31 agosto 2008

31 de Agosto de 2008 • Trindade XV

Leituras

Profecia de Jeremias 20.7-9
Salmo 26.1-8
Carta aos Romanos 12.1-2
Evangelho de S. Mateus 16.21-27

Aquietai-vos e sabei: a oração de contemplação

“Há sinais de redescoberta do espírito contemplativo, graças à compreensão de que a contemplação é exposição ao amor divino, tão poderoso em seus efeitos sobre a vida humana.
O efeito da contemplação não é tanto o de criar na pessoa um anseio maior ainda por tal experiência mas o de maior amor e mais vontade de servir sob a soberania de Deus revelada em Jesus. Na verdade, a validade da contemplação é muitas vezes testada pela busca da vida da fé.
A oração e a vida cristãs são descritas, tanto por São Paulo como por São João como profunda habitação de Deus e Jesus nos cristãos, antecipação da glória da parousia. Não estamos muito longe da contemplação, quando lemos - se alguém me ama guardará minha palavra e meu Pai o amará, e ambos viremos para nele fazer habitação.”


É muito importante para a renovação da Igreja cristã que a vocação contemplativa seja mais conhecida e redescoberta. É importante para nós todos, qualquer que seja nossa forma de culto, pois somos todos uma só família. Assim como ela nos ajuda na vida do dia a dia, ao ponto de que mártires dão suas vidas por Cristo, assim nos ajuda também em nossa pobre oração, suscitando aqueles que conhecem a Noite Escura e têm Deus mesmo derramando-se sobre suas almas.”

Arcebispo Michael Ramsey
Gateway to God
Editado por Lorna Kendall
Darton, Longman and Todd – Londres - 1988

24 agosto 2008

24 de Agosto de 2008 • Trindade XIV

Leituras
Profecia de Isaías 22.19-23
Salmo 138
Carta aos Romanos 11.33-36
São Mateus 16.13-20



Intercessão



“A Igreja é chamada como comunidade que fala ao mundo em nome de Deus e que fala à Deus a partir da escuridão e frustração do mundo. O que se chama – intercessão de Jesus - é Sua presença incessante junto ao Pai. Ele permanece com o Pai, não como alguém implorando para que o Pai seja bondoso... já que do Pai a graça sempre flui.
Aproximar-se do Pai através de Jesus Cristo, o Intercessor, é buscá-lo com a consciência do custo de nossa redenção pelo sacrifício feito de uma vez por todas – e por uma vitória conquistada de uma só vez – sacrifício e vitória - são ambos história passada e realidades sempre presentes. É isso que ao mesmo tempo capacita e caracteriza nossa resposta a Deus por Jesus Cristo.
Interceder é ter os outros no coração, buscando a presença de Deus. Nossos próprios anseios têm também seu lugar. Está claro pelo ensino de Jesus, que Deus quer que a Ele digamos nossas súplicas.
Quando, no entanto, nós o fazemos – em nome de Jesus – aprendemos a submeter
nossas vontades ao discernimento do querer divino. A intercessão assim não se torna um bombardeio a Deus, com multidão de pedidos... mas um ofertório das nossas súplicas ao caminho da compaixão mesma de Deus.”


Silêncio

“O silêncio permite que nos conscientizemos da presença de Deus, deixando que a mente e a imaginação repousem sobre a Sua vontade, que a oração seja ouvida mesmo antes de ser falada, revelando nosso próprio eu de uma forma que nem sempre é possível quando nos comportamos ruidosamente ou somos envolvidos pelo barulho. Por vozes ocorre o silêncio interior, no qual a alma se descobre em uma nova dimensão de energia e paz, uma dimensão que a vida inquieta não conhece.
Um mundo assustador em seus ruídos e em sua velocidade é um mundo onde só o silêncio pode reforçar a verdadeira liberdade.
O tempo de silêncio permite ao cristão partilhar mais profundamente na adoração sacramental da Igreja. À prática cristã do silêncio, nos abre a maravilha de Deus o Criador, a memória da vida, morte e ressurreição de Jesus, a recordação de cenas da Sua vida, passagens da Escritura, glórias da natureza em que o dedo de Deus está presente, bem como a gratidão pelas bênçãos pessoais ou por palavras dos poetas... que cantam o encanto e a beleza.”

