23 fevereiro 2007

Quaresma I - 25 de Fevereiro de 2007

Deuteronômio 26.1-11
Salmo 91.1-2, 9-16
Carta aos Romanos 10.8b-13
São Lucas 4.1-13
"Hipócritas somos: mas estamos a caminho da libertação mesmo de nossa hipocrisia."
Charles Elli0tt

The Elizabeth Hoare Collection in Liverpool Cathedral

O Sentido do Jejum

A oração mais penetrante e profunda que todos nós podemos fazer ... é possível quando ingerimos a refeição. Simplesmente comer, é já reconhecer - se é que somos suficientemente humildes para tanto - nossa absoluta dependência.

O problema é que no Ocidente, algo assustador aconteceu com respeito à nossa atitude para com a alimentação. Por todos os tipos de razões, econômicas e outras, nosso apetite por comida foi grosseiramente exagerado. Como resultado, muitos de nós, consumimos com enorme exagero.

Creio que há três níveis nos quais devemos enfrentar o problema.

No primeiro nível, devo sintonizar, de forma muito mais paciente e atenta, com aquilo que meu corpo está a dizer sobre sua fome ou inapetência. Ao longo dos anos desenvolvi o truque de usar a comida para alcançar outros propósitos, além do suprimento das necessidades físicas - por exemplo, para me tranquilizar quando estou ansiosa, alegrar-me quando estou abatida ou entusiasmar-me ainda mais, quando já estou contente. No fim, é difícil dizer se estou com fome ou não, é difícil quebrar com a cadeia - automática - de comer em momentos regulares.

O nível seguinte consiste no que nós realmente - praticamos - no tocante à reforma de nossos hábitos alimentares. Recentemente decidi que quero alterar significativamente minhas idéias sobre alimentação, sem modismos típicos da mentalidade do emagrecimento e também vencer o que há de criancice dentro de mim, e que me torna rebelde diante de qualquer disciplina razoável de alimentação; começo, acima de tudo, com o entendimento daquilo que meu corpo efetivamente - necessita - em termos de nutrição mas, ao mesmo tempo, respeitando aquilo de que ele - gosta.

O terceiro nível em que devemos cuidar da alimentação... é o nível político. O que precisa ser redimida aqui é a indiferença, o cinismo e o consumo cego que afetam, de um lado, milhões de famintos... e também revisar a forma como os alimentos são preparados, comercializados, e anunciados. Nesta área, como em outras, nossa necessidade de aprender a amar a matéria é parte de nosso - equipamento - de sobrevivência.

Jejuar é aprender a amar e apreciar a alimentação, e nossa boa sorte em tê-la.

Mônica Furlong, The Church Times - 4 de Março de 1983

16 fevereiro 2007

Epifania, último Domingo - 18 de Fevereiro de 2007

Êxodo 34.29-35
Salmo 99
II Coríntios 3.12- 4.2
São Lucas 9.28-36 (37-43)

Transfiguração

A luz da Transfiguração brilha no templo e, com esta luz, podemos entrever também muitas sombras - pois, por tantas vezes, a Igreja segue o mundo, naquilo em que a glória pertence... não à conduta altruísta, mas na ambição mais mesquinha - e ela, sobre a qual paira o manto da autoridade de Cristo, se deixa levar pela divisão de autoridades conflitantes.
Este domingo nos recorda de que somos a Igreja e quão urgente a tarefa da oração permanece ... para que aprendamos o que contribui para a verdadeira glória - uma vida de amor sem egoísmos, em obediência à autoridade do Senhor Jesus Cristo.
Neste domingo, precisamos ir adiante e olhar para nosso mundo... e vê-lo, o mundo de Deus, à luz da Transfiguração de Cristo. Neste dia, na Festa mesma da Transfiguração do Senhor (6 de Agosto), no ano de 1945, uma luz tremenda - brilhou - sobre a cidade de Hiroshima - uma luz aompanhada pela exposição da população normalmente distraída, ao choque da radiação daquela primeira (e maldita) explosão nuclear. Por mais que a bomba possa ser explicada - estrategicamente - e politicamente - ela deve ser vista como um julgamento, não sobre suas vítimas - mas sobre o resto da humanidade inteira - sob aquela luz, bem podemos ver a dignidade dos valores humanos."
Irmão Anselmo,
Homilia pregada em St. Bene't's Church, Cambridge



Os três reis - Hey

Transição para a Quaresma

"Ó Senhor, suplicamos-te que nos livres do temor do futuro desconhecido; do medo do fracasso; do medo da pobreza; do medo do luto, do medo da solidão; do medo da doença e da dor. do medo da idade, e do medo da morte. Ajuda-nos, ó Pai, pela tua graça e amar e temer somente a Ti, enche nossos corações com coragem e amorosa confiança em Ti; por Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor."
D. Desmond Tutu, An African Prayer Book

