13 janeiro 2008

1º. Domingo depois da Epifania

Leituras

Profecia de Isaías 42.1-9
Salmo 89.20-29
Atos dos Apóstolos 10.34-38
Evangelho de São Mateus 3.13-17

Os textos deste domingo trazem as impressões elementares para uma cristologia messiânica. Um novo sinal da ‘epifania’ cristocêntrica no Batismo de Jesus Cristo. Por isso, o primeiro domingo depois da Epifania também é chamado de domingo do Batismo de N. Sr. Jesus Cristo. O mistério apontado pela coleta reside na manutenção da aliança batismal feita em Jesus Cristo, por isso nossa ênfase será essa entre tantos temas transversais às lições dominicais. A releitura cristã do ‘Canto do Servo’ na Profecia de Isaías encontra seu paralelo no Evangelho de Mateus. Em Isaías, Javé dá o Espírito (Ruhi) ao seu Servo – o mesmo que pairava sobre as águas em Gn. 1 – para o Julgamento das nações. Em Mateus após o batismo de S. João Batista, o céu se abre, o Espírito de Deus (Pneuma tou Theou) repousa em forma de pomba e uma voz rompe o silêncio. A unção de Jesus Cristo com o Espírito de Deus é o marco inicial de sua missão entre a humanidade, após esse acontecimento Jesus vai para o deserto para sua preparação. O Salmo 89 nos fala da unção de Davi e a palavra servo (v.20) também é utilizada. Os medievais irão chamar a Plenitude de Cristo como “gratia unionis”. Não propositalmente o texto se enquadra neste domingo. Em todo o tempo da Epifania, a messianidade régia de Jesus é defendida pelos evangelistas, e a ligação direta com Davi teologicamente é necessária. Jesus o servo ungido por Javé como Davi. Essa conotação é dada por Pedro em seu discurso nos Atos dos Apóstolos quando diz que Jesus foi ungido com o Espírito Santo e com Poder (dünamei – melhor traduzido por potência), a força criadora do Universo. O texto é perpassado por uma cristologia do espírito (pneumo-cristologia).
O batismo de Jesus não deve ser modelo doutrinário para o batismo cristão, pois certamente não foi batismo de arrependimento e ‘novo nascimento’ como a construção paulina do sacramento, mas como o texto evangélico diz: para que se cumpra a lei (justiça). Por isso,o próprio S. João Batista hesita em batizá-lo. Entretanto o batismo de Jesus o alinha com toda a esperança escatológica do Reino de Deus. Em Isaías, o servo é chamado para ‘abrir os olhos dos cegos’ – libertação da alienação, ‘soltar do cárcere’ – libertação da opressão e ‘libertar os que habitam nas trevas’ – libertação da ignorância (v.7). Em Atos, Pedro diz que Deus não faz acepção de pessoas (v.34), ou seja, não toma partido; e em Isaías o Servo é chamado para ser Luz das nações (v.6). Interessante também reparar a intensa Teologia da Criação no v. 5 de Isaías. Jesus é chamado para uma Nova Aliança, para a restauração de toda a criação para a Nova Criação. A novidade da Nova Criação já é antecipada por Isaías: ‘coisas novas vos anuncio!’ Esta aliança é a que fazemos em nosso batismo e lembrada pela coleta de hoje para que zelemos por ela. É pelo zelo aos votos de nossa aliança batismal que mantemos a esperança de nossa salvação em Jesus Cristo. S. Pedro nos diz que ‘Deus estava com ele’, uma inversão de S. João cap. 1, que nos diz que o verbo estava com Deus no princípio de todas coisas. Na Nova criação, Deus está com o Verbo, encarna-se. A pergunta de todos os tempos: “Onde encontraremos a Deus?” A comunidade das origens cristãs não hesita em responder de maneira paradoxal: “Deus está em Cristo!” Jesus é o Emanuel, o Deus conosco e do nosso lado. A efusão do Espírito sobre Jesus, permite reler a história de trás para diante e reconhecer a vocação de toda a criação para Cristo desde o início.