experimentados e experimentáveis nas formas temporais originárias, que compõem o nosso presente, passado e futuro (5), o qual significa que o sagrado muda conforme as épocas e suas diferentes experiências e visões, e aos poucos, tudo isso se vai cristalizando em formas mais institucionalizadas, que recebem o nome de religiões.

Um Conceito de Religião - Têm resultado infrutíferas as tentativas para definir, de forma conclusiva, o termo, e nenhuma das aproximações, seja historicista, psicológica, sociológica, teológica, filosófica, funcionalista, etc, teve aceitação consensual, quiçá porque seja impossível tentar definir (e, portanto, limitar) algo que tem a ver com as questões últimas do ser humano, da verdade e do destino. Isso nos leva a ver que o que chamamos de “religião” tem acompanhado a humanidade desde os seus primórdios, e que ela existiu e existe em toda comunidade. O ser humano, como já dizia Aristóteles, é um “homo religiosus”, ainda que o termo “religião” seja uma criação ocidental, assim como a análise intelectual que o termo implica, pois na história, o ser humano tem conseguido ser religioso (ou vivenciar sua religiosidade) sem a ajuda de um termo preciso, nem de uma “teologia” conexa.

Como a cultura majoritária, aqui no Brasil, é de raiz ocidental, realizaremos nossa contribuição de forma particularizada.

Religião na Matriz Ocidental - Ao termo latino religio foram atribuídas diferentes etimologias. Lembrá-las nos ajudará em nosso estudo:

1) Roma pré-cristã

a) de relinquere, reservar, separar, deixar trás de si, pôr à parte, conforme Sérvio Sulpicio (5), mas o termo não vingou.

b) de relegere, reler, conforme Cícero, que na obra De Natura Deorum (6) (c. 45 a.C), entende religião como a releitura constante (i.e., como o cuidado) com o rito e com a observância de tudo que é devido aos deuses.

2) Roma cristã

a) de religare, atar, unir, reunir, em Lactâncio (Divinae Institutiones) (7), para quem a palavra designa o laço de piedade “pelo qual estamos unidos e ligados a Deus”, e também Agostinho, em De Vera Religione (8) adere a esta posição, ainda que depois a mude (“procuremos chegar ao único Deus e a Ele re-atar nossas almas...”).

b) de religere, reeleger, numa segunda posição de Agostinho (354-430): um retorno a Deus, voltar a escolher. Em De Civitate Dei, ele expressa que “o termo religião deriva do fato de nossa escolha, ou melhor, re-escolha de Deus, a quem nós tínhamos perdido por negligência...” (9)

3) Idade Média

Tomás de Aquino segue uma via eclética e unifica as duas compreensões agostinianas (religare e religere), pois para ele ambas implicam uma relação com Deus (10).

4) Antropologia Contemporânea

Uma visão européia, mista, de tipo antropológico, é proposta por Firth (11) , que entende a religião, em geral, como uma relação que liga o ser humano, dentro da sociedade, aos seus fins e módulos de valor fundamentais, através de algumas entidades e forças não humanas.

Muitas linhas de estudo poderiam aqui ser elencadas. Escolhemos estas porque as achamos úteis para este estudo. Todas elas vêem a religião basicamente como uma RELAÇÃO entre o SAGRADO (para alguns) ou o TRANSCENDENTE (para outros) e o Ser Humano. Esse relacionamento, ao longo da história, tem sido mediatizado por pessoas, agrupadas (ou não) em grupos ou instituições. A mais importante dessas mediações religiosas e objeto principal deste trabalho é o Sacerdócio.

O sacerdócio, ponte entre o sagrado e o profano - A mediação sacerdotal, em essência, tenta construir uma ponte que permita unir as duas esferas vivenciais do sagrado e do profano. Os romanos davam ao grande sacerdote o titulo de Pontifex Maximus, o supremo construtor (fazedor) da ponte. Essa mediação, que gerou uma especialização de funções sociais (“roles”), e que se vinculava a um status na comunidade, dependia de certo “fervor e eficácia pessoais” (12), assumia diferentes formas ou tipos ao longo da história: o xamã (que é o adivinho, o vidente, o terapeuta e o sacerdote), o rei-sacerdote, o profeta e o monge. Em todos os casos, essa especialização em se ocupar com as coisas vinculadas ao Sagrado; o conhecimento sobre como lidar com ele; o monopólio progressivo e constante sobre essas tarefas; e o caráter mediador e intercessor, levaram a que, por um lado, a sociedade desse a essas pessoas certa autoridade, e por outro, a que elas se apropriassem de outra fatia dela dentro do contexto social, já que, conforme Leeuw (13) , no lidar com o poder do Sagrado, eles viram a ser “portadores” do mesmo e deviam, portanto, ser respeitados e obedecidos. Têm “autoridade” (exousia, auctoritas). Ela reconhece diferentes graus de intensidade, o que dá origem a uma hierarquia que tem, ao mesmo tempo, um caráter pessoal e impessoal (ou difuso), no sentido de que no mais simples membro da escala hierárquica a autoridade se encontra plenamente, só que com menor brilho. Isso significa que o que é efetuado pelo sacerdote adquire um valor supramundano, que se revela especialmente nos momentos rituais (ou litúrgicos, no Cristianismo), dentre os quais o do “sacrifício” tem especial relevância, ainda que não seja o único, nem necessariamente o mais importante, porque isso dependerá das cosmovisões e crenças religiosas de cada cultura (14). Fica assim, de forma geral, apresentado o marco referencial, no contexto antropológico sobre o Sagrado a mediação sacerdotal na religião e a autoridade detentada pelo sacerdócio na história e na cultura ocidental em particular.

II – MINISTÉRIOS E SACERDÓCIO NO CRISTIANISMO

Os primórdios - Jesus não passou para seus seguidores nenhum tipo de ordenamento eclesial, exceção feita ao “apostolado” dos Doze, representação simbólica da comunidade escatológica de Deus, e cogitado para agir em curto prazo, dada a iminência da segunda vinda (“parousia”). Não há, pois, uma tríplice Ordem, explicitamente ordenada por Jesus, quiçá por ser julgada desnecessária. Se os Apóstolos representavam as doze tribos do Novo Israel, o “novo”, igual que o “velho”, está constituído por “um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex. 19, 6) (15), reiterado depois em Isaias: “E vós, sereis chamados ‘Sacerdotes do Senhor’, sereis chamados ’Oficiantes de nosso Deus’”(Is. 61,6). Na época apostólica, não se fala de “sacerdotes”, e sim de apóstolos, profetas, diáconos e mestres, nomeados no texto mais antigo do NT como os “trabalhadores” ou “obreiros” (1 Tes. 5,12: kopiontikós, laborantes, nos textos gregos e da Vulgata) e que como parte de seu trabalho cuidam e repreendem, de forma plural, como se depreende do texto acima citado. Paulo nos fala de seus colaboradores como profetas e mestres (Rm. 12,6; 1Cor. 12,28; 14,6; At. 13,1; 2Pe. 1,12-21; 3,2). As funções não estão claramente descritas nem diferenciadas. Tanto é assim que ele nunca fala de “presbíteros”, ainda que não possa ser negada a antiguidade de sua existência, já que em Jerusalém, junto a Tiago, existia um grupo de “anciãos” (presbiteroi, seniores) e com os quais eram tomadas decisões seguindo o modelo sinagogal (At. 11,30; 15,2; 21,18). O modelo se irá generalizando paulatinamente, desde Jerusalém e depois desde Roma.

