02 agosto 2009

Trindade VIII

A Glória da Transfiguração do Senhor

Quando Moisés desceu da montanha do Sinai... não sabia que o seu rosto
estava resplandecente, por ter falado com Deus.”
Livro de Êxodo 34.29

O relato da Transfiguração do Senhor é registrado nos evangelhos de S. Mateus, São Marcos e São Lucas. São Pedro também o refere em sua II Carta. Nas leituras da Festa aprendemos que não se trata somente do mensageiro mas também da mensagem. A mensagem de salvação é para todos e Cristo é o Salvador. O testemunho da Lei e dos Profetas a respeito de Jesus é indicado pela presença de Moisés e Elias. O evento prefigura a própria Ressurreição, antecipando uma provinha da vida da glória. O Evangelho de São Lucas descreve Jesus falando com Pedro Tiago e João, tomando-os consigo para a montanha. Aí, enquanto reza, seu semblante muda e também as suas vestes, de forma branca e brilhante. Uma das lições que precisamos aprender, seja como aprendizes ou mestres na Escritura, no estudo, na meditação, no ensino e na prática, é que mais importante é mostrar que contar! As leituras para a festa da Transfiguração cumprem bem como objetivo de mostrar e nem tanto contar. A comunhão com Deus causou uma mudança radical na visão, tanto de Moisés como de Jesus. Como eles aparecem não importa muito! Deus teve um impacto poderoso nas suas vidas porque eles irradiam Sua presença e visão. Todos nós refletimos o efeito da comunicação com Deus. Podemos não brilhar como Moisés e Jesus (embora isso seja também possível!) – mas de alguma forma mostramos, por palavras e conduta, aquilo que efetivamente mostramos e contamos aos demais em nossa vida diária. O Arcebispo Michael Ramsey, (100º Arcebispo de Cantuária), dentre seus muitos livros, escreveu The Glory of God and the Transfiguration of Christ. É um dos clássicos da melhor teologia Anglicana. Contam, os que o viram frequentemente rezar em sua capela, em silêncio profundo e impressionante quietude que, ao rezar, o velho Arcebispo, alguma coisa verdadeiramente acontecia. Em sua teologia, ele estuda o uso da palavra “kabod = glória” como sinal efetivo e sério da Presença do Pai na vida humana.

27 julho 2009

Trindade VII

O Deus Verdadeiro

“O Deus que encontramos deve ser tão verdadeiro quanto nós que O buscamos. Mas Deus não é sempre verdadeiro? Não é Ele mesmo e imutável? Certamente, sim! Não é só Deus que está envolvido em nossas orações. É também a imagem que temos dEle, uma vez que nossa atitude depende não só de quem Ele é mesmo... mas de quem cremos que Ele é. Se temos uma falsa imagem de Deus, nossa atitude para com Ele e nossa oração, serão também deformadas. É importante que, ao longo da vida, dia a dia, aprendamos a conhecer Deus como Ele é.”

Metropolita Anthony de Sourozh, Creative Prayer, editado por Hugh
Wybrew, Darton, Longman & Todd, Londres, 1987.

19 julho 2009

Trindade VI


Encontro Verdadeiro

“Um encontro só é verdadeiro quando as pessoas são verdadeiras também. Assim, normalmente falsificamos nossos encontros. Não só em nós mesmos mas na imagem de Deus em nós. É muito difícil sermos verdadeiros. Ao longo do dia somos uma sucessão de personalidades sociais, por vezes irreconhecíveis aos outros ou a nós mesmos. Quando se trata de rezar e desejamos apresentar-nos a Deus, muitas vezes nos sentimos perdidos porque não sabemos qual destas personalidades sociais é a pessoa humana de verdade. As muitas pessoas sucessivas que apresentamos a Deus não são o que somos de fato. Há algo de nós em cada uma delas mas a pessoa toda está faltando. É por isso que a oração, embora podendo erguer a partir do coração a pessoa verdadeira, não consegue achar seu caminho em meio aos sucessivos espantalhos que apresentamos a Deus. Cada um destes fala uma palavra que é verdadeira em sua forma parcial de ser, mas não expressa as outras personalidades parciais que tivemos durante o dia. É extremamente importante que encontremos nossa unidade, nossa identidade fundamental. De outra forma, não conseguimos encontrar o Senhor em verdade.”

Metropolita Anthony de Sourozh, Creative Prayer, Editado por Hugh
Wybrew, Darton, Longman e Todd, Londres, 1987

12 julho 2009

12 de Julho de 2009 • Trindade V


Leituras do Domingo
Profecia de Amós 7. 12-1

Carta aos Efésios 1.3-14

Evangelho de São Marcos 6.7-13

A Oração como Encontro

“Encontro é essencial para a oração. É a característica básica da revelação mesma porque esta é um encontro com Deus. Ela nos alcança uma nova visão do mundo. Tudo é encontro, na Escritura e na vida. É tanto pessoal quanto universal, único e exemplar. Ele sempre tem dois pólos: o encontro com Deus e, nele, com a Criação, - e o encontro com o ser humano em sua profundidade enraizada na vontade criadora do Pai, tudo rumando na direção da realização em que Deus será tudo em todos. Este encontro é pessoal porque cada um, e todos nós, devemos experimentá-lo por nós mesmos. Não é possível vivê-lo só por ouvir dizer... É nossa própria experiência mas tem significação universal porque vai adiante de nosso ego superficial e limitado. O encontro é único porque para Deus, e para os seres humanos, cada um de nós é único e insubstituível. Cada um de nós conhece a Deus de forma diferente, de uma forma que nenhuma outra pessoa pode conhecê-lo a menos que o testemunhemos. Ao mesmo tempo, como a natureza humana é universal, cada encontro é exemplar. É uma revelação para os demais daquilo que é conhecido de cada um.”
Metropolita Anthony de Sourush, Creative Prayer, Editado por Hugh
Wybrew Darton, Longman and Todd, Londres 1987, página 4