11 fevereiro 2007

Epifania VI - 11 de Fevereiro de 2007

Profecia de Jeremias 17.5-10
Salmo 1
I Carta aos Coríntios 15. 12-20
Evangelho de São Lucas 6. 17-26

Memória Perigosa

A visão de Jesus atravessou os sistemas externos até o ansioso coração humano que jaz sob eles - e clamou por transformação à perfeição do amor. A impossibilidade da visão e sua desesperança escatológica, são o que há de mais impactante a respeito disto... A Igreja existe para preservar a memória perigosa do homem que nos advertiu contra o poder idólatra... que coloca sua própria sobrevivência antes da misericórdia e da verdade... mas ela, desde há muito tempo, como que desistiu de submeter-se à sublime impossibilidade da Sua visão.
D. Richard Holloway, Doubts and Loves: What is Left of Christianity

Natividade com a sarça ardente, Albert Herbert

O Mundo dos Pobres
Além de qualquer dúvida, a vida do pobre é marcada pela fome e pela exploração, cuidado médico inadequado, ausência de habitação digna, dificuldade em alcançar alguma educação, salários injustos e desemprego, lutas por seus direitos e também repressão. Ma não é tudo. Ser pobre é também uma forma de sentir, conhecer, pensar, fazer amigos, amar, crer, sofrer, celebrar e rezar.
O pobre constitui um mundo em si mesmo. Compromisso com o pobre significa entrar e, por vezes permanecer neste universo, com uma consciência muito mais clara; significa ser um dos seus habitantes, olhando para ele como local de residência e não só de trabalho. Não significa ir a este mundo pontualmente, para testemunhar o Evangelho, mas antes, dele emergir, cada manhã, com o propósito de proclamar as boas novas a todo ser humano...
Vemos com clareza crescente que se exige uma imensa dose de humildade para que as pessoas se comprometam com os pobres dos nossos dias. Neste esforço, experimentamos o que Luis Espinal traduziu em oração, onde procura expressar o mistério da vida:
Senhor, um fiozinho de humildade já é penetrante. Não somos o eixo da vida, como nosso egocentrismo falsamente nos faz clamar... Viajamos através da vida como cegos; nós não escolhemos a vida antes de nela embarcar, nem sabemos o dia em que dela partiremos... A vida é maior que nós, e teus cominhos se estendem muito além do horizonte de nossa visão.
Gustavo Gutierrez,
We drink from Our Own Wells: The Spiritual Journey of a People

01 fevereiro 2007

Epifania V - 4 de Fevereiro de 2007

Profecia de Isaías 6.1-8 (9-13)
Salmo 138
I Carta aos Coríntios 15.1-11
Evangelho de São Lucas 5.1-11
A Oração de Louvor
"Uma forma de oração que pode ajudar, tornando mais real a presença do Salvador Ressuscitado em sua vida, provendo um sentido mais seguro de estar sendo sustentado e cercado pela providência amorosa de Deus, é a Oração de Louvor. Ela pode prover grande paz e alegria. Esta forma simples de oração consiste em agradecer e louvar a Deus por tudo, o que quer que seja, em sua vida. Sua base é a certeza de que nada acontece que não seja, ou não possa ser, apontado para a glória de Deus - absolutamente nada, nem mesmo seus pecados - nem mesmo a morte de nosso Senhor Jesus Cristo.
Ao se arrepender, louve a Deus, mesmo por seus pecados, porque Ele retirará, destes mesmos pecados, um grande bem. São Paulo encoraja seus discípulos, os romanos, como segue: - Onde aumentou o pecado, a graça de Deus aumentou muito mais ainda. E continuou: Portanto, que é que vamos dizer? Que devemos continuar a viver no pecado, para que a graça de Deus cresça ainda mais? (Carta aos Romanos 5.20 e 6.1)
Dando graças a Deus por seus pecados e sua libertação, você poderá aprender a louvar a Deus... por causa deles. Pedro certamente arrependeu-se de sua negação... e por sua fraqueza em servir como fonte de ajuda a Jesus, no caminho até o Calvário.
Frequentemente, pessoas carregam pela vida inteira um fardo de culpa nos corações pelos pecados que cometeram. Mesmo convencidas do perdão de Deus, muitas se sentem incapazes de deixar para trás o sentimento de culpa. Se você consegue expressar, de coração, ações de graças e louvor a Deus por ter pecado, você sentirá também que tudo está nas mãos de Deus, e que seus esforços frutificarão."
James W. Skehan, Place Me With Your Son, em Everyday Life, Georgetown University Press, 1991


Fuga para o Egito, Gentileschi (1563-1647)


"Não gosto de falar com Deus como se Ele fosse um jumento sonolento... que realmente precisasse ser acordado. Penso que Deus é mistério - mistério amoroso... mistério profundo e insondável, com quem temos comunhão, mas que não conseguimos exatamente compreender."
D. Richard Holloway