14 fevereiro 2009

15 de Fevereiro de 2009 - Epifania VI – Domingo da Sexagésima

Leituras

Levítico 13.1-2, 45-46
Salmo 42
I Coríntios 10. 31—11.1
São Marcos 1.40-45


A Encarnação


A força e gênio da tradição espiritual Anglicana se enraízam na Encarnação. A tradição espiritual Anglicana recebe seu poder e efetividade de uma visão da Encarnação que é “caseira”, regular e mundana. O peso do testemunho Anglicano repousa no poder da comunhão diária em comunicar o que é Santo.
No centro desta tradição espiritual está a percepção de que a vida propriamente vivida é devocional por natureza. A oração é o anseio humano suscitado pelo Santo Espírito em unir-se ao propósito de Deus. Assim, a vida vivida devocionalmente e intencionalmente, com a atenção voltada à vontade Deus, nos molda em caminhos enraizados na existência diária regular. Através dos eventos diários Deus nos capacita a participar no efeito cósmico da Encarnação. Isso implica também em que oramos não para mudar quem Deus é, mas para abrir-nos às mudanças que Deus tem em mente para nós todos. A implicação desta perspectiva é imensa em nossa busca pela percepção da ação de Deus no mundo e nas nossas vidas. Não necessitamos seguir caminho esotérico algum de iluminação. Nossa peregrinação exige atenção séria aos encontros e eventos diários. Uma das formas de se cultivar uma sensibilidade apropriada à atividade de Deus na realidade de nossas vidas está em devotar-nos a nós mesmos tempos regulares de oração, meditação e adoração; assim, o curso diário aparentemente mundano de viver será uma continuada oração oferecida a Deus, que nos criou, redimiu e sustenta.
Para os Anglicanos, os dois ofertórios mais compreensivos alcançando o substrato para esta atividade divina são os Ofícios da Oração Matutina e Vespertina, alicerçados ma Santa Eucaristia. De forma sutil e nem sempre compreensível, o comprometimento regular com estes Ofícios e a Eucaristia abrem espaço em nossos corações e nossas vidas para um encontro com o Santo. O tempo empregado em comunhão regular com os Ofícios Diários e na Eucaristia provém o substrato que vai ao mais fundo de nossa vida espiritual, despertando em nós a fome por intimidade que nossa natureza feita à imagem de Deus sempre exige, provendo assim o contexto para comprometimento e a profundidade ainda maior com Aquele que busca por nós.
Outras tradições cristãs também tomam e utilizam estes dois meios de encontro com a santidade para nutrir suas expressões peculiares de espiritualidade. Nós todos partilhamos discernimentos e materiais, sem falar no depósito vital e vivificante da Santa Escritura. Todas as tradições eclesiais podem aprender lições inestimáveis umas das outras a respeito disto que é tão antigo e tão desafiador, a peregrinação chamada de Vida Cristã. Como Anglicanos temos um dom distinto para contribuir para com a vida da família cristã inteira, sem qualquer pretensão de dominação, algo enraizado em nossa própria história e experiência.


William Willoughby, The Anglican Digest