05 julho 2009

5 de Julho de 2009 • Trindade IV

O Nascimento da Oração

“Rezar é buscar por Deus, encontrá-lo e prosseguir, para além do encontro, na vida de comunhão. A oração é assim um movimento, um estado e uma situação; situação tanto com respeito a Deus como para com o mundo criado. Ela surge da consciência de que o mundo em que vivemos não é somente bi-dimensional, prisioneiro das categorias de tempo e espaço, um mundo plano onde só nos defrontamos com a superfície das coisas, superfície opaca encobrindo o vazio. A oração nasce da descoberta de que o mundo tem profundidades; de que não somos só cercados por coisas visíveis mas que estamos também imersos e permeados pelo invisível. Este mundo invisível é presença de Deus mesmo, a realidade suprema e sublime, além de nossa própria verdade mais profunda.”
Metropolita Anthony de Sourozh, Creative Prayer, edição de Hugh Wybrew, Darton, Longman and Todd, Londres 1987

27 junho 2009

29 de Junho - São Pedro e São Paulo, Apóstolos e Mártires

São Pedro costuma ser chamado Príncipe dos Apóstolos devido as palavras que o re-nomearam, passando de Simão à Cefas. Esta é forma aramaica da palavra grega para rocha. Jesus afirmou que sobre esta rocha edificaria a Igreja. Pedro e Paulo passaram a ser vistos como tendo papéis diversos na liderança da Igreja: Pedro testemunhou o senhorio de Cristo e Paulo elaborou uma compreensão para os seguidores do Caminho. Pedro e Paulo são lembrados nesta data desde os primeiros dias da Igreja. É um tempo em que rezamos o aniversário do martírio de ambos em Roma, no ano de 64.


“Onipotente Deus, cujos benditos Apóstolos Pedro e Paulo te glorificaram pelo seu martírio; concede que a tua Igreja, instruída pelo seu testemunho e ensinamento, e unida pelo teu Espírito, permaneça sempre firme num só fundamento, o qual é Jesus Cristo, nosso senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.”

28 de Junho de 2009 • Trindade III

Leituras do Domingo
Livro de Sabedoria 1.13-15, 2.23-24.
II Coríntios 8.7,9, 13-15.
São Marcos 5.21-43
Deus Conosco

“O Evangelho diz que o Reino de Deus está, antes de tudo, dentro de nós mesmos. Se não o podemos encontrar dentro de nós, não discerniremos Deus em nós, no fundo de nós mesmos, e a chance de achá-lo exteriormente será remota. Quando o astronauta russo afirmou que não vira Deus nos céus, um de nossos sacerdotes em Moscou observou, - Se você não O viu aqui na terra, jamais O veria também no céu. Isto é verdade sobre o que refiro aqui. Se não descobrimos um vínculo com Deus, digamos, como sob a nossa própria pele, teremos poucas chances de vê-lo face a face. São João Crisóstomo dizia, - Ache a porta de seu próprio coração e você descobrirá que é a porta também do Reino de Deus. É então para dentro que devemos voltar-nos – e não para fora. Mas, para dentro, de uma forma muito especial. Não afirmo que devamos tornar-nos introspectivos. Também não significo que devamos fazê-lo como na psicanálise ou na psicologia. Não se trata de uma jornada para dentro de meu interior mas de uma jornada através de meu próprio eu, com o propósito de emergir do mais fundo de mim ao lugar onde Ele está, no ponto em que Deus e eu nos encontramos.”

Metropolita Anthony de Sourozh, Creative Prayer, Seleção de Hugh Wybrew,
Darton, Longman and Todd, Londres – 1987

28 de Junho – Santo Irineu, Mártir e Bispo de Lion

Santo Irineu nasceu em Esmirna, no ano 130. Quando menino conheceu São Policarpo. Policarpo, por sua vez, foi discípulo do Apóstolo São João. Santo Irineu é assim uma das conexões vitais entre a Igreja apostólica e o segundo século. Estudou em Roma e mais tarde foi ordenado sacerdote em Lion, na França, sucedendo o bispo local, martirizado em 177. Lutou muito contra as convicções mitológicas e não históricas dos Gnósticos, enfatizando sempre a humanidade plena do Verbo feito carne, Jesus. Afirmou o papel público de ensino do episcopado no sentido de combater as doutrinas falsas. Irineu é honrado como o primeiro grande teólogo católico, erguendo-se acima das tradições do Oriente e do Ocidente. Foi martirizado no ano 200.

“Deus da paz, que através do ministério de teu servo Irineu, fortaleceste a fé verdadeira trazendo harmonia à Tua Igreja: preserva-nos fiéis na verdadeira fé, renovando em nós a fé e o amor, para que caminhemos sempre na vereda que leva à vida eterna; por Jesus Cristo teu Filho nosso Senhor, que vive e reina contigo e o Santo Espírito. Amém.”

