23 dezembro 2007

Advento IV

Leituras


Profecia de Isaías 7.10-17
Salmo 24.1-7
Carta de São Paulo aos Romanos 1.1-7
Evangelho de São Mateus 1.18-25




Os textos do 4º. Domingo do Advento nos trazem alguns elementos fundamentais da cristologia e suas mensagens são de especial importância na espiritualidade que envolve toda a quadra litúrgica. O texto da Profecia de Isaías é base para a compreensão messiânica neotestamentária, para as confissões de fé do período sub-apostólico, comumentemente chamados de ‘credos’ e o embrião do mistério da encarnação. O filho anunciado no oráculo profético, chamado Emanuel ­na tensão de toda a situação política enfrentada pelo Rei Acaz, soa também como em muitos outros textos: “Eu estou contigo”. Para o rei Acaz, certamente a presença de Deus em meio à situação de conflito bélico eminente significava ‘proteção’, este é o sinal que Yahweh dá ao Povo de Deus. ‘Ele se alimentará de coalhada e mel’ (v. 15), é uma boa referência de que o filho da promessa no oráculo, bem ou mal, se alimentará daquilo que for possível. É importante não confundirmos a referência com expressões comuns ao pentateuco como leite e mel, que são sinais de fartura, abundância e prosperidade. Aqui em Isaías, a realidade é diferente. O Emanuel terá o necessário para sua sobrevivência. Entretanto, a promessa de salvação está garantida antes mesmo que o menino chegue à idade da razão.
O Salmo é um belo exemplo da Teologia régia, afirmando a soberania de Yahweh, estando em suas mãos os fundamentos da terra e o seu governo. O refrão do salmo pergunta: Quem é este rei da glória? Yahweh é o rei da glória! (Senhor dos Exércitos), referência também na liturgia cristã, presente no Sanctus – Senhor Deus dos exércitos (ou celestes hostes) – no LOC Deus do Universo. Toda a criação espera por seu rei: ‘os céus e a terra estão plenas da tua glória’, e ‘bendito o que vem em nome do Senhor’. É do Rei da Glória, o Emanuel que brota a esperança do Povo de Deus, da instalação do seu Reinado e Governo.
São Mateus retoma a promessa profética na aparição angélica em sonho à José. E insere um novo nome à criança, seu nome será Jesus, que é apresentado como o Emanuel da promessa profética. O mistério da encarnação desenvolve nas entrelinhas todo o esforço de Deus para redimir a humanidade, tomando para si a nossa natureza. Jesus é o ‘novo Adão’, o primeiro da nova criação, da nova humanidade.
Na coleta deste domingo, somos orientados à purificação de nossas consciências para a habitação de Jesus Cristo. Nossa consciência é a porta de entrada da esperança cristológica. Foi ao ouvir, e entender conscientemente que Maria acolheu o mistério da encarnação de Jesus. A consciência é o útero da esperança para a nova criação, para a novidade, de uma nova humanidade. É através de sua pureza que somos ‘moradas’ de Jesus. Certamente a imagem metafórica da pobre manjedoura pode ser aplicada aqui. Nossas consciências não são mais que isso. Mas que em sua humildade em aceitar a Cristo, mesmo sem muita compreensão do mistério salvífico de Deus, pode perfumar o mundo com o suave incenso da pureza à qual a coleta nos convoca. Assim, preparemos nossas vidas, ‘abrindo os portais’ de nossos sentidos e razão, para que Cristo habite em nós e em nós faça sua morada. Ele é o Emanuel e sua promessa de que sempre estará conosco é real.