A segunda geração (fins do século I) - Após a morte das grandes testemunhas dos eventos fundantes, transmissores da Tradição e fundadores das comunidades, os dirigentes locais (evangelistas, pastores e mestres) procuraram legitimar as suas funções, colocando-se como continuadores da obra e do Evangelho dos Apóstolos e profetas, que estavam na mesma “linha”, e que construíram “sobre o fundamento dos Apóstolos, para pôr os santos em condições de cumprir o ministério para edificar o Corpo de Cristo” (Ef. 4,7-16). A “apostolicidade”, pois, garante que a comunidade e seus dirigentes continuam sendo a “comunidade de Jesus”.

No estado atual do saber histórico-bíblico neotestamentário, pode-se afirmar que pelo fim do século I, o cuidado e a direção das comunidades locais estavam nas mãos de colégios de presbíteros, e também que não surge claramente uma diferenciação entre anciões (presbiterous, seniores) e supervisores (episkopous), já que suas funções estavam misturadas, e há uma especial ênfase na Palavra e no Ensinamento. A existência disso surge tanto das fontes bíblicas (At.14,23; 20,17; 20,30; 1 Pe.5,1; 1 Tm. 3,1-7; 4-14; 5,17-22; Tt. 1,5-11; Tg. 5.14; 2 Jo. 1,1; 3Jo. 1,1) quanto extrabíblicas (Didaquê 15, 1; 1 Clemente 44), ou seja, o assim chamado mono-episcopado (ou episcopado monárquico ou unipessoal) eclesial e institucionalmente legítimo não constitui, porém, uma norma bíblica, e sim, o fruto do desenvolvimento histórico do Cristianismo. Os textos nos falam também da existência de diáconos (diakonous), mas fora do texto de At. 6, 1-6 suas funções próprias não são especificadas, e quando algo aparece, elas são muito semelhantes às dos supervisores (1Tm. 3, 1-13).

Pode-se também inferir que nas comunidades “mateusianas” e nas “joaninas” existiam modelos mais centrados no serviço de profetas e mestres ou nos carismas do agir do Espírito Santo do que em ministérios mais institucionalizados, como em outras comunidades. Mas, qualquer que seja o tipo de comunidade, existe sempre um ministério que é tido como elemento do “esse” eclesial (independente de ser do tipo carismático ou institucional) e a percepção de que ele é necessário para que a Igreja seja uma “comunidade de Deus”, continuadora de Jesus através da herança do Evangelho recebida dos Apóstolos.

Os “ministros” (servidores) não são essencialmente diferentes, na visão do NT dos “laicos”, e não integrariam, portanto, um “estado” (“ordo”), mas realizariam uma função, considerada por isso como “um dom do Espírito”. O Cristianismo não nasceu como um movimento sacerdotal, mas como um movimento de “laicos” (16), e isso é algo que sempre deveria ser lembrado e contrastado com a situação presente que é conseqüência dos desenvolvimentos ulteriores e não do que acontecia “ab initio”, já que o único sacerdote no Cristianismo é o próprio Cristo. O que, sim, é possível achar no NT são funções especiais, como um serviço prestado por determinadas pessoas à “comunidade de Deus”, para que no fim o dirigente possa ser o espelho ou a imagem (eikon) de Jesus para a comunidade a quem ele serve.

Interessante é fazer notar que no século I o ministério não se desenvolve em torno da Eucaristia, mas em torno da construção das comunidades pela pregação, exortação e liderança (direcionamento). O NT nada diz sobre quem deve presidir a Eucaristia (exceto At. 13,1ss), pois ela é um presente de Jesus para a comunidade. E Paulo fala dela como uma tradição do Senhor e não da Igreja (1 Cor. 11,23). Com isso não queremos dizer que qualquer um poderia presidir, mas sim, que não existia um vínculo místico-sagrado entre ministério e eucaristia. As lideranças comunitárias (fossem elas do tipo que fossem) assumiam ipso facto a presidência. Posteriormente, a relação entre comunidade e ministério ficara limitada à relação entre (agora sim) sacerdote e eucaristia (17). A “hierarquia” (ierós-arké = governo sagrado) eclesiástica não é neotestamentária, mas sim, uma conseqüência da inculturação do Cristianismo nos modelos sócio-políticos do Império Romano e do Feudalismo.

A era dos Santos Pais - A Carta de Clemente aos Coríntios (circa ano 96), começa a caminhada teológica para a cristalização institucional das Ordens Sagradas. Em Clemente, Inácio de Antioquia (suas Cartas circa 106-107), Didaqué (circa 105), a Traditio Apostolorum de Hipólito (circa 217-230), Cipriano de Cartago (circa 245-258), Agostinho de Hipona (354-430), os ministérios são mais e mais assemelhados aos do AT. A terminologia é mais e mais sacerdotal. As funções enfatizam de forma crescente o “oferecimento” da “oblação” sobre o “altar” eucarístico, onde o Sumo (ou o Grande) Sacerdote (o Bispo) oferece sacrifício. A Tradição de Hipólito (TH) (18), na oração da ordenação episcopal, pede ao Pai, que instituiu os governantes (arkontas, principes) e aos sacerdotes (éreis, sacerdotes) desde o princípio, que possibilite que seu eleito (o ordenando) “ensine a teu santo rebanho” (primeira função) e “exerça em relação a Ti o Sumo Sacerdócio (ênfases nossos),... que ofereça os dons,... que tenha o poder de perdoar os pecados, que distribua os cargos...” (ou seja, os carismas pedidos giram em torno da liderança e do governo). Quando se trata de uma ordenação presbiteral, o Bispo pede sobre ele “o espírito de graça e de conselho do presbitério, a fim de que ajude e governe teu povo com um coração puro” (ênfases nossas) (19). E a tipologia escolhida é a dos Setenta Anciãos escolhidos por Moisés para ajudá-lo no governo do povo israelita (Nm. 11,24-30). Nos diáconos (20) se ora para que o candidato possa “servir a Igreja e apresentar no teu santuário, o que te é oferecido por aquele que está consagrado como teu Sumo Sacerdote... de forma que te servindo bem e levando uma vida pura, obtenha um estado superior” (ênfases nossas), citando 1 Tm. 3,13.

Cipriano, bispo de Cartago, no norte da África, na sua carta De Sacramento Calicis Domini (21), dominada pela idéia de sacrifício, sustenta que o sacerdote repete a ceia de Jesus, que como Sumo Sacerdote de Deus Pai se ofereceu a si mesmo como vítima ao Pai, ... e o sacerdote faz verdadeiramente a vez de Cristo, imitando-o, ... e oferece um sacrifício verdadeiro na Igreja a Deus Pai”. A distinção entre o laos (povo, leigo) e a hierateia (sacerdócio), assim como o estabelecimento claro de um vínculo místico-sagrado com a Eucaristia ficou completado, e desde o século III em diante será parte permanente do sacerdócio cristão.