20 junho 2009

21 de Junho de 2009 • Trindade II

Adoração Verdadeira


“A Adoração, para mim, significa uma relação. Eu não era crente mas um dia descobri Deus e imediatamente Ele me pareceu ser o valor supremo e o sentido total da vida e, ao mesmo tempo, uma pessoa. Creio que a adoração nada pode significar para alguém que não tenha um objeto de adoração. Não se pode ensinar adoração a alguém que não tenha ainda tido o sentido do Deus vivo; pode-se até ensinar a viver como se fosse crente mas não será uma atitude espontânea, significando adoração verdadeira. Assim, o que eu gostaria mesmo de comunicar é minha certeza na realidade pessoal do Deus com quem podemos nos relacionar. Peço que tratemos a Deus como nosso próximo, como alguém, e valorizemos este conhecimento nos mesmos termos em que valorizamos a relação com um irmão ou amigo. Isso, creio, é essencial. Uma das razões pela qual a adoração comunitária ou privada parece ser tão morta ou rotineira está no fato de que o ato de adoração, que deve ocorrer no coração e na comunhão com Deus, muitas vezes está ausente. A expressão, verbal ou em ação, pode ajudar, mas é só expressão do que é essencial, a saber, o silêncio profundo de comunhão.”
Creative Prayer,
Metropolita Anthony de Sourouzh

O Cristão Ortodoxo,
Metropolita Anthony de Sourouzh
O Metropolita Anthony nasceu na Suíça em 19 de Junho de 1914 onde seu pai servia como membro do Corpo Diplomático do Império Russo. Ele e a família sofreram as turbulências da Revolução Russa de 1917, foram obrigados a viver na Pérsia, mais tarde na França e Áustria. Formou-se em física, química e biologia na Faculdade de Ciências da Sorbonne. Depois disso estudou medicina e em 1939 já era médico. Em meio às tribulações da época e da vida de seu povo, chegou a cogitar do suicídio, uma vez que não descobria sentido na vida. Contrariado, convidado por um sacerdote que seria o palestrante, foi a um encontro de jovens russos. Estava decidido a não prestar atenção alguma ao que ouvisse. Aí, sentiu-se indignado com a visão de Cristo e do cristianismo, considerando-as repulsivas. De qualquer forma, ao retornar para casa, decidiu tomar um dos Evangelhos para conferir a “estória” que o sacerdote referira. Para não perder muito tempo, escolheu o Evangelho mais curto, o de São Marcos. Ao chegar ao terceiro capítulo, ele mesmo conta: “... de repente senti que, do outro lado de minha mesa havia uma presença. A certeza foi tão forte de que era o Cristo mesmo ali, que ela jamais me deixou...” E conclui... “Não descobri, como se pode ver, o Evangelho, começando com sua primeira mensagem da anunciação... mas como um evento que deixou para trás todas as dificuldades da descrença... porque foi uma experiência direta e pessoal. Após servir como médico no Exército Francês durante a II Grande Guerra, em 1943, secretamente fez os votos monásticos da estabilidade, pobreza, castidade e obediência. Em 1948 foi ordenado sacerdote e em 1958 sagrado bispo, com responsabilidade sobre toda a Inglaterra e Irlanda. Recebeu ainda a jurisdição de Arcebispo em 1962, de Patriarca para a Europa Ocidental em 1963 e Metropolita em 1966. “Devemos estar preparados para descobrir que o passo último de nossa relação com Deus é um ato de pura adoração, face a face, mistério no qual não podemos penetrar.”

14 junho 2009

14 de Junho de 2009 • Trindade I


Evelyn Underhill, 15 de Junho e o Seminário em Porto Alegre


O dia 15 de Junho marca a data em que a Igreja Anglicana lembra Evelyn Underhill. Ela morreu no dia 15 de Junho de 1941. Sendo 15 de Junho também a data do “Aniversário do Seminário”, nós a adotamos como a Padroeira desta casa de formação teológica. Nasceu em 6 de Dezembro de 1875. Faleceu aos 65 anos de idade, casada, dona de casa, novelista, escritora e mística, foi pelo SETEK acolhida como fonte de inspiração. Autora anglo-católica, escritora e pacifista, ficou conhecida por seus inúmeros textos sobre a Fé Cristã, a experiência espiritual e o misticismo cristão. Dentre os textos mais conhecidos, Misticismo e também Adoração constituem um legado que permanece como sua visão de Deus. Condutora de retiros e diretora espiritual de grande sabedoria, Evelyn influenciou nomes como C. S. Lewis, celebre escritor leigo anglicano, e o próprio mundialmente conhecido escritor e teatrólogo T. S. Eliot. O mistério da fé, esta talvez possa ser a expressão mais resumida de toda a sua visão e vocação. Em seu texto, A Vida Espiritual, escreveu: “A maioria dos nossos conflitos e dificuldades resulta de se tentar lidar com os aspectos práticos e espirituais da vida como que separadamente, em lugar de percebê-los como um todo. Se nossa vida prática está centrada em nossos próprios interesses, enrolados pelas posses, distraídos pelas ambições, paixões, desejos e ansiedades, submersos pelo sentido de nossos próprios direitos e importância, aflições por nosso próprio futuro ou inquietação por sucesso, não devemos esperar que nossa vida espiritual seja um contraste em relação a tudo isto. A morada da alma não está construída em um plano assim tão conveniente: dispomos de poucos compartimentos à prova de som. É somente quando a convicção – não meramente a idéia – de que o chamamento do Espírito, mesmo que inconveniente, vem primeiro e SEJA o primeiro, e governe tudo isso, é que tais ruídos objetáveis morrerão, e acessaremos o pequeno oratório interior bem decorado, permitindo que aflorem as vozes mais quietas. É que a vida espiritual é simplesmente uma vida em que tudo o que fazemos vem do centro, aí onde estamos ancorados em Deus: uma vida mais e mais embebida pelo senso de Sua realidade e chamado, como ofertório ao grande movimento da Sua vontade.” The Spiritual Life, Harper & Row, 1936, página 37

