20 janeiro 2008

2º Domingo depois da Epifania

Leituras

Profecia de Isaías 49.1-7
Salmo 40.1-10
1ª. Carta de São Paulo aos Coríntios 1.1-9
Evangelho de São João 1.29-41


São poucos os que amam a Cruz de Jesus Cristo

1. Jesus Cristo tem agora muitos que amam o seu reino celestial, mas poucos que levam a sua cruz. Muitos desejam sua consolação e mui poucos desejam a tribulação. Encontra muitos companheiros para a sua mesa, mas poucos para a sua abstinência. Todos querem gozar de sua alegria, poucos, porém, querem sofrer alguma coisa por Ele. Muitos seguem a Jesus até ao partir do pão, poucos, porém, até ao beber do Cálice da sua paixão. Muitos admiram seus milagres, mas poucos abraçam a ignomínia da cruz. Muitos amam a Jesus, quando não há adversidade. Muitos o louvam e exaltam, enquanto recebem dele algumas consolações. Porém, se Jesus se lhes esconde ou deixa por algum tempo, logo se queixam ou desanimam.
2. Aqueles, porém, que amam a Jesus por amor de Jesus e não por amor da sua própria consolação, tanto o louvam em toda a tribulação e angústia de coração, como nas mais doces consolações. E ainda que nunca mais lhes quisesse dar consolação, sempre o louvariam e lhe dariam graças.
3. Oh! Quanto é poderoso o amor de Jesus, quanto é puro e sem mistura de interesse ou de amor próprio. Não são por ventura mercenários os que sempre buscam consolações?
Não se amam a si mais que a Cristo os que de contínuo pensam em seus proveitos e comodidades? Onde se achará algum homem que queira servir a Deus, de graça? Ainda entre as pessoas espirituais raramente se encontra uma que viva inteiramente desapegada de tudo.
4. Quem descobrirá, pois o verdadeiro pobre de espírito e desapegado de amor de todas as criaturas? “Pérola preciosa que é necessário buscar até às extremidades da terra”. (Prov. 31.10). “Ainda que o homem dê por ela quanto possui, nada dá” (Cant. 8.7). Se fizer grande penitência, ainda é pouco. Ainda que compreenda todas as ciências, está longe dela. E se tiver grande virtude e mui fervorosa devoção, ainda lhe falta a coisa mais necessária. Qual é essa coisa necessária? É que, deixado tudo, se deixe a si mesmo, e saia totalmente de si e não lhe fique nada de amor próprio. E quando tiver feito quanto crê dever fazer, ainda se persuada de que nada tem feito.
5. Não tenha em muito que o avaliem por grande, mas confesse com toda a sinceridade que é um servo inútil, como dia a Verdade eterna: “Quando tiverdes feito tudo que vos é mandado, dizei: Somos servos inúteis”. (Lc. 17.10). Quando o homem chegar a este ponto, então poderá chamar-se verdadeiro pobre de espírito e desapegado de tudo, e dizer com o Profeta: “Sou pobre e só no mundo” (Sl. 24.16). Ninguém, todavia, é mais rico, ninguém, mais poderoso, ninguém, mais livre que aquele que sabe deixar-se a si e a todas as coisas, e pôr-se no último lugar.

[St. Thomas à Kempis, “Imitação de Cristo”. São Paulo: Ave Maria, 23ª. ed., cap. XI, pg. 172-175.]