Arcebispo Michael Ramsey
Gateway to God
Editado por Lorna Kendall
Darton, Longman e Todd, Londres 1988

17 agosto 2008

17 de Agosto de 2008 • Trindade XIII

Leituras
Profecia de Isaías 56.1, 6-7
Salmo 67
Carta aos Romanos 11.13-15, 29-32
Evangelho de São Mateus 15.21-28



Peregrinação a Lindsfarne

“Em poucas horas mais e a maré estará baixa. Retornaremos então para casa, de volta às tarefas domésticas, nossas paróquias e igrejas. Filhos e filhas, tomem com vocês a lição suprema desta ilha santa: levem-na consigo. A lição suprema é a de que nossos pais aqui vieram porque sabiam que, se almas devem ser ganhas, primeiro deve vir o chamado à oração, na quietude e distância da agitação da vida do mundo. Levem isto de volta com vocês.
Sacerdotes, coloquem antes de tudo a oração: sejam homens de Deus: sejam intercessores. Sigam a Cuthbert que, - ao oferecer os santos mistérios se oferecia a si próprio como sacrifício à Deus, com lágrimas de contrição.
Povo, guardem silêncio no tempo da oração: usem suas igrejas para a oração quieta e silenciosa – e o céu ficará mais próximo. Levem isto de volta para casa, esta foi a única coisa que Maria escolheu como necessária.
Nossa glória, filhos, está em nossos pais: recordem sempre deles: agradeçam a Deus por eles: imitem sua fé. E o propósito poderoso de Deus se moverá à frente, e em lugar de nossos pais estarão nossos filhos, príncipes e princesas de Cristo em nossa própria terra.”


A Oração Mais Simples

“Ninguém está tão perto de Deus quanto aquele que tenha tal anseio – por menor e mais inarticulado que seja. É aí que a oração pode começar, a oração por sermos nós mesmos em profunda sinceridade.
Podemos rezar assim: Ó Deus anseio por Ti, eu Te quero, ajuda-me a querer-Te ainda mais. Ó meu Deus, eu te amo tão pobremente, ajuda-me a Te amar como Tu me amas. Ó meu Deus, mal consigo confiar em Ti, aumenta minha fé. Ó meu Deus, em verdade não me entristeço por meu pecado: mas quero, dá-me verdadeira tristeza por ele.
Não encontramos a Deus só por tentar ser mais religiosos que o que somos ou podemos vir a ser.
Não, estaremos mais próximos de Deus tentando ser nós mesmos, e aí Ele poderá começar a encontrar-nos, preenchendo nosso vazio, e assim também, algumas das antigas expressões da religião poderão ficar mais próximas do que temos no coração.”

Arcebispo Michael Ramsey
Gateway to God
Editado por Lorna Kendall – Darton, Longman and Todd, Londres 1988

09 agosto 2008

10 de Agosto de 2008 • Trindade XII

Leituras
I Reis 19.9, 11-13
Salmo 29
Romanos 9.1-5
São Mateus 14.22-33

Deus é Amigo dos Homens

“Deus é amigo dos humanos, e em todas as trocas entre Deus e os homens Ele será sempre aquele que mais concede, dando tanto que o que é oferecido por nós parece quase nada, tênue e microscópico.
Este é o sentido do Natal, da Sexta-feira da Paixão e da Páscoa – Deus dando-se a si mesmo em ofertório generoso à humanidade, aproximando-se de nós, conosco, e em nós muito além da imaginação.
Deus e nós; sim, Deus e nós, juntos, em maravilhosa proximidade.
Quando rezamos não bombardeamos a Deus com nossos desejos. Começamos muito mais próximos dEle, participando de Seu coração e Sua mente, dispondo nossa vontade à Sua disposição para servir ao Seu bom propósito para com este mundo.”


