31 janeiro 2009

1º de Fevereiro de 2009 • Epifania IV

A Epifania, o Bispo Andrewes e nós todos.



“Deus avisou em um sonho os visitantes do Oriente para não voltarem aonde estava Herodes... eles voltaram para a sua terra por outro caminho.”
São Mateus 2.12



Na festa do Natal de 1622, o Bispo Lancelot Andrewes suscitou um discernimento novo a respeito da jornada dos Magos. Sugeria então que história antiga dos Magos é uma parábola da conversão dos seres humanos; uma parábola da conversão de todos nós na peregrinação Cristo. Era a viagem através de um deserto inóspito, com camelos recalcitrantes e guias de viagem que não mereciam toda confiança, sempre através de vilarejos e cidades muitas vezes hostis, além da impressão recorrente de que tudo parecia ser loucura. Mas era a viagem estranha e arriscada na direção de um mundo novo e diferente. Ao final da viagem um paradoxo: nascimento e morte. O nascimento de Cristo e nossa morte. A morte de Cristo e o nosso nascimento. São paradoxos terríveis que estão bem no centro da vida e da fé cristãs. Vivendo, morremos e, morrendo, vivemos. Nascimento e morte são os dois lados de toda transformação e a Epifania tem a ver com transformação.
O Filho de Deus se manifesta. “Portanto, todos nós, com o rosto descoberto,refletimos como um espelho a glória do Senhor. Aquela glória vem do Senhor, que é o Espírito. Ela nos torna parecidos com o Senhor, e assim a nossa glória cada vez fica maior.” II Cor. 3.18. “Parecidos com o Senhor” ou, transformados pela adoração!
Não mais conformados com este mundo mas “transformados pela renovação de nossa mente”. Esta renovação é um contínuo morrer em nós. Mas é também contínuo renascer. Em Cristo, morremos para nEle viver: este o mistério da redenção; este o mistério da liturgia que celebramos: “Vocês já morreram, e suas vidas estão escondidas com Cristo, em Deus.” Colossenses 3.3. Por detrás das imagens da Epifania que todos conhecemos e adoramos, há a história da jornada da fé através de uma terra estranha, para encontrar o Verbo de Deus bem em meio à ambigüidades das palavras humanas, e também para provar o gosto da vida de Deus nos santos sinais do Pão e do Vinho, para encontrar a morte na vida e a vida na morte, para adorar o mistério e nos deixar ser por Ele transformados. Onde está o Filho de Deus que veio para nos salvar? Onde está o Pão da Vida pelo qual tanto ansiamos? Pela fé, somos todos reunidos como no estábulo. A fé nos faz encontrar o Verbo de Deus em palavras humanas; a fé nos faz experimentar a vida mesma de Deus nos mistérios do Pão e do Vinho, a fé nos faz encontrar e servir ao Filho de Deus uns nos outros, e não menos, ela nos faz ver e afirmar a glória que brilha aí. Então, Belém é para nós também. A Epifania também é para nós; a Sua glória brilha e nós oferecemos nossos dons de adoração. Encontrando o Senhor em Belém, nós o adoramos e não retornamos como éramos antes. Não retornamos a Herodes. Transformados pela adoração, retornamos por outro caminho. “...eles voltaram para a sua terra por outro caminho.”

(NOTA: Lancelot Andrewes (1555-1626), Bispo de Winchester, se afirmou como pregador célebre, especialmente nos grandes festivais da vida da Igreja. Seu trabalho mais conhecido entre nós é talvez a coleção de orações editada em 1648, Preces Privatae. Ele desejava que a Igreja expressasse sua adoração através de um cerimonial bem ordenado e, em sua própria capela a comunhão em ambas as espécies - pão e vinho – era oferecida, além do uso regular de incenso e velas.)