22 julho 2007

Trindade VII - 22 de Julho de 2007

Gênesis 18.1-10
Salmo 52
Colossenses 1.15-28
São Lucas 10.38-42

O Louvor de Marta

Bendita és tu, Marta, a quem o amor deu a confiança para falar.
Pelo fruto, a boca de Eva permaneceu fechada enquanto se escondia dentre as árvores.
Bendita é tua boca que se expressou forte, e com amor,
na mesa sobre a qual o Senhor estava reclinado.
Tu és maior que Sara que serviu aos servos, pois serviste ao próprio Senhor de todos.
Efrem (373), dos Hymns on Virginity and
on the Symbols of the Lord



A Pomba do Santo Espírito
Inspirada por Mosaicos da Igreja Primitiva, Roma, 1860


Contemplação e Ação

Conforme seus princípios dualistas, a teologia medieval muitas vezes estabeleceu uma ordem que, correspondendo à da vida espiritual e mundana - ou teoria e prática, valorizava mais a vida contemplativa que a
vita activa (a vida de ação). Mas era precisamente esta sobrevalorização da contemplação sobre o agir que grandes místicos como Eckhart e Teresa de Ávila criticaram e avançaram.

O texto relativo à esta visão, em termos do pensamento cristão, aparece na interpetação do relato do Novo Testamento sobre as duas irmãs, Marta e Maria... Uma atuou como hospedeira e a outra ouviu o ensino. Desde Santo Agostinho, a atenção quieta às palavras de Jesus e os cuidados incessantes das necessidades diárias do corpo foram interpretados como imagens da vita contemplativa e da vita activa. A primeira foi considerada como de maior valor, mais espiritual e mais essencial, enquanto que a outra, embora necessária, era de uma ordem inferior. Nesta tradição, Marta é tida como útil mas, de alguma forma, limitada, enquanto sua irmã é vista como espiritual, refinada e mais santa...

Meister Eckhart suscitou uma forte objeção contra isto.... Ele situa a ainda incompleta Maria bem no começo da vida espiritual enquanto que a Marta ativa já está bem adiante. - Marta temia que sua irmã permanecesse sem progresso... nos sentimentos de bem estar e doçura. É assim que este conselheiro espiritual reverte completamente o sentido bíblico do texto, o qual configura para Maria - a melhor parte - e, identificando-se a si próprio com a Marta ativista, diz - O Cristo falou e disse, - Fica em paz Marta, pois ela também escolheu a melhor parte. Isto (a inércia de Maria) vai ter fim... e ela será também bendita, como tu!-

Esta reversão não é só sobre a reabilitação de Marta e o comportamento ativo mas também sobre a abolição da divisão dos seres humanos entre ativistas e sonhadores, ativistas e introvertidos, e também a diferenciação entre a produtividade da ação e a receptividade da piedade. Ao não separar a ação de Marta da devoção contemplativa de Maria mas, antes, concebendo Maria
em Marta, Eckhart afasta a falsa supervalorização e a escolha compulsiva entre as duas formas de vida, a espiritual e a mundana. Na perspectiva do misticismo, esta hierarquia é insustentável. A verdadeira contemplação dá origem a ações justas; teoria e prática permanecem em conexão indissolúvel.
Dorothee Soelle,
The Silent Cry, Misticism and Resistence, 2001