07 junho 2009

7 de Junho de 2009 • Domingo da Santíssima Trindade


O Deus Triuno


Nunca duvidemos! Pertencemos a Deus. O Santo Espírito do Ressuscitado nos inspira e chama para Deus. Ele conduz na direção do Pai a despeito da inércia, da rejeição ou da indiferença. Aquele que nos criou também indelevelmente nos marcou e acompanha ao longo da vida toda. Em nossos dias, como no passado, sabemos dos horrores da sociedade humana. Os campos de refugiados, na África por exemplo, são nossos contemporâneos. Os brasileiros “refugiados” por perderem o pouco de que dispunham, pelas chuvas ou pelos açudes “oficialmente autorizados” e “certificados”, todos eles são rostos que vemos cada dia pelos tele-jornais, esmagados com sofrimento maior que o imaginável. Por outro lado, dentro de nós, sem importar as “circunstâncias”, somos também, em parte, pessoas com um refugiado desconhecido . Até que nossa plena maturidade como filhos de Deus se enraíze em nós, o espelho de cada dia pode até nos provocar: - Quem és tu no dia de hoje? - Quando nos sentimos particularmente fracassados por algum episódio da vida de trabalho – ou quando nos deixamos trair, por uma compra desnecessária ou inoportuna, por exemplo, aí somos essencialmente refugiados – fugindo do Santo Espírito que nos chama à segurança, sabedoria, realidade e identidade verdadeira. Todos somos desenraizados e frágeis. Lugar algum na terra poderá ser bom e “caseiro” enquanto não nos descobrimos em casa, seja na família do Deus Triuno, seja conosco mesmos. Atentos à voz do Ressuscitado, sempre no meio de nós e animando a Igreja, confiemos na verdade mais profunda de que a escuta e o chamamento são, ao mesmo tempo, a nossa vocação e felicidade. Tudo o que somos e fazemos brota da abundância do amor do Deus Trino. Nada, nada mesmo na terra pode dissipar a Verdade do abraço compassivo em nossas vidas. “Vem tu, eterno Deus, inspira aos que são teus o teu louvor. Grande e glorioso ser, Pai de todo o poder, vem sobre nós reger com teu amor.” Hino 102

31 maio 2009

31 de Maio de 2009 • Domingo de Pentecostes



Pentecostes

Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” Romanos 8.14.17
A Igreja celebra hoje o dom do Santo Espírito, abundantemente derramado sobre os seguidores de Jesus logo após a Ascensão. Ouvimos então o relato familiar, o quadro dramático reportado por uma das leituras indicadas. Um dos aspectos do trabalho do Espírito é fazer Deus real para nós. Ele é o Pai que deseja certificar-se de que somos seus filhos; não automaticamente como parte da Criação, mas porque fomos trazidos à Sua família por adoção e graça. Por isso, confiantemente rezamos “Abba, Pai”. Ainda mais admirável é que, como filhos de Deus, somos herdeiros, “co-herdeiros com Cristo”. Esta filiação junto ao Filho único, Jesus, significa que seremos identificados com Ele em glória – porque seremos também com Ele identificados no sofrimento, prelúdio inevitável da glória. Para Jesus, o caminho até a Ressurreição e Ascensão se deu através da Cruz. É a confiança, através do Espírito, de que somos seus filhos, não escravos. Assim, olhamos para Jesus como o pioneiro e artífice de nossa fé. Ele, pela alegria de antes da Cruz, desconsiderou dela a vergonha e a dor, e assentou-se à direita do trono de Deus. O Santo Espírito faz Deus real para nós, em nossa relação com o Pai, na oração e na meditação das Escrituras. O Santo Espírito faz Deus real em nós, permitindo que cresça em nós o caráter divino. Ele faz Deus real para outras pessoas através de nós, no testemunho e nos dons que nos alcança. Estes são caminhos que o Pai abre a nós todos graças ao dom do Espírito. Os discípulos viram o Senhor rezando e pediram que fossem ensinados a rezar também.

23 maio 2009

24 de maio de 2009 • Páscoa VII - Quadra da Ascensão do Senhor

Leituras do Domingo
Atos dos Apóstolos 1.15-17, 20-26
I Carta de São João 4.11-16
Evangelho de São João17.11-19

A Quadra da Ascensão

“Concede, nós te rogamos, Deus Onipotente, que assim como cremos que teu unigênito Filho nosso Senhor Jesus Cristo subiu aos céus, também lá subamos em oração e pensamento, e habitemos sempre com aquele que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.” LOC – Coleta para a Ascensão
A coleta baseia tudo na Fé. Nossas palavras são: “assim como cremos” . Cremos que o Deus-Homem está nos céu dos céus, o primeiro de nossa raça a alcançar este bendito “lugar”. Cremos que intercede por nós; que aí nos prepara um lugar e nos envia seu Santo Espírito para nos fazer seus santos. Com nosso Senhor Ascenso fazendo todas estas coisas admiráveis por nós, como é certa e impensável a nossa salvação! “Olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais passou pelo coração humano, as coisas que deus tem preparado para aqueles que O amam.” Agindo em nossa fé, no Seu trabalho divino por nós – devemos também aí subir em oração e pensamento. “Elevai os corações” deve ser nosso lema. Mas somente seremos capazes de viver assim se de fato aí estiver também o nosso “tesouro”. Pois, “onde estiver teu tesouro, aí estará também teu coração.” O Senhor Ressuscitado é mesmo nossa riqueza maior? Devemos não só ascender com nosso Senhor mas com Ele continuamente habitar, quer dizer, sem interrupções. Nada mais nos serve a não ser o céu como companhia. O pecado distancia nossos corações da morada de Deus. Não conseguimos, por nós mesmos, retornar com facilidade uma vez que deliberadamente nos afastamos. Daí a necessidade da resistência adulta ao pecado. Ensina o Arcebispo William Temple: “A Ascensão de Cristo é sua liberação de todas as restrições de tempo e espaço. Ela não significa seu afastamento da terra, mas Sua constante Presença em toda parte. Durante seu ministério terreno Ele somente podia estar em um dado local de cada vez. Se estava em Jerusalém não estava em Cafarnaum; se estava em Cafarnaum não estaria em Jerusalém. Mas Ele agora está unido com Deus, presente onde Deus estiver; quer dizer, em toda parte. Porque está no céu, está em toda a terra; porque ascendeu, está aqui agora. Na pessoa do Santo Espírito Ele habita em Sua Igreja, desde o mais profundo das almas dos discípulos, para o testemunho de Sua soberania.”


