23 novembro 2008

23 de Novembro de 2008 • Domingo Anterior ao Advento • Festa de Cristo Rei

Leituras
Profecia de Ezequiel 34.11-12, 15-17
Salmo 95.1-7
I Carta aos Coríntios 15.20-26,28
São Mateus 25.31-46


A Vontade de Deus e a Minha


“Nossa liberdade e anseio por independência são muito escassos: é só a superfície consciente da mente; mas há então, uma grande profundidade abaixo, da qual temos uma noção muito pobre, e que, sem dúvida, afeta nossas ações em extensão indeterminada.Quando eu ainda tentava nadar, me sentia valoroso ao percorrer algumas águas mais profundas; mas tomava o cuidado para não pensar no terrível espaço abaixo entre os meus pés e o fundo; eu me concentrava na superfície e tentava me alegrar. É assim mesmo, sem dúvida, com nossa vida consciente. Nos mantemos à superfície da mente e achamos que somos livres. Fazemos um monte de coisas com nossas muitas atividades e iniciativas e ficamos com a impressão de que andamos na direção que escolhemos; mas se olharmos ao redor, considerando nossas coisas, veremos que a corrente foi o que nos conduziu.

O bom nadador, que não conhece a praia, se afogará em sua própria natação; ele não conseguirá nadar contra as ondas. Mas a familiaridade com a água certamente preservará o nadador comedido: ele conhece as correntes de fundo e saberá evitar o esforço. A maré prosseguirá em outro sentido mas ele avançará em outro, acima das águas perigosas.

Nós precisamos nadar, a menos que afundemos – quer dizer – precisamos exercer nossa vontade. Esforço inarredável, este tem sido o caminho dos santos. E ainda assim, por nossa vontade somente, muito pouco podemos fazer. Pois devemos amar... e este é o primeiro mandamento, a Deus – e ao nosso próximo, com o mesmo zelo de Deus: se não conseguimos amar, nada alcançamos: não, nada que falemos com a linguagem dos anjos, nada que dominemos em todos os mistérios do conhecimento, ou mesmo que demos tudo o que temos e nos vistamos como franciscanos. Não iremos a lugar algum sem amor; mas estará o amor no comando? Posso eu amar só por cerrar os dentes e fechar bem os punhos? Enrijecer os músculos, ferver o sangue, imitar o tigre? Não: que os céus nos salvem dos cristãos de tipo tigre, bufando como próprio demônio, buscando a quem devorar.

Sou instruído a amar, e o amor não está no comando; ainda assim, sei bem para onde as correntes da caridade fluem, e posso me associar a elas. Ezequiel teve uma visão (capítulo 47): um grande afloramento de água, clara, abundante e doce, brotou do solo do templo, em colinas muito áridas. O leste e o oeste foram envolvidos como por um dilúvio:na direção do leste, até o Mar Morto, e em toda parte, a água chegou, e a vida ressurgiu. As correntes de água doce se espalharam através das águas onduladas do lago, e onde quer que fossem, os peixes começaram a se reunir como enxames. Assim somos nós: assim são as nossas almas, vivas somente naquelas correntes suaves que fazem seu caminho e isto, desde o dia de Pentecostes, acalmando e curando o mar agitado. Será que podemos achar nosso caminho dentre estas correntes? Sim: podemos entrar em nosso quarto, fechar a porta, e rezar ao Pai nosso que nos escuta em secreto, em comunhão com o Redentor que nos deu este mandamento; e então podemos esperar por seu Espírito. Clamaremos por Deus e Deus mesmo dará o amor que nos impulsiona a Ele; lembraremos de nossos amigos e de nossos inimigos também, se temos tantos, e o cuidado de Deus por eles nos moverá. Deus é nossa liberdade, Deus é nosso poder: pois Deus é Espírito.”


Austin Farrer em Words for Life, editado por Charles Conti e Leslie Houlden, SPCK, Londres, 1993, página 23