Em Agostinho de Hipona, o ministério ordenado é representativo do modo de vida do Grande Pastor e Sumo Sacerdote, que é o próprio Cristo, e seus membros devem ordenar suas vidas em todos os aspetos, conforme o modelo de Jesus, ainda que esse autor não o veja como se fosse algo separado ou superior ao resto da comunidade, pois todos os membros da Igreja são fiéis depositários de um sacerdócio comum. Os leigos não são meros espectadores. Igual que o clero e junto com ele, servem a Deus como parte de uma vocação comum (22), ainda que era evidente para Agostinho que os leigos não podiam presidir a Eucaristia, e por mais que ele não concordasse com a clericalização da Igreja (já clara na sua época, e exacerbada entre os donatistas norte-africanos), já que achava intoleráveis as idéias de ter o bispo como um mediador entre Deus e o laicato e de que o clero, por estar em contato direto com as coisas santas, era “puro”, o que não aconteceria com os “leigos”, normalmente “impuros” e que dependiam em tudo do clero, por ser este o depositário (e dono!) do “poder das chaves” (ligar e desligar) a ele confiado pelo próprio Jesus. A rápida passagem através dos séculos II ao V tinha por objeto mostrar a evolução do tema no Ocidente cristão e nos ajudar a entender o desenvolvimento medieval. Se bem que não há ainda totalmente uma separação absoluta entre clero e laicato, aparecem os germens dela e da idéia de superioridade clerical, monopolizadora do rito, de sua mediação, de sua autoridade e poder.

A cristalização medieval - O fenômeno reconhece causas teológicas. Numa sociedade rigidamente estratificada, como a medieval, a Igreja, como parte da mesma, devia incorporar também na sua organização os moldes seculares, iniciados já sob Diocleciano no político, no social, no econômico, no militar (245-313) e no religioso, conforme os lineamentos apontados na seção anterior. Esclareceremos aqui algumas das causas (que julgamos como principais) da clericalização da Igreja:

1) O monopólio do clero sobre toda a vida religiosa da população, especialmente como veículo mediador dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, vistos já como possuidores de um poder místico e quase mágico.

2) A existência de um estamento (acrescentado pelo uso de uma “liturgia” sagrada, inacessível à maioria da população, por estar na língua latina) que receberá o nome de ordo, cuja tradução direta é ordem (que designava no Baixo Império os funcionários públicos imperiais), e a qual se ingressava pela Ordinatio, isto é, a ordenação, e constituída pelas seguintes ordens e degraus: episcopado, presbiterado ou sacerdócio e diaconato, e desde 1207, por resolução de Inocêncio III, o sub-diaconato, como Ordens Maiores e Ordens Menores de exorcistas, leitores, acólitos e ostiários.

3) A assimilação total da tipologia sacrificial do sacerdócio do AT, a qual terminou por levar, através dos posicionamentos dos canonistas (que tentavam legitimar o Papado frente ao Império) à tese da origem divina e, portanto, superior do clero frente ao laicato.

4) A maior organização e disciplina do clero, que foram convertidas pela hierarquia em armas muito poderosas de dominação social.

5) Alguns apontam o celibato clerical como mais um fator coadjuvante, surgido no século VI, e convertido em lei disciplinar eclesiástica a partir do século XI no Ocidente. Não vemos esse fator como elemento determinante para a existência das Ordens Sagradas, nem para a existência de uma “casta” sacerdotal, porque historicamente não tem sido assim. Temos “castas” em religiões com sacerdócio de não celibatários e religiões sem sacerdócio e com celibato (budismo) e sem castas.

6) Teologicamente, os escolásticos mais renomados como Boaventura (1221-74), Aquino (1225-1274), se bem apóiam a teoria do “caráter” sacramental conferido nas Ordens Sagradas, mantém o vínculo com a concepção ministerial da Igreja primitiva, e sustentam que o caráter é dado para o melhor serviço da Igreja através da mancipatio (termo jurídico que significava também cargo, dever, ônus) e que significava o chamado (resposta à vocação) e a aceitação do titular da mesma, por uma comunidade para a realização de um determinado tipo de função ou atividade na Igreja. O termo incluía para Aquino a entrega ou concessão de um “poder” (potestas) para realizar atos sagrados, como ele mesmo nos diz na Summa Theologica (23), o que levará depois à idéia do sacerdócio “ontológico” e à separação total com o laicato. Para um estudo mais apurado do tema, remeto o leitor ao meu artigo As Funções Litúrgicas das Ordens Sagradas ao Longo da História, com ênfase especial no Anglicanismo,” publicado pelo CEA.(24) .

A Era das Reformas
A Idade Média chega ao seu fim, no século XV, com o sistema em crise total. O estopim da mudança estouraria no setor religioso. Tentaremos nos circunscrever ao nosso tema, e facilitar, mediante comparação com o desenvolvimento na Igreja Primitiva, até que ponto os Reformadores ingleses conseguiram ou não um retorno ad fontes nesse tema.

Mudanças - Na Reforma Inglesa do século XVI, enquanto os reformadores do resto da Europa e da Escócia deixaram de lado a tríplice Ordem histórica de Bispos, Sacerdotes e Diáconos, a Igreja da Inglaterra decidiu conservá-lo.
Calvino, Beza, Zwinglio e Knox argumentavam:

1. Que no NT os termos “presbítero” e “bispo” eram somente nomes diferentes para o mesmo e único ministério de Cristo.

2. Que a “ordenação” de alguém ao ofício de Bispo, de forma que assumisse uma posição superior ao resto dos presbíteros, tinha sido uma “inovação” e um sinal claro do processo de corrupção eclesial. Bispos e presbíteros, com um mesmo serviço, constituíam uma mesma Ordem ministerial. Para ajudá-los em suas tarefas, os reformadores nomeavam leigos para servirem como diáconos e como anciãos governantes, e eles tiraram isso de sua leitura do NT, que tinha autoridade absoluta, não só em assuntos de fé e moral, mas também de governo eclesiástico.

Os Reformadores ingleses, sem deixar de reconhecer a leitura bíblica feita pelos colegas europeus, entendiam que a forma de governo eclesial não estava circunscrita ao texto bíblico, e que podiam existir adaptações locais. Isso foi plasmado no Art. XXXIV dos Artigos de Religião de 1571 e reafirmado em 1662. Portanto, mais do que abolir, eles entendiam que era melhor falar de “purgar”, limpar o tríplice ministério dos acrescentamentos medievais e conservá-lo, o que foi feito, e continua assim na atual Comunhão Anglicana mundial, como um sinal específico da mesma e parte da sua identidade.