Para Rezar

“Ó Deus, Rei da glória, que exaltaste o teu único Filho Jesus Cristo com grande triunfo ao teu celeste reino; Suplicamos que não nos deixes desconsolados; mas nos envies teu Santo Espírito, para nos confortar e conduzir ao alto e santo lugar, onde nosso Salvador Cristo já nos precedeu, o qual vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, pelos séculos sem fim. Amém.” LOC, Coleta do domingo depois da Ascensão

16 maio 2009

17 de Abril de 2009 • Páscoa VI

Leituras do Domingo
Atos dos Apóstolos 10.25-26, 34-35, 44, 48.
I Carta de São João 4.7-10.
Evangelho de São João 15.9-17.



A Ascensão do Senhor

A Páscoa não é um só domingo e nem mesmo é ela contida nos 50 dias que levam até a Festa de Pentecostes. A Páscoa é o tempo da vida da Igreja e da vida de todos nós. A Ascensão do Senhor “redesenha” uma transição que qualifica nossa experiência de vida e fé. O hino 91, Tu Christe Nostrum Gaudium canta: “Senhor Jesus, reinando em majestade; o teu amor o amor de Deus nos traz, também nos dá a visão da eternidade... Vem nossas vidas para Ti buscar e nos fazer, contigo, novos seres... Estando em Ti andamos sempre em luz, unidos todos pela mesma crença. Ó Cristo ressurreto, ó Vencedor, com Deus o Pai, e o Espírito Sagrado, a Ti que és imortal, a Ti o louvor por todo o sempre seja tributado.” Celebramos a Páscoa durante 50 dias. Mas este ínterim não é tudo. Todo domingo é uma “pequena” Páscoa e também uma celebração da Ressurreição do Senhor. Para qualquer cristão sério, portanto, a Ressurreição é a experiência de todos os momentos da vida. Sempre necessitamos do Ressuscitado para a liberdade e dignidade de vida, neste mundo que constantemente nos distancia do Pai. Por vezes Deus parece estar oculto. Todos conhecemos momentos ou tempos da “distância” de Deus. É por isso que Ele nos reuniu como Igreja: precisamos dos outros para partilhar não só as alegrias da vida espiritual mas, não menos, aquelas horas dramáticas em que parecemos estar encerrados na Sexta-feira da Paixão. Não podemos imaginar como seria a vida sem a Ressurreição do Senhor! Também não conseguimos pensar como seria a vida sem a comunhão nossa com os irmãos. Precisamos todos de alguém com quem partilhar a Sexta-feira da Paixão e cheguemos, juntos, à Ressurreição. Esta é a novidade de vida que a Páscoa da Ressurreição e a Ascensão do Senhor nos trazem. Na Sua Ascensão aos Céus o Senhor Jesus leva consigo nossa humanidade. O hino 89 canta, “Nossa natureza inteira, no mistério da Ascensão ... Deus e homem, nossa glória contemplamos ao te ver.” O Festival da Ascensão do Senhor tem a força que nos ergue acima das lutas, vacilações e opressões de cada dia. A fé pascal é também dom da Ascensão. É Graça e bênção para uma vida quase sempre difícil. “Aleluia! Nosso mundo ergue o pensamento a Deus! Cristo, luz dos pecadores, vem, e livra-nos do mal: que possamos, redimidos, encontrar a paz final.” Hino 92.

10 maio 2009

10 de Maio de 2009 • Páscoa V

Leituras do Domingo
Atos dos Apóstolos 9.26-31
I Carta de São João 3.18-24
Evangelho de São João 15.1-8.


