04 novembro 2007

IV Domingo Anterior ao Advento

Leituras

Sabedoria 11.22—12.2
Salmo 32.1-8
II Tessalonicenses 1.11—2.2
São Lucas 19.1-10





A Morte e a Comunhão dos Santos

A Preparação para a Morte

A morte é a chave de nossa atitude para com a vida. Quem tem medo da morte tem também medo da vida. É impossível não ter medo da vida com toda a sua complexidade e perigos, se temos também medo da morte. Isto significa que resolver o problema da morte não é um luxo.. Temendo a morte, jamais estaremos preparados para enfrentar os riscos últimos; desperdiçaremos nossa vida de forma cuidadosa e tímida. Somente se podemos encarar a morte, dela fazer sentido, determinar o seu lugar e o nosso, um em relação ao outro, é que seremos capazes de viver de forma destemida, na plenitude de nossa capacidade. Muitas vezes, esperamos até o final da vida para então encarar a morte, enquanto que teríamos vivido muito diferentemente se somente a tivéssemos encarado desde o começo.
Na maior parte do tempo nos portamos como se estivéssemos escrevendo o rascunho para uma vida que viveremos mais tarde. Vivemos, não de forma definitiva, mas provisoriamente, como se nos preparássemos para o dia quando então realmente começaremos a viver. Somos como pessoas que escrevem um rascunho bruto com a intenção de copiá-lo melhor, mais tarde. A versão final jamais chega a ser feita. A morte chega antes que tenhamos tempo ou desejo para efetivar uma formulação mais definitiva.
A advertência– lembrem da morte – não é um chamado a que vivamos oprimidos pelo terror, pela lembrança constante de que a morte naturalmente virá. Antes, significa – lembrem o fato de que, aquilo que estão dizendo agora, fazendo agora, escutando agora, sofrendo ou recebendo agora, bem pode ser o último evento ou experiência de sua vida presente -. Neste caso, deve mostrar-se como coroação e não derrota; cume, e não abismo. Se, pelo menos, compreendêssemos, ao encontrar alguém, que este pode ser o último momento, seja da sua vida ou da sua própria, seríamos certamente muito mais intensos, muito mais atentos às palavras que falamos e às coisas que fazemos.
Somente a consciência da morte dará à vida esta urgência e profundidade, trazendo vida à vida, fazendo-a tão intensa que sua totalidade se resume ao momento presente. A vida toda é, a cada momento, um último ato.”
Metropolita Anthony de Sourozh


Festival de Todos os Santos

Homem algum pense que, só por estarem as almas benditas fora do alcance da vista, e que estando nós aqui, lutando neste vale de lágrimas, tenhamos perdido a comunhão mútua uns com os outros. Não; ainda há, e sempre haverá, uma correspondência infalível entre o céu e a terra. A felicidade atual destes cidadãos celestiais não abateu seu conhecimento e caridade, e deve mesmo ter neles suscitado uma experiência muito mais alta de ambas as virtudes. Eles, geralmente, têm bem diante de si as tristes condições de nós todos, pobres peregrinos aqui embaixo. Para nós, pobres viajores, ainda lutando contra tantas dificuldades, não podemos esquecer a nossa metade muito melhor, a que já está no gozo da glória, glória pela qual nós, ainda militantes, tanto lutamos e aspiramos; nossas cabeças e ombros estão acima d’água... mas o restante do corpo ainda caminha sob as águas do rio.

Joseph Hall, Bispo de Norwich – 1574-1656