Muitos sustentavam no século XVI, e quiçá também na atualidade, que a origem do tríplice ministério pode ser colocado na era apostólica, e que foi, de fato, criado pelos Apóstolos.Tal interpretação está nos Prefácios dos Ordinais ingleses de 1550, 1552 e 1662, e do americano de 1779 e 1979 e dos brasileiros até o LOC de 1950. O atual LOC brasileiro de 1984 carece (entre outras coisas), do Ordinal, ainda que nos formulários de Ordenações, continue usando o assim chamado “Prefacião”. Os textos afirmam que “é evidente a todas as pessoas que lêem com atenção as Santas Escrituras e os autores antigos que desde o tempo dos Apóstolos têm existido estas Ordens de ministérios na Igreja de Cristo: Bispos, Sacerdotes e Diáconos, cujos ofícios tem recebido, em todo lugar, tal reverente estima que...” (25). Essa afirmação é contraditória com os atuais conhecimentos sobre a Igreja da Era Apostólica e Sub-Apostólica, tal como foi visto na segunda parte deste trabalho. O ministério nas igrejas locais nos séculos I e II, como mostram o NT, a Didaquê, a I Carta Clementina e as cartas de Inácio, era de índole diversificada e não uniforme. Foi de forma gradual que surgiu e se afirmou a diferencia e a superioridade do Bispo frente ao Presbítero, e ambos frente ao diácono, fenômeno apressado quiçá (e até legitimado) pelo surgimento e difusão do Montanismo, desde a Frigia (Ásia), na segunda metade do século II, com seus mestres, profetas, entusiasmo e rigor disciplinar, que terminou envolvendo até ao próprio Tertuliano, no ano de 206 (século III). Foi nesta época também que cobrou proeminência a doutrina da “sucessão apostólica” como linhagem sucessória dos bispos de certas sés, remontando aos próprios Apóstolos (o chamado “pedigree” episcopal), e desde o século IV em diante os cristãos vieram acreditar que sempre tinha existido uma tríplice ordem ministerial, assim como que seria do “esse” da Igreja ter que traçar linhagens continuadas de sucessões para poder ter a nota de “apostolicidade” eclesial. Isso já não é mais assim no atual estado dos estudos sobre eclesiologia, enfatizando-se a preservação do deposito da fé e da doutrina dos Apóstolos. Nesse sentido, ARCIC II afirma que “a ação do Espírito, dom de Deus, nos é dada para preservar a memória viva de Cristo. Esta memória, realizada e constantemente expressada em cada época e cultura, constitui a tradição apostólica da Igreja... A Apostolicidade unifica a Igreja através de todas as gerações e em todos os lugares como definitivo sacrifício e ressurreição de Cristo, nos quais o santo amor de Deus se tem mostrado de forma suprema”. (26) Também o Relatório da Comissão Sobre a Doutrina Cristã, nomeada pelos Arcebispos de Cantuária e de York, em 1938, expressa que “...uma mera forma mecânica ou histórica de sucessão ministerial não pode, por si mesma, garantir a essência da Igreja”, (27) pois ela tenta validar uma passagem linear de autoridade desde Cristo até hoje, em forma ininterrupta, e foi feita para assegurar a origem divina da Igreja e sua superioridade frente ao Estado, nos conflitos entre o Papado e o Império primeiro, e depois no contexto individualista do Pós-Iluminismo, garantindo aqui o valor do indivíduo (possessão pessoal do ministério e da responsabilidade e autoridade anexas) em detrimento do sentido ou modelo de Igreja como Comunidade.(28)

Com referência às chamadas Ordens Menores acima enumeradas, várias delas já tinham caído em desuso no século XVI (ostiário, ou seja, porteiro, por exemplo, o leitor e acólitos, também. Sobrevivia o exorcista), pelo que foi fácil para os Reformadores abolí-las de vez. Os romanos as mantiveram como simples degraus internos no caminho ao sacerdócio, conferidas na privacidade dos seminários, até o Concílio Vaticano II, onde também foi extinto o subdiaconato. Ressalta-se, mais uma vez, a presença do termo “sacerdote” (priestess) no Book of Common Prayer de 1550, mas o mesmo foi esvaziado do sentido sacrificial medieval e preservado, sim, com um senso de tradição, de distinguir uma Ordem das outras e também de marcar a identidade da Igreja inglesa frente aos puritanos de casa e aos outros movimentos reformadores europeus (Calvino, Lutero, Menon...). Por outra parte, é de se destacar também que o uso do termo justificava uma visão ministerial diferente e exclusiva de certas pessoas, não possuída pelo laicato, ainda que isso tenha começado a mudar desde o século XX.


A teologia anglicana nas épocas Elisabetana e “Carolina”

Richard Hooker (1554-1600), em sua obra As Leis da Política Eclesiástica (The Laws of Ecclesiastical Polity), escreve a respeito do ministério e das três Ordens Sagradas, no Livro V, cap. ixxii,1 (29) : “...Eles são, portanto, ministros de Deus, não só na forma da subordinação, como os príncipes e magistrados, em cujas mãos Deus entregou o poder de julgar e administrar a justiça, mas como ministros de Deus e com sua autoridade derivada d’Ele, e não dos homens. Por que, quem senão o próprio Deus poderia lhes dar essa missão de serem embaixadores de Cristo e seus operários? Não é Deus o único Pai dos espíritos? Não foram as almas resgatadas por Cristo? Qual anjo dos céus poderia dizer a um ser humano, como Jesus diz a Pedro: “alimenta minhas ovelhas. Batiza. Faz isso em minha memória, cujos pecados que você retiver lhe serão retidos; e serão perdoados nos céus as ofensas daqueles cujas faltas você perdoar na terra?” O que nós achamos disso? São essas palavras terrenas ou vindas lá do alto? O poder do ministro de Deus transforma as trevas em glória, eleva os seres humanos do terreno, e traz à terra o mesmo Deus dos céus; e quando abençoa os elementos visíveis os transforma em graça invisível, dá diariamente o Espírito Santo...quando amaldiçoa os malvados, eles perecem; quando os abençoa, eles revivem”... “Esse poder é ao mesmo tempo uma marca ou caráter e reconhecido como algo indelével. O poder ministerial é uma marca de separação, porque ele separa aqueles que o recebem do resto dos homens e os integra numa Ordem especial, consagrada ao serviço do Altíssimo para aquelas coisas que o resto dos homens não pode fazer. Os ministros se diferenciam, pois, do resto dos seres humanos, onde eles são uma Ordem diferente”.

“Quer preguemos, quer batizemos ou oremos, quer distribuamos a comunhão, condenemos ou absolvamos, ou qualquer outra coisa que façamos como dispensadores dos mistérios de Deus, nossas palavras, julgamentos, atos e obras não são, na realidade, “nossas”, mas do Espírito Santo”. “Quanto aos Presbíteros, alguns têm mais e outros menos poder, conforme o que Nosso Senhor dispôs; os maiores receberam a plenitude do poder espiritual, e os outros receberam menos poder. A tarefa principal dos Apóstolos foi a de proclamar o Evangelho de Cristo a todas as nações, e ensinar o que Jesus mesmo lhes tinha ensinado e mandado fazer. Isso os colocou numa situação excepcional de proeminência. Fora dessas tarefas, ficou com eles a de ordenar e consagrar qualquer outra pessoa para outros ofícios e deveres necessários para o trabalho, assim como Nosso Senhor em pessoa comissionou a Setenta de seus Discípulos como Presbíteros subordinados, ainda que com o mesmo poder que os Apóstolos tinham para pregar e batizar...”. “...E ainda que a história não mencione o momento preciso da instituição dos Presbíteros em Jerusalém, nós podemos saber de sua atividade e de como eles foram feitos e como saíram depois pelo mundo afora”. “A esses dois graus instituídos pelo próprio Jesus (i.e., Apóstolos e Presbíteros), os Apóstolos anexaram, pouco tempo depois, o grau dos Diáconos. Os Diáconos são administradores da Igreja, distribuem os bens da Igreja, cuidam dos pobres e se encarregam de que todas as despesas sejam feitas de forma correta. Como parte de suas funções, estava a função de auxiliar os Presbíteros no templo do Serviço Divino”. “Os Santos Pais mais antigos só mencionam estes três graus das Ordens eclesiásticas e nenhuma outra: Diáconos, Presbíteros e Bispos”. E citando Optatus, “O que eu tenho para dizer aos leigos sobre a diversidade do ministério? Qual é o propósito de que os Diáconos que estão no terceiro degrau, ou os Presbíteros que estão no segundo grau do Sacerdócio, quando as mesmas cabeças e príncipes de todos eles, a saber, os próprios Bispos, trocam sua salvação eterna por esta vida terrena?” E afirma claramente: “Posso, portanto, dizer com inteira certeza, que na atualidade, na Igreja da Inglaterra, só existem os mesmos graus da Ordem Eclesiástica, a saber: Bispos, Presbíteros e Diáconos, originados nos tempos de Cristo e de seus benditos Apóstolos”

E no Livro VII, ele expressamente diz: “Os primeiros Bispos foram os benditos Apóstolos”. “Um Bispo é um ministro de Deus, a quem de forma permanente foi encomendado o poder, não só de administrar a Palavra e os Sacramentos (que também os Presbíteros tem), mas um outro poder de ordenar clérigos e também de chefia e governo, tanto sobre os Presbíteros como sobre os Leigos, de jurisdição de Pastor até sobre os mesmos Pastores. Portanto, esse ofício do Bispo, já que ele é um Presbítero ou Pastor, consiste naquelas tarefas ou responsabilidades que são comuns aos outros Pastores, tanto na ministração da Palavra e dos sacramentos, como naquelas coisas inerentes ao seu oficio, que fazem propriamente dele um Bispo e não podem ser comuns aos outros Pastores”.