A Igreja de Deus

Tratamos aqui da Igreja de Deus. É exercício simples de eclesiologia, a teologia da Igreja com “I” maiúsculo. É a Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, como rezamos nos Credos. Há pequenas lembranças que precisamos retomar. São marcas da Igreja que devemos ter presente quando tentados a buscar em uma outra porta mais fácil, algo melhor que a Igreja mesma. Primeiro, a Igreja é viva. Ela não é uma organização pétrea ou imóvel. A Igreja de Deus é um organismo, um corpo vivo. Desde o início ela tem sido vítima de cismas, como o ocorrido entre São Pedro e São Paulo. Em sua vida a Igreja tem sofrido guerra e paz. Ela tem oprimido e também libertado. Assim, a Igreja precisa mover-se, crescer e se deixar transformar, se é que aceita mesmo permanecer como o Corpo vivo do Cristo Ressuscitado. Ela está viva porque, além de receber do Pai o fôlego da vida, é formada ainda por seres humanos frágeis e trôpegos, gente como nós todos, porções de barro animadas pelo hálito do Criador. Edificados para responder ao amor de Deus, facilmente o abafamos dentro de nós, até que Sua imagem seja quase imperceptível. A Igreja é pois formada por pessoas desta estatura... Mas “Deus, de tal modo amou o mundo que deu Seu Filho unigênito para que todo que nEle crê... tenha a vida eterna.” Ela é constituída crentes. Alguns de nós temos sido santos, desde os mártires, passando pelos grandes mestres e doutores da fé, até nós mesmos! Somos todos pecadores, membros do Corpo de Cristo. A Igreja assim é frágil. Somos seres humanos tentando, com a ajuda de Deus viver vidas santas, no serviço em Seu Nome, buscando alguma pobre imitação da adoração dos santos na Comunhão perfeita junto ao Trono dos Céus. Quando cantamos o hino 306... “Da Igreja o fundamento é Cristo, o Salvador...” cantamos também que nossa fé repousa sobre a rocha firme de Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado. Não podemos ignorar a promessa e palavra do Senhor: “Esta é a vontade daquele que me enviou.... que nem mesmo um dos que me foram dados, se perca.” Reafirmemos sempre: a Igreja NÃO é nossa. NÓS pertencemos a Jesus Cristo, o Senhor. Fomos salvos da escravidão de nós mesmos e de nossos pecados. Ele prometeu que nenhum dos Seus se perderá! A saúde da Igreja de Deus está justamente nas mãos perfuradas pelos cravos da Cruz. São as mãos do Palestino Jesus que acalmaram as águas, acariciaram os rostos de crianças, partiram o pão e ergueram o cálice. Estas mesmas mãos ainda oferecem Seu próprio Corpo e Sangue, sustentando-nos acima de qualquer tormenta, agora ou no futuro. E Ele nos ressuscitará no último dia.

03 maio 2009

3 de Maio de 2009 • Páscoa IV

Leituras do Dia
Atos dos Apóstolos 4.8-12.
I Carta de São João 3.1-2.
Evangelho de São João 10.11-18.



Acender uma Vela


Um dos elementos mais comuns em nossa vida de adoração começa com uma consideração prática. Velas produzem luz. Nos nossos dias, nos lares e em igrejas, há muitos recursos ainda mais eficientes e práticos para iluminar um ambiente. Mas a Igreja se antecipou em muito ao uso da energia elétrica. Durante muitos séculos da era cristã, a única forma de se prover luz nos locais de adoração era justamente pela iluminação com velas. Carregadas em procissões nas catedrais, ou durante procissão do Evangelho, as velas simbolicamente aclaram o caminho. As velas no santuário, sobre ou mesmo atrás e acima do Altar alcançam luz e testemunham a abundância da glória de Deus. Ao longo destes mesmos séculos as velas também ecoaram imagens básicas da Escritura Sagrada. As chamas das velas têm sido parte da adoração da Igreja por quase dois milênios e nos recordam, como adoradores, a “Luz de Cristo”. A Lâmpada do Santuário, constantemente acesa acima do Altar, no Tabernáculo, significa a presença de Cristo no Sacramento Reservado. As velas sobre o Altar devem ser somente acesas quando “convidamos” a presença de Cristo na celebração da Eucaristia. Finalmente, a chama nos recorda do trabalho do Santo Espírito em sua descida sobre os discípulos em Pentecostes. Acendemos o fogo de nossas orações como ofertório a Deus sempre que dobramos os joelhos durante a adoração ou meditação quieta. Seja por luz, seja por tempo quieto de contemplação, seja pela simples beleza, as velas são parte da riqueza da liturgia e vida da família da fé. Elas aquecem e iluminam, dando vida, à adoração do Deus que iniciou Sua Criação justamente dizendo, “Faça-se a luz!”


26 abril 2009

26 de Abril de 2009 • Páscoa III

Leituras do Domingo
Atos dos Apóstolos 3.13-15, 17-19.
I Carta de São João 2.1-5.
Evangelho de São Lucas 24.35-48.






Ovos de Chocolate e Jesus Ressuscitado!

O teólogo leigo Anglicano C. S. Lewis contava de uma criança que na manhã da Páscoa dizia baixinho para si mesma, “Ovos de chocolate e Jesus ressuscitado!” Parece uma combinação maluca, quase sacrílega aos ouvidos de adultos... mas ela é verdadeira. Qualquer separação entre um mundo sagrado e o assim chamado profano, aos olhos da fé cristã, não se sustenta. A alegria da vitória da Páscoa se expressa na mente da criança através dos ovos de chocolate e da “notícia” de Jesus Ressuscitado. Recordemos sempre o quanto estão perto e interligados os céus e a terra na mente das crianças. Talvez isso ajude muito mais que outras dicotomias equivocadas que praticamos (como corpo e alma, material e “espiritual”!). Conservamos ou cultivamos muitas categorias falsas em nossas mentes de adultos “esclarecidos”! Devemos aprender a permitir que tudo da vida, mesmo fraldas e disciplina, sejam entremeadas com o céu que está sempre presente, especialmente nas crises e dores. Quem sabe, poderemos então ver nossa condição de pais não como “armadilha”, ou como fardo, e olhemos para nossa própria casa, confusa, selvagem ou a seu modo... maluca ... como um dom do céu, lugar santo da Presença do Senhor. Bem no centro de nossas vidas, “melhor ou pior a sorte”, o Cristo é agora, e será sempre, a Ressurreição e a Vida, capaz de nos reerguer de toda forma de desesperança, fraqueza, pecado e desespero.