O Propósito de Deus

“O propósito de Deus é como um fluxo de bondade alcançando o mundo e todas as suas necessidades. Mas é nosso privilégio como filhos de Deus ajudar este Seu curso no sentido de alcançar outras pessoas, tornando-se, elas mesmas, canais. Nossas boas ações podem ser canais da bondade de Deus e assim também, nossas orações.
Não é isto que Jesus nos ensina ao alcançar-nos o Pai Nosso, como modelo de oração? Jesus não diz somente – rezem com estas palavras – mas –
rezem com esta seqüência de pensamento e desejo...
Quando dizemos que Deus nos ama, afirmamos que Ele cuida de cada um de nós como não houvesse ninguém mais necessitando de seu cuidado; ele cuida de ti na individualidade mesma que és. Ele quer a ti, para estar com Ele para sempre, para repartir contigo tudo o que Ele tem para partilhar.
Isto é o Céu.
É a perfeição da relação entre Deus e os humanos. Não pode ser algo egoísta de forma alguma já implica no que é plural, e o céu inclui o amor e serviço mútuo de todos os que dele partilham, amor e serviço totalmente integrados com o amor e a visão de Deus.”

Arcebispo Michael Ramsey
Gateway to God
Editado por Lorna Kendall
Darton, Longman and Todd, 1988

03 agosto 2008

Domingo 3 de Agosto de 2008 • Trindade XI

Leituras

Profecia de Isaías 55.1-3
Salmo 78.1-29
Carta aos Romanos 8.35,37-39
Evangelho de São Mateus 14.13-21

A Liturgia da Palavra
“Embora a nova possibilidade do acesso ao Pai por Jesus em um Espírito, oportunizado pela nova aliança, a adoração da nova ecclesia tem uma continuidade real com a adoração da antiga. É o mesmo Deus de glória que é adorado.
Na nova ecclesia as Escrituras da antiga ecclesia são acolhidas como Santas Escrituras, pois se mostram agora falando de Cristo e sua glória. Dentre as Escrituras, o Saltério tem um lugar especial.
O Saltério é usado na Igreja por duas grandes razões:
1 – O Saltério é a voz do Israel de Deus, adorando agora como o fazia com o Criador antigamente, Rei e Redentor, orando pela vitória sobre seus inimigos que não são menos mortíferos justamente por serem espirituais, sutís e invisíveis.
2 – O saltério faz parte do livro de orações de Cristo mesmo. Em seu uso dos Salmos as expressões de adoração, súplica e compromisso, além de dedicação, alcançaram um final perfeito.
Ao usar o Saltério em nome de Cristo os membros do Corpo fazem suas as orações do Cabeça mesmo da Igreja.
Jamais tenhamos nós uma só geração de adoradores não familiarizada com os Cânticos e com os Salmos!

A Liturgia da Eucaristia

A Eucaristia é a forma suprema pela qual o povo de Cristo está, através de nosso Sumo Sacerdote, com Deus e com o mundo todo em seus corações.
O autor e agente da Eucaristia é o Verbo de Deus. O Verbo é proclamado nas leituras da Escritura e na pregação. Então, o Verbo Jesus abençoa o pão e o cálice, nos convida e envia.
Jesus, o Verbo, nos nutre para que possamos sempre mais crescer em Seu próprio Corpo neste mundo, partilhando com Ele no trabalho da re-criação do mundo. Não somos nutridos para nos refugiarmos com Ele em uma espécie de espaço da religião mas para sermos conduzidos com Ele, no trabalho de moldar o mundo à sua própria semelhança.
O sentido de toda vida está aí estabelecido, uma vez que os humanos foram criados para adorar a Deus.
Como a Encarnação, a Eucaristia consiste na irrupção, na história, de algo eterno, além da história, algo impossível de ser apreendido em termos históricos somente.
A questão suprema não é a do que fazemos da Eucaristia mas o que ela faz de nós ao, (juntamente com o Verbo), nos conduzir ao caminho de Cristo.

Arcebispo Michael Ramsey
Gateway to God
Editado por Lorna Kendall
Darton, Longman and Todd, 1988