“Os Apóstolos deram às diferentes Igrejas por eles fundadas certas diretrizes ou normas. Elas estabeleciam que o povo ou o laicato teria que ser governado por um colegiado de clérigos, especialmente nomeado naquela cidade para tal propósito, e que nos escritos da época são chamados algumas vezes de Presbíteros e outras vezes de Bispos...”

Joseph Mede (1586-1638) em sua obra Diatribas (Diatribae. Discourses on Divers Texts of Scripture, Delivered Upon Several Occasions, Livro I, No. 5, sobre I Cor. 4,1), publicada postumamente, em 1642,(30) sustenta uma outra opinião: “Só existem, na verdade, duas Ordens eclesiásticas: Presbíteros e Diáconos (Presbyteri, Diaconi). A primeira inclui os superiores: Sacerdotes; e a outra, os ajudantes, os ministros: Diáconos. As outras, assim chamadas de Ordens, são só diferentes graus dessas duas. Assim como os Bispos são um grau dos Presbíteros para serem, por lei Divina, cabeças, chefes e presidentes de seus irmãos; assim também os sub-diáconos, leitores e qualquer outro tipo de ministros eclesiásticos, seja in Ecclesia ou in Foro Ecclesiastico (entendo isso enquanto cumprem funções no Culto Divino da Igreja ou funções jurisdicionais nos Tribunais Eclesiásticos), são todos um tipo de Diáconos, estando em relação aos Presbíteros, sejam eles propriamente tais ou sejam episcopais, como os Levitas estavam em relação aos “Sacerdotes” no Antigo Testamento, ou seja de ministrar ou lhes servir. Portanto, quando falamos de Bispos, Presbíteros e Diáconos, só entendemos duas Ordens e três graus”.

John Davenant (1572-1641), em sua obra Determinationes Quaestionum Quarundam Theologicarum”, quaestio XLII: Diversitas Graduum in Ministris Evangelicis Verbo Dei non Repugnat (A diversidade de graus nos ministérios evangélicos não se opõe a palavra de Deus), editada em 1634 (31), fala que os bispos têm três marcas que os fazem superiores aos outros presbíteros (ênfase nossa): a primeira seria no caso de cidades onde houvesse um colegiado de presbíteros e existisse só um Bispo; a segunda, seria o poder de ordenação (e de forma interessante, o autor admite, que em caso de necessidade, e para a salvação da Igreja, e no caso de não houver bispos disponíveis, presbíteros poderiam se ver compelidos a ordenar outros presbíteros, e tal ordenação não seria nula nem invalida). A terceira característica episcopal que coloca os Bispos por sobre os presbíteros é o poder de jurisdição, não só sobre o laicato, mas também sobre o clero, que “por instituição apostólica está sob os bispos”.

Essa fortíssima ênfase “carolina” na instituição e na hierarquia do episcopado pode ser entendida no contexto em que eles escreviam, defendendo a eclesiologia anglicana perante os ataques puritanos, que lutavam para modificar essa situação e queriam para a Igreja inglesa uma reforma radical ao estilo das existentes em Genebra e na Escócia.



III - AUTORIDADE E PODER

Um olhar sociológico - O tema das Ordens Sagradas e do Sacerdócio está intimamente vinculado ao tema da Autoridade e Poder e como elas são distribuídas e exercidas dentro da Igreja. Seria conveniente, para isso, dentro do possível, esclarecer os conteúdos desses termos, mesmo sabendo que ambos são sumamente lábeis.

Poder está relacionado com a capacidade de um grupo ou de um indivíduo de que sua ordem ou ordens, com um conteúdo determinado, sejam obedecidas, conforme Weber (32) (1864-1920), mesmo contra a resistência de outros grupos ou indivíduos, e pode vincular-se também à capacidade de influir direta ou indiretamente sobre o comportamento de outros.(33) O poder é sempre uma situação de facto, que é exercido sobre outros, e que tende a se constituir em “estrutura social”, ou seja, “subordinar” alguém, estabilizando-se e dando origem então a autoridade, que é, portanto, uma derivação e manifestação do poder. A autoridade implica também no reconhecimento e aceitação por parte dos subordinados ou seguidores, que fazem isso porque a instituição assim o quer (autoridade institucional), ou pelo entusiasmo e liderança (carisma) do líder, mestre, caudilho ou chefe (autoridade carismática), ou porque todos acham que o mestre ou o líder é a pessoa indicada para conduzi-los, não só porque a instituição o nomeou, não só pelo seu apelo pessoal, mas também e principalmente por sua sabedoria, idade, energia, flexibilidade, prestatividade (servicialidade) e sensibilidade, surgindo assim a autoridade consensual. O maior ascendente da pessoa ou grupo que detenha a autoridade emanada do poder está numa sabia adequação desses três tipos de autoridade: institucional, carismática e consensual.

Um olhar teológico - A Bíblia providencia exemplos dos três tipos de autoridade. Sobre o poder, ela nos diz que, em essência, o único que tem realmente “poder” é Deus. Os seres humanos, quer individual ou coletivamente, só mediatizam o mesmo neste mundo. Jahweh é “El Shaddai”, o Topoderoso, o Pantocrator. Reis, governantes e generais recebem d’Ele sua autoridade.

Temos assim lideranças institucionais como a maioria dos reis e sumos sacerdotes israelitas, carismáticas como os juízes e juízas, os profetas como Saul e David, e consensuais ou carismáticas como Moisés, Judith e Judas Macabeus. As categorias não se dão em estado puro, pelo que Saul e David, por exemplo, estão também entre as institucionais, e Moisés compartilha todos os tipos. No NT, Jesus está na linha bíblica de que o “poder” provém de sua única fonte, que é Deus, quando responde a Pilatos, que lhe falava com autoridade institucional: “Não sabes que eu tenho o poder...”, com as palavras: “não terias poder algum sobre mim, se não te houvesse sido dado do alto”.(Jo. 19,10-11)

E quanto à autoridade, Jesus não exclui a autoridade institucional, mas se submete a ela no campo religioso (circuncisão, Lc. 2.21), na observância do sábado, na sinagoga (Lc 4,16ss), nas festas religiosas e no econômico-político (pagamento dos impostos, por exemplo, em Lc. 17,24-27), enquanto não colidam com a essência da sua mensagem, no encontro com o centurião de Cafarnaum (Lc. 7,1-9), em que Ele mostra sua fé e confiança em termos de autoridade e obediência institucionais.

Qual a novidade, então?
Que Jesus propõe para seus seguidores, que formam o “Novo Israel” e, portanto, para seus seguidores de todas as épocas e culturas, uma forma alternativa de legitimar a autoridade, não baseado na ambição, nem nas honrarias, nem nas intrigas, nem no seguimento cego de um líder, mas... no SERVIÇO: “como sabeis, os que são considerados chefes das nações, as mantém debaixo de seu poder... Não deve ser assim entre vós. Pelo contrário, se alguém quer ser grande dentre vós, seja vosso servo, e se alguém quer ser o primeiro, seja o escravo de todos” (Mt. 10, 42-44). Ou seja, Jesus aceita o fato de que para o funcionamento da sociedade são necessárias a existência de autoridades e a obediência aos súbditos para evitar a desintegração social, e de que esses fatores estão inter-relacionados de forma indissolúvel. A diferencia está na sua legitimação. Que a autoridade é algo necessário está também em Paulo, que declara que as autoridades foram instituídas pelo mesmo Deus, e que o cristão lhes deve, portanto, obediência (Rm.13.1). Pedro retoma o tema da mesma forma (1 Pe. 2,13). Para ambos os apóstolos, elas são os instrumentos, as formas em que a autoridade divina é mediatizada neste mundo.

A autoridade na Igreja - À luz do que foi dito anteriormente, qual seria então a visão cristã de autoridade e, em especial, e de seu conceito e exercício dentro da Igreja e no Ministério Ordenado?

A primeira coisa a ser elucidada é a questão da base da nossa argumentação. Quem nos guiará com autoridade? A Bíblia ou a Igreja? A resposta é difícil, tendo em vista as mudanças de atitudes culturais a respeito da “autoridade”, em especial desde o século XVI em diante, já que a Bíblia e a Igreja têm tido o caráter de suas autoridades relativizado, e nenhuma das duas, na atualidade, e a pesar de declarações públicas em contrário, é fonte única e absoluta de autoridade no Cristianismo (falamos dos grandes grupos, e excetuando os fundamentalismos e os integrismos). Uma aproximação poderia ser a de tentar ver o fenômeno da autoridade em relação ao povo de Deus, direcionado pelas normas da fé, e vincular essa observação às atitudes herdadas e aos dirigentes que as praticam, para assim discernir até que ponto esses direcionamentos estão nos conduzindo (ou afastando) da direção correta.



Quais seriam as “normas da fé”?

1. Em sentido estrito (e restrito?), o AT e o NT seriam a forma de medir e criticar todo tipo de atitudes de autoridade.

2. Em sentido amplo, poderia ser acrescentada a ambos os testamentos a Tradição Cristã, incluindo o material extra-escritural, como os Credos, os documentos do Magistério, as definições dogmáticas dos quatro primeiros Concílios Ecumênicos (Nicéia, Constantinopla, Éfeso e Calcedônia), aceitos no Anglicanismo.

Quando a Igreja escuta a Escritura, escuta em princípio ao mesmo Deus. Quando escuta a Tradição, escuta uma interpretação da Palavra e, nesse sentido, é uma fonte secundária, e a Igreja corre o risco de só estar se escutando a si mesma e não a Deus, ainda que a Escritura também tenha sido produzida historicamente pelas comunidades (judias e cristãs). Todavia, ela nos confronta com algo objetivo e transcendente (fora e diferente de nós). Possibilita um diálogo, o que a Tradição não pode fazer, pois é mais um monólogo.

A autoridade de Deus e de Cristo

O Cristianismo está centrado numa imagem de poder e autoridade, já que o Deus trino, Pai, Filho e Espírito Santo, é um modelo arquetípico de autoridade. Desde a criação, Deus faz as coisas acontecerem, faz que a humanidade cumpra os seus desígnios e lhe revela como fazer isso. Nesse sentido, pecar é rejeitar o senhorio (poder e autoridade) de Deus. A humanidade tem-se especializado, ao longo da história, nessa rejeição. Para efetuar esse senhorio divino é que Jesus encarnou e veio para ser no mundo e, portanto, autoridade, é um aspeto central na figura de Jesus, tal como nos dizem os Evangelhos desde as suas primeiras páginas (Ele escolhe, ensina na sinagoga “com autoridade, e não como os escribas”, comanda os elementos naturais, os espíritos, perdoa, cura), não se preocupando com as tradições humanas, comia com pecadores públicos, prostitutas e beberrões, tocava nos leprosos...e muito pouco com as autoridades oficiais do Templo, mas... acatava a autoridade da Escritura.

A autoridade de Jesus tinha como base seu vínculo especial e único com Deus (Mt. 11,27; 28,18; Jo. 3,11, 16-17, 32,35; 13,3; 10,15) e é de natureza paradoxal, o que explica, em parte, por que as pessoas tinham e têm dificuldades de reconhecê-la, já que tem um lado de sucesso e triunfo, mas o mesmo é unido de forma misteriosa à humilhação, ao fracasso e ao sofrimento. Essa mistura é algo distintivo no Cristianismo, e descreve a visão cristã do Messias como o Servo Sofredor (Is. 42,1ss; Sl. 2,7; Mt. 3,17 e paralelos), pois não existem atalhos fáceis para estabelecer o Reino de Deus neste mundo. Deus diz ao seu Servo: ”Vai”, e ele vai; “acredita” e ele o faz. Mandar, enviar, proibir estão entre as atividades típicas de Deus, mas elas estão “qualificadas” pelo seu amor de Pai, por seu desejo de ter e manter uma relação adulta (não paternalista) conosco, relacionamento de quem sabe o que está fazendo e como fazer, de quem realiza o que promete, de quem é fiel, de quem se revela e se explica, ainda que nem sempre (como nos diz a história de Jô). Enfim, de um Deus que exerce o tipo de autoridade que o faz merecedor de ser reconhecido como a origem e fonte de todo poder e autoridade.

A autoridade no Povo de Deus

Nos Apóstolos - Assim como no caso de Jesus, o fenômeno da “autoridade” é central no ministério dos Apóstolos e também dos Discípulos. Porém, ele é sempre derivado e não originário; é sempre “em nome de Jesus”. Sua autoridade não é endógena (deles), mas exógena (lhes é dada como foi dada aos profetas), e Jesus lhes confia:

- proclamar a chegada do Reino
- chamar ao arrependimento
- expulsar demônios
- curar doentes
- julgar
- o poder das chaves
- e presumivelmente o poder de resgatar os mortos do Hades. (cf.: Mc.3,14-15; 6,7-13; Mt.10,1; 16, 18-19; 18,18; 28,18-20; Jo. 20,21-23).

Os Apóstolos exibem, mostram “autoridade” no seu agir, e o poder próprio de Jesus se manifesta através dos Apóstolos/Discípulos, conforme Lc. 24,49 e At. 1,8; 4, 7,12,34). Portanto, no Novo Israel (e os Doze são “simbolicamente os representantes do Novo Israel e do Povo de Deus), a autoridade continua sendo a autoridade de Deus, que eles exercem somente e enquanto eles a exercerem corretamente”.