19 abril 2009

19 de Abril de 2009 • Páscoa II

Leituras de Domingo
Livro de Atos dos Apóstolos 2.32-35.
I Carta da São João 5.1-6.
Evangelho de São João 20.10-31



Vivendo pela bênção da Ressurreição


As formulas do LOC para a Eucaristia reconhecem a necessidade de transformação continuada pelo dom mesmo desta qualidade de existir. A vida ressuscitada é promessa do Pai através da Ressurreição de Jesus. Contudo, embora a clareza da bênção final na celebração da eucarística, as bênçãos que nos chamam a uma mudança pela vida toda são visíveis já bem no centro e no coração da santa liturgia. Recordando, (atualizando), o amor de Deus que nos foi dado a conhecer pelo dom de Cristo, o pão e o vinho são consagrados – abençoados – para que sejam para nós o Corpo e o Sangue do Senhor. No entanto, por mais familiar que nos seja o reconhecimento desta bênção, há ainda outra lembrança. Nela, e por ela, nos ofertamos diante do altar, assim como fazemos com o pão e vinho, “que sejamos aceitáveis por Ele, sendo santificados pelo Espírito Santo...” diz um dos ritos. No outro, (Rito I)... a oração parece mais complexa mas pode ser ainda mais esclarecedora. Dizemos então... “E aqui te apresentamos, ó Senhor, a oferta de nós mesmos. E humildemente suplicamos que aceites este nosso sacrifício de louvor e ação de graças, e te dignes abençoar e santificar com teu Espírito Santo a este Pão e Vinho, para que nós, revestidos de tua graça e bênção celestial, sejamos unidos, com Cristo em tua Santa Igreja...” O chamamento nos convoca a acolher a bênção que requer nos ofertemos a nós mesmos. Assim, tentando nossa pobre obediência, a bênção mesma nos guiará, como o fez com Cristo, pelo caminho da Cruz à vida da Graça. Então, não estaremos somente “recebendo uma bênção” e seremos, nós mesmos, bênção para outros.

10 abril 2009

Quadra da Páscoa do Senhor, 2009

Carta Pastoral da Câmara dos Bispos ao povo de Deus na IEAB

Eis que dois deles viajavam nesse mesmo dia para um povoado chamado Emaús, próximo de Jerusalém; e conversavam sobre todos esses acontecimentos. Ora, enquanto conversavam e discutiam entre si, o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles; seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo... E eles pararam, com o rosto sombrio...”
Evangelho de São Lucas 24. 13-17.

Como disse alguém, - um dia, nós também nos descobriremos no caminho de Emaús. Em verdade, muitas vezes nós temos cantado: “Pelo vale escuro segurei, Jesus... breve a noite desce, noite de Emaús...” Hino 258. De fato, o “estranho” foi reconhecido mas sua presença logo se dissipou dos olhos dos discípulos. A jornada, a conversação e a revelação foram benditas, inesperadas, tocantes e verdadeiras.
Esta, talvez, se pode dizer, é em muitos momentos nos últimos anos nossa experiência como eclesianos da IEAB, como cidadãos de nosso país e, não menos, na lembrança de nossa própria vida pessoal e familiar... “com o rosto sombrio.”
Como brasileiros sofremos pela corrupção disseminada e quase sempre impune. “A miséria só existe porque tem corrupção” canta Gabriel o Pensador. Amarguramos as condições contraditórias de uma realidade social que poderia ser muito diferente, justa, saudável e promissora. Milhões de famílias brasileiras sofrem o “apartheid” de classe que bem conhecemos. Nossos jovens anseiam por oportunidades que talvez, injustamente, nunca venham a ter. A realidade política se mostra mais e mais decepcionante. Nas últimas décadas, os mesmos nomes de políticos profissionais mais que reprováveis não só são reeleitos mas agravam a saúde de um processo democrático que poderia ser nossa força como cidadãos. Saúde e educação, o binômio inarredável para a população toda e sua dignidade, têm cedido espaço para a propaganda esperta e a impostura oficial. Andamos, como diz São Lucas, “com o rosto sombrio”.
Na vida da IEAB, suas dioceses e paróquias, temos também sofrido a perplexidade diante de tropeços em nosso ser e agir. São, não menos, adversidades que se abatem, semelhantemente, sobre outras tradições eclesiais. A escassez de recursos não parece ser a causa primeira para explicar uma condição dramática mas gravemente conspira para o enfrentamento dos obstáculos. De qualquer forma, “com o rosto sombrio”...nós nos sabemos no caminho de Emaús. Reunidos como Câmara dos Bispos, ouvimos relatos doloridos mas, ao mesmo tempo, nos alegramos com a partilha de inúmeras situações de Boas Novas que o Pai tem proporcionado nas várias dioceses. O povo da Deus na IEAB tem amadurecida a sua fé ainda que em meio a tempos de tristeza ou novidade de vida. Os Bispos agradecem a Deus pela voz e sabedoria dos leigos ouvidas na reunião da Câmara. O caminho de Emaús se confirma assim, neste tempo da Ressurreição, como a força de vida transformada de que tanto necessitamos. A tristeza não usa máscaras e talvez por isso nos abale e reforce tanto, não por nossa própria coragem mas pela presença bendita do Ressuscitado andando conosco.
As adversidades e o sofrimento agem como uma escola pela qual aprendemos a ver e compreender coisas que antes não entendíamos. Através das crises rezamos um discernimento mais adulto na experiência da fé. Pelo caminho da Cruz , cativados pelo Crucificado, somos sustentados na comunhão e esperança a nós revelada como povo de Deus, na visão do Cristo no meio de nós. Contudo, fé antiga da Igreja, herdada de nossos pais, necessita testemunhar também às situações contemporâneas de indiferença, injustiças, desesperanças, empobrecimento e anseio de muito mais vida. O tempo da Páscoa nos recorda que não ficamos órfãos. Não estamos sós. A Igreja não somos nós mas Deus conosco! O sentido mesmo da fé na Ressurreição nos significa concretamente que as mudanças devem ou podem acontecer. É pela luz da Presença do Ressuscitado no meio de nós que nos sentimos capazes de mudar e transformar. A rejeição e a morte não têm a última palavra. O Senhor Ressuscitado é princípio de vida abundante, corajosa e restauradora. É pela luz da Páscoa do Senhor que vemos com mais clareza nossas estruturas como Igreja de Deus. Amamos a muitas delas. Reconhecemos que elas necessitam de cura e de novas formas. Amamos a Igreja ainda muito mais mas não a confundimos com estruturas que devem ficar em seu próprio tempo. Muitas destas formas já não mais falam à nossa geração e às condições de vida de nosso povo. É aí que a adoração reaparece como o fato mais central da vida e da fé. Sem a adoração primeiro, nem mesmo a missão se justifica.
Devemos com urgência abrir mão de muito do nosso ruidoso interior, medroso do silêncio. Pela quietude e pelo silêncio, na escuta da sabedoria do Pai, começando na vida de piedade pessoal, envolvendo não menos a ação litúrgica e a prática pastoral, vislumbraremos, como em Emaús, o semblante do Ressuscitado a nos encorajar. A IEAB inteira, começando por seus Bispos, todo clero “e as congregações confiadas aos seus cuidados”, no tempo da Páscoa da Ressurreição é gravemente interpelada pela oportunidade de metanoia, de vida radicalmente nova e de testemunho na Missão.
O mistério da Ressurreição de Jesus, transformador de tantas gerações antes de nós, hoje nos interpela e pacientemente revela caminhos e oportunidades novas. A Páscoa nos chama a provar do fermento santo de vida ressuscitada. Pela participação nos santos mistérios do Pão e do Vinho recebemos o dom do perdão e da emenda de vida.
Reunidos em Porto Alegre de 30 de Março até 3 de Abril, os Bispos da IEAB, antecipando a semana da Paixão do Senhor, rezaram e intercederam por nossa restauração como povo pascal, vencendo a morte, anunciando a esperança, semeando encorajamento e suplicando pela redescoberta pessoal e eclesial daquilo que o Cristo de Emaús nos ensina e revela.

