09 julho 2007

Trindade V - 8 de Julho de 2007

Isaías 66.10-14
Salmo 30
Gálatas 6.14-18
São Lucas 10.1-12, 17-20

O Assombro e o Horror da Natureza

Assim como eu, muitos milhões de pessoas já devem ter se sentido horrorizados pela visão de documentários na TV que nos mostram a crueza - da vida na natureza. Uma série ficou particularmente bem conhecida. É O Planeta Vivo, de David Attenbourough. Como eu, devem ter sentido também a impotência diante da vida ou sobrevivência dentre os animais selvagens. Duas imagens permanecem: Primeiro, a de um pingüim macho que espera e resiste por três meses, na superfície gelada, cuidadosamente chocando um único ovo... equilibrado sobre seus pés. Enquanto a fêmea desaparece na busca de alimento, o macho ali permanece, virtualmente quieto, no frio mais absoluto, sem nada para comer, mês após mês. Quanto cuidado por um simples ovo! Como deve ser forte o impulso para permitir a vida de um filhote e assegurar a espécie.

A outra imagem é menos feliz. Trata-se de uma lagarta que poderá ser totalmente espicaçada e comida por formigas, se estas tiverem êxito em seu ataque. Para proteger-se, a lagarta produz uma resina que adere aos olhos das formigas. Desorientadas, passam a andar, perdidas, em roda. A elas junta-se também um odor estranho - da resina - e, assim, retornando para casa, dado o odor do inimigo, são atacadas e mortas como se fossem a lagarta mesma. São devoradas vivas por suas próprias semelhantes. Parece ser uma vingança cruel que não conseguimos compreender. Parece uma crueldade embutida na natureza mesma, sob muitas formas. Para muitos, esta percepção soa como pedra de tropeço para a fé em um Deus de amor, Autor de Criação.

O que se pode dizer? Primeiro, pelo menos, que aqueles animais não sabem de sua destinação. Nós é que podemos temer pelo que nos pode acontecer. Os animais não têm como antecipar tal pensamento. Também, diferentemente do que acontece com outros animais (cães, gatos, cavalos e outras espécies mais desenvolvidas...), parece que as formas mais inferiores de vida não sentem dor. Uma borboleta plana livre e, subitamente, desaparece ao ser engolida por um pássaro; mas ela não sabia o que iria acontecer, nem tinha conhecimento do processo mesmo - e até onde podemos supor - o que aconteceu não lhe foi doloroso. Enquanto voou com suas cores brilhando sob o sol, glorificou a Deus segundo a sua espécie. Ela foi ela mesma; viveu a forma de vida que Deus para ela preparou. Se é assim, há algo que se pode dizer... embora o efeito cumulativo - do - maior que engole o menor - ou seja, sem dúvida, muito triste. Foi este tipo de coisa e não a Teoria da Evolução o que desgastou a fé religiosa de Darwin! Nutrir-se e ser fonte de nutrição parece ser o padrão da natureza. O criador de um sistema assim não nos parece ser humano. Há aqui, contudo, uma advertência para que não pensemos em Deus em termos puramente humanos.
William Blake escreveu:

Tigre! Tigre! Brilho que queima
nas florestas da noite!
Que mãos ou olhos imortais
Poderiam emoldurar tua assimetria assustadora?

Estas são linhas que nos recordam do assombroso mistério da Criação. Nós pensamos humanamente, mas Deus pensa não só como nós... ele pensa também como tigre, como pássaro, como cobra, como estas criaturas. Ele as pensa e as conduz à existência.
Há dimensões de Deus refletidas na grandeza, maravilha e ameaças da natureza... que nossas pobres mentes nem podem imaginar. Contudo, somos deixados sem algo em que nos apoiar.
Para nós, Deus se revelou humanamente. Em Cristo, o nevoeiro dos mistérios se dissipa e percebemos o rosto humano de Deus. Somos humanos e Deus assim se relaciona com a humanidade.

Bendizemos Teu Santo Nome, ó Deus,
Pelo mistério e encanto da vida animal
Mas, acima de tudo... pelo fato de que, em Cristo
Tu nos encontras como um de nós.

D. Richard Harries, 41º Bispo da Diocese de Oxford,
Morning Has Broken




Criou, pois, Deus todos os sêres viventes... segundo as suas espécies.
E viu Deus que isso era bom. (Gênesis 1.21)



Disse Deus: e voem as aves...sob o firmamento dos céus. (Gênesis 1.20)


... e sobre a terra... (Gênesis 1.20)

CONFIANÇA

Lembremos sempre que há duas coisas mais incompatíveis que óleo e água - a saber, confiança e precupação. Você chamaria de atitude de confiança - se precisasse deixar algo a ser feito, em mãos de um amigo, e então passasse dias e noites com a cabeça cheia de ansiedade e preocupação, cogitando sobre se tudo teria mesmo sido feito de forma certa? Se você confiou em Deus... em algumas poucas coisas, Ele não falhou com você. Assim, confie agora para tudo, e veja se Ele não fará por você bem mais que... o que você jamais ousou ou pensou pedir.
Hannah Whitall Smith, A Religious Rebel

CONFIANÇA E VIDA NOVA

Se nós, em nossa vida humana, levamos a entrega a Deus a sério; se Deus nos invade como força da luz, como energia elementar, a única que possibilita uma vida nova - então seremos capazes de viver a nova vida.
Eberhard Arnold