22 setembro 2007

Trindade XVI

Leituras de Domingo

Profecia de Amós 8.4-7
Salmo 138
I Carta a Timóteo 2.1-8
Evangelho de São Lucas 16.1-13



Oração de Compaixão

Em 1938 um homem morreu no Monte Atos. Era um homem simples, um camponês russo que chegou ao Monte Atos quando ainda andava pelos seus vinte anos e aí permaneceu por mais ou menos cinqüenta anos... Por um longo tempo esteve encarregado de supervisão das tarefas braçais do mosteiro. Os trabalhadores do mosteiro eram também jovens camponeses russos que vinham por mais ou menos um ano ou dois, só para reunir algum dinheiro... e então retornar às suas aldeias com algumas libras... para iniciar uma família, construindo uma habitação escavada na rocha e comprar o necessário para o trabalho em suas lavouras.
Um dia, outros monges, que também supervisionavam diferentes trabalhos, disseram – Padre Silouan, como se explica que as pessoas que trabalham sob seus cuidados o fazem tão bem, mesmo que o senhor não os fiscalize? Nós gastamos nosso tempo orientando-os em seus deveres e eles continuadamente tentam nos enganar? O Padre Silouan respondeu – eu não sei. Mas posso contar a vocês o que faço a respeito disso. Quando chego, pela manhã, nunca venho sem antes ter rezado pelos trabalhadores e venho com o coração cheio de compaixão e amor por eles, e ao chegar na área de trabalho, tenho lágrimas na alma de tanto amor por eles. Eu então designo as tarefas para o dia e, enquanto eles trabalham, rezo por eles. É assim que retorno à minha cela e rezo por todos eles, individualmente. Ponho-me diante de Deus e digo – Senhor, lembra do Nicolau. Ele é jovem, somente vinte anos, deixou sua aldeia e também sua esposa, mais jovem ainda que ele, e seu primeiro filho... – E assim – disse ele – passo os meus dias, rezando por todos deles, um após outro e, quando o dia termina, vou e lhes falo algumas poucas palavras, rezamos juntos e então retornam para o descanso. Aí, volto também eu para meu ofício monástico.

Anthony Bloom, School for Prayer


Desprendimento

Os cristãos devem ser claros com respeito aos bens e propriedades. Não devem condená-los, já que são coisas boas. Mas devem ser firmes e radicais com relação ao instinto possessivo que aí existe. Nestas coisas, Cristo pede por nada menos que tudo e rejeita qualquer concessão – certamente porque os fatos em si rejeitam tais concessões. Se não ajo firmemente contra meu instinto possessivo, serei por ele possuído. É ele que me possuirá e guiará. Serei aprisionado numa espiral sem fim de desejo, realização e, brevemente, tanto minha entrega a Deus quanto minha abertura para o próximo estarão aniquiladas. Na verdade, estes dois mandamentos de amor do evangelho pressupõem uma atitude de pobreza e desprendimento em relação ao eu, os quais são incompatíveis com um espírito aquisitivo. Talvez a razão pela qual falhamos tão freqüentemente em amar como devemos não se explique por algum defeito de amor em nós mas porque não temos disposição em dobrar a ganância e assim, inevitavelmente, nos colocamos antes dos outros. Chegando a uma situação mais conclusiva, nós nos agarramos às nossas próprias necessidades e deixamos o próximo em segundo lugar. Isto é verdade tanto para famílias quanto para indivíduos.
A entrega a Deus em adoração e ao próximo, em disponibilidade, implica em abrir mão, que é justo o oposto do espírito aquisitivo. Precisamos ser muito honestos conosco mesmos sobre nosso instinto possessivo. A menos que o arranquemos pela raiz, ele tomará conta e abafará todos os sentimentos bons em nossos corações, deixando só a preocupação egoísta. Jesus realmente falou sério ao dizer: Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro.

John Dalrymple, Costing No Less Than Everything