Entre os Apóstolos - Jesus coloca o princípio em Mt.20,24-28 (cf. os paralelos Mc. 10, 42-45 e Lc.22, 24-27) de que a base dos relacionamentos devia se basear em ministério e serviço, e não em senhorio. Jesus não proíbe o uso da autoridade. Ela deve existir. Muda o fundamento da mesma, passando do exercício do “poder” para o exercício do “ministério e serviço”. O que Jesus, sim, proíbe aos Apóstolos são as relações “verticais”: mestre-discípulo e ou senhor-súdito, já que todos são irmãos, com um mesmo Pai celeste e o Ungido (Messias) como seu Senhor (Mt. 23, 8-10). Portanto, a autoridade é exercida pelos Apóstolos em todo o mundo e como um corpo, disciplinando os irmãos que porventura pecarem, depois de tê-los perdoado 490 vezes (Mt. 18,15-22).

Na prática dos tempos apostólicos, porém, a liderança é partilhada entre os Doze (que ocupam um lugar especial de destaque como testemunhas vivas do Mestre), e os presbíteros (anciãos), que “supervisionam” e tem funções de liderar, cuidar, ensinar e receber doações em nome da Igreja (At. 2,42; 4,35-5,2; 11,30; 1Tm. 3,1; 5,17; Tt. 1,9).

A autoridade de Deus é mediada de diferentes formas dentro da Igreja:

a) Pelos Doze, como representantes do Novo Israel e sua vinculação direta com Jesus.

b) Pelos receptores dos carismas que para determinados momentos são reconhecidos como a voz de Deus.

c) Pelo surgimento de uma liderança mais organizada institucionalmente, conforme lineamentos sócio-culturais da época, mas não em oposição à vontade divina (presbíteros, diáconos, bispos e mestres).

d) Pelo conjunto do Povo de Deus que, conforme as Escrituras, pode fazer suas decisões à luz dos fatos e das palavras apresentadas pelas três primeiras formas de mediação.

e) No fim do século I e começo do século II, as mediações a) e b) perdem ênfase em favor de c), lembrando que a primeira delas deixa de existir após a morte do ultimo dos Doze.

Autoridade e Igreja - A Bíblia afirma que o Povo de Deus está sob a sua autoridade e, portanto, o Novo Israel, a Igreja, também o está, pois reconhece o senhorio de Jahweh como o Deus e Pai de Cristo. Como esse povo, partilha sua autoridade, proclama a verdade, declara e outorga o perdão de Deus, e vive na liberdade dos filhos e filhas de Deus, e é nessa liberdade que obedece à vontade divina, “devidamente preparado para o trabalho do serviço na edificação do corpo de Cristo, até chegarmos à estatura de Cristo em sua plenitude” (Ef. 4,12-13).

Esse povo se autogoverna conforme o chamado ao ensinamento e à disciplina, segundo Schweitzer,(34) e por isso é que clérigos e leigos de forma conjunta (não como “partidos”), representando a Igreja, se envolvem na tomada de decisões sobre o culto e a doutrina. A Igreja apostólica quebrou o paradigma antropológico de uma mediação de especialistas entre o “laos” e a divindade, sem por isso deixar de lado o princípio da autoridade. A Igreja não é uma democracia, no sentido liberal e moderno do termo, inexistente naquela época. É, sim, completamente participativa, e dentro de certos limites muito mais inclusiva do que depois veio a ser (lembremos as formas de exclusão em Paulo e as profissões que obstavam a recepção do batismo e, portanto, o ingresso à Igreja). Entendemos que é propiciado um tipo de autoridade “carismática ou consensual”, conforme colocamos anteriormente. A autoridade do tipo “institucional” é necessária na sociedade civil como reguladora da convivência humana, (sempre difícil!), mas não é o ideal, e “no princípio não era assim” (Mt. 19,8) e, portanto, ela não é do “esse” da Igreja.

Que outros elementos da “autoridade” estão presentes na Igreja?

Podemos mencionar as Escrituras, os Carismas, os Bispos e as Lideranças locais:

a) As Escrituras. Na leitura e ensinamento das mesmas, manifesta-se de certo modo, ainda que não de forma exclusiva, a autoridade consensual carismática. Na formação do Cânon, a Igreja reconheceu e estabeleceu a Bíblia como o paradigma de inspiração eclesial, mas não o único. Goldingay (35) expressa que “a doutrina cristã da inspiração anima a todos os cristãos na esperança de que o Espírito Santo os inspire, enquanto que a doutrina cristã do Cânon os anima a utilizar o Cânon Bíblico como uma bitola para discernir o que pode ser inspirado”.

b) Os Carismas. De forma que não pode ser programada, a autoridade de Deus pode também se manifestar na congregação, através de qualquer membro, mas sempre com o invariável propósito do crescimento espiritual da comunidade e para glória de Deus. Quiçá, como Dunn (36) diz, “o grande desafio atual seja começar a tomar muito a sério o modelo Paulino de comunidade carismática e estar aberto para essa experiência, com as ressalvas que o próprio Paulo criou... e permitir assim o surgimento de novas expressões de fé, culto e missão, tanto em nível individual quanto comunitário”.

c) Os Bispos. Pelas normas regimentais eclesiais, que recebem o nome de “cânones” (normas), eles possuem autoridade de tipo institucional, mas teologicamente (e socio-culturalmente), eles não devem esperar ser ouvidos e obedecidos somente por isso, pois não irão muito longe se não conquistarem os corações e as vontades dos eclesianos. Eles devem merecer ser seguidos e amados, e não só obedecidos porque ocupam um lugar elevado na hierarquia. Nesse sentido, pretender ser obedecido sobre a base de “ser o bispo” denota falta de segurança. Na ausência da possessão da autoridade consensual, ele só pode usar o que resta: a institucional! Se estivesse confiante na consensual (e não tentar ser um super-homem) não necessitaria de usar essa ultima. Isso não significa que o Bispo não tenha que agir, às vezes, como Paulo, com autoridade e coragem para salvaguardar a verdade e a moral, mas ainda será autoridade consensual.

d) As lideranças Locais. São a quarta forma de mediar a autoridade divina na congregação local. Os presbíteros ou os bispos (os “anciãos” escriturais) desenvolvem uma supervisão para expressar o cuidado dos irmãos mais velhos sobre os mais novos, e mantém o barco andando na estela dos ensinamentos da Escritura, de Cristo e dos Apóstolos, mediante uma liderança espiritual, capaz de conquistar a comunidade e fazê-la andar no correto caminho espiritual.

Presbíteros e Bispos são reconhecidos, e nomeados ou designados, mas não ordenados pela comunidade, e a autoridade de que dispõem é (ou deveria ser) do tipo consensual ou carismático, ainda que ambos os ofícios tenham se convertido nos principais e quase únicos modelos de autoridade eclesial, e mais precisamente, do tipo “institucional”, o oposto ao modelo de Jesus. É certo, e a ser reconhecido, que as Escrituras não excluem nenhum tipo de modelo de autoridade, ainda que possa ser dito que alguns estão mais próximos do que outros do ideal de Deus, e de que qualquer tipo de liderança, se levada ao extremo, pode ser danoso e caótico.

IV - Concluindo

Entendemos que a palavra chave no NT para liderar não é “autoridade” (exousia), nem “poder” (dynamis), mas “serviço” (diakonia), pois ela é um resumo da vida cristã e da sua mensagem. A liderança é uma vocação, um chamado que Deus faz a todos em geral (como laos) e a alguns em particular (ministros), para SERVIR NA Igreja e não SOBRE a Igreja. E a aceitação e vivência desse chamado é a base para um “status” diferente, enquanto que a autoridade, por si só e como derivação do poder que é, não o gera nem o legitima teologicamente.