“Não há dor que seja sem divino fim; Faze, ó Deus, que a Igreja compreenda assim, e, apesar das trevas, possa ver, Senhor, que Tu mesmo a levas, com imenso amor.”
(Hino 258)

Nota: A Câmara dos Bispos, reunida em POA de 30 de Março / 3 do corrente decidiu, por unanimidade, pospor a realização da reunião do Sínodo Geral e da Confelider em razão da comemoração, em 2010, do 120º Aniversário da IEAB ( e da lembrança dos 200 anos de presença da Capelania Britânica no Brasil). Esta transferência, além de permitir melhor preparação para os eventos e sua celebração, concederá ainda mais tempo para a atual coleta e exame de dados já em andamento. É também possível que o Arcebispo de Cantuária, Sua Graça o Arcebispo Rowan Williams, possa estar conosco em ocasião tão especial, lado a lado com outros convidados e visitantes por nós esperados.

05 abril 2009

5 de Abril de 2009 • Domingo da Paixão do Senhor

Leituras do Domingo
Profecia de Isaías 50.4-7
Salmo 118.19-29
Carta aos Filipenses 2.6-11
Evangelho de São Marcos 14.1-15, 47.

A Procissão das Palmas

A procissão das palmas é oportunidade para se testemunhar à comunidade local mais “vizinha” da paróquia ou capela; é uma oportunidade para “dançar” com toda a nossa expressão e certeza da vitória da Ressurreição do Senhor. Assim o rei Davi fez ao ver a arca da aliança ser transportada em Jerusalém. Pode-se sugerir à congregação que use vestuário de cores alegres e até mesmo instrumentos de percussão (feitos em casa!) . As palmas ou ramos (sem corte destrutivo de plantas), deverão estar também presentes e agitadas como se fossem bandeiras. Se houver música acompanhando a procissão, ou canto, algum momento de ensaio deve ser feito durante a semana. O trajeto deverá ser o razoavelmente mais “envolvente” possível na vizinhança. Não há necessidade de livros ou hinários já que o canto deve ser de fácil memorização. Alguém pode julgar a procissão como “muito” diferente mas, de qualquer forma, não será irreverente! Assim como a mulher “gastou” um creme caro e raro para os pés de Jesus, mostrando sua “adoração”, da mesma forma devemos ter momentos em que movemos nossos corpos (caminhando ou dançando) em adoração também. É expressão física da fé enraizada em nossos corações e nossas mentes. É adoração devida ao rei que se encaminha a Jerusalém para nos assegurar a salvação. Um ritmo básico para a procissão pode incluir... caminhar juntos, parar por segundos e retomar a caminhada. A congregação deve ser encorajada a alguma improvisação comedida, trocando as pessoas de posição ou batendo palmas, por exemplo. Além disso, não se pode esquecer de agitar as palmas. O canto escolhido, de alguma forma, deve recordarnos daquele em louvor de quem caminhamos.

29 março 2009

Quaresma V • 29 de Março de