A Igreja tem o direito de procurar nas suas lideranças uma preocupação pelo carisma e pela ordem, uma abertura tanto para a Tradição quanto para o Espírito, de mutua obediência e abertura crítica. Essas marcas ou sinais levam a uma outra, que na nossa visão anglicana é importante, e que tem a ver com a colegialidade das instâncias de decisão. Podemos afirmar que no NT não há exemplos de concentração da qualidade da liderança (e das responsabilidades anexas), em nível local, numa só pessoa.

Pode ser encorajada uma vida comunitária no Espírito, concentrando a liderança em uma pessoa com dedicação “full-time”, como num emprego secular, profissionalmente treinada e, às vezes, com uma visão do ofício quase que de funcionário? Por que será que a formação empresarial no momento atual está aceitando e propiciando a colegialidade nas tomadas de decisão e no trabalho em equipe? O que significa, então, “equipar os santos para o trabalho do ministério” no texto das Epístolas, já citado anteriormente? Goldingay, de forma dura, mas gráfica, diz que “é tão irreal pretender que isso aconteça através de um modelo unipessoal, como tentar dirigir um carro para frente, quando o câmbio está em reverso”.(37) Tal posição pode até ser extrema. Entendemos que uma liderança bem equipada e criativa pode ser fundamental para o crescimento de uma comunidade, que um líder ou mestre e bom teólogo podem ajudar no amadurecimento da comunidade a quem servem, que a mesma pode funcionar muito bem com um profissional de tempo completo e remunerado à sua frente, e que a Eucaristia seja presidida normalmente por uma pessoa.

O que sustentamos, ainda que cientes das dificuldades de implementação, é a necessidade da existência de uma verdadeira liderança plural na comunidade, um “team” (equipe) ministerial. Como seria uma comunidade guiada pelo Espírito Santo, conforme as Escrituras, na palavra de seu Bispo, no ministério de seus profetas, na liderança conjunta dos presbíteros e das outras novas formas de liderança leiga, conforme os usos e costumes locais, e as necessidades dos tempos atuais, crescendo em maturidade em Cristo – e o que é mais importante – o exercendo por si mesma, através de seu testemunho prático, a autoridade de Cristo no mundo?


NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

1. OTTO, Rudolf, O Sagrado, Sinodal/EST/Vozes, 2007, pp. 37-39.
2. __________, id., id., pp. 41-43.
3. HUSSERL, E., A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental, apud II Saggiatore, Milano, 1972, p. 257.
4. __________, id., id.
5. PRANDO, Carli e FILORAMO, Giovani, As Ciências das Religiões, Paulus, SP, 1999, p. 255.
6. ___________, id., p. 256.
7. ___________, ibid., id.
8. ___________, ibid., p. 257.
9. ___________, ibid., p. 258
10. AQUINAS, St. Thomas of., Theological Texts, Oxford University Press, 1955, n° 401, p. 272. Tradução pessoal.
11. FIRTH, Raymond, Problem and Assumption in an Anthropological Study of Religion, apud: Journal of the Royal Anthropology Institute, 89, 1959, p. 131. Tradução pessoal.
12. PIAZZA, W.A., Introdução à Fenomenologia da Religião, Vozes, Petrópolis, 1976, p. 119.
13. LEEUW, Gerardus van der, Religion in Essence and Manifestation: a Study in Phenomenology, Harper and Row, N.Y., 1963, p. 47, apud ILLARZE, Enrique: A Função Litúrgica das Ordens Sagradas, Inclusividade, CEA, ano III, 2004, n° 9, p. 16.
14. ___________, idem, ibid., p. 19.
15. Para todas as citações bíblicas: A BÍBLIA, com o Antigo e Novo Testamentos, traduzida dos textos originais hebraico e grego, com introduções, notas essenciais e glossário. Paulinas-Loyola, SP, 1995 (Bíblia TEB). BÍBLIA SACRA, vulgatae editionis Sixti V et Clementi VIII jussu recognita atque edita, London, s/d H KAINH DIATHKH, o NT em texto grego sobre o Textus Receptus de T. Beza de 1598, edição s/l, s/d. LIDELL and SCOTT, An Intermediate Greek-English Lexicon, Oxford University Press, 2001. MACCHI, Luis, Dicionário de la Lengua Latina, edit Don Bosco, Buenos Aires, 1958. (Estes dois dicionários foram fonte de consulta lexicográfica usual).
16. SCHILLEBEECKX, Edward, El Ministério Eclesial – Responsables en la Comunidad Cristiana. Edit. Cristiandad, Madrid, 1983, p. 45ss. Tradução pessoal.
17. CHURCH OF ENGLAND, The Priesthood of the Ordained Ministry, Church House Publ., London, 1986, p. 31. Tradução pessoal.
18. HIPOLITO DE ROMA, La Tradición Apostólica. Texto greco-latino. Editora Lúmen, Buenos Aires, 1981, pp. 30-32. Tradução pessoal.
19. ____________, id., id., pp. 36-37. Tradução pessoal.
20. ____________, ibid., ibid., pp. 37-39. Tradução pessoal.
21. CIPRIANO DE CARTAGO. De Sacramento Calicis Domini, Apud, QUASTEN, Johannes. Patrologia. BAC, Madrid, 1961, t. I, p.641, trad.pessoal.
22. AGOSTINHO DE HIPONA. City of God, Image Books, Doubleday and Co.,Inc. NY., 1958,p.259; __________, City of God, 20,10, Apud CHURCH OF ENGLAND, The Priesthood of rhe Ordained Ministry. Cf. nota 17. Tradução pessoal.
23. AQUINAS, Thomas of. SummaTheologica, 3a. lxiii,6 c, et ad I,2, Apud: Theological Texts, Oxford University Press, London, 1955, No.603, p. 360. Tradução pessoal.
24. ILLARZE Enrique, As Funções Liturgicas das Ordens Sagradas, Apud: INCLUSIVIDADE/CEA,ano III, No.9, 2004, pp.18-44.
25. CHURCH OF ENGLAND. The First and Second Prayer Books of King.Edward the Sixth, publ. J. M. Dent and Sons, London, 1927, p. 292. Tradução pessoal.
26. ARCIC II, Church as Commission. Published by ACC, London, 1998, 31, 41. Tradução pessoal.
27. CHURCH OF ENGLAND, Commision on Christian Doctrine, London, 1939, 129.
28. GREENWOOD, Robin. Transforming Priesthood - A New Theology of Mission and Ministry., SPCK, GB, 1997, pp. 15, 30, 62-63.
29, 30 e 31. MORE, Paul and CROSS, Frank. Anglicanism. SPCK, London, 1962, p. 345ss, 370, 356. Tradução pessoal.
32. WEBER, Max. Economia y Sociedad, Ediciones de la Comunidad, Montevideo, 1961, vol. 1, p. 52 e 228. Tradução pessoal.
33. ONOFRI, F. Poder y Estructuras Sociales. Edit. Tiempo Nuevo, Méjico, 1970, t. 2, p. 43-67, Apud: Fundación de Cultura Universitaria, ficha 8: Sobre el Concepto de Poder: Tipología del Poder y Construcción de un Modelo, Montevideo, s/d, p. 3-4.
34. SCHWEITZER E, Order in the New Testament, SCM Press,London, 1961, ch. 4.
35. GOLDINGAY, John. Authority and Ministry, Grove Books.Notts.UK, 1976, p. 20.
36. DUNN, J. D. G., Jesus and the Spirit, SCM, GB, 1975, p.360.
37. GOLDINGAY, John. Op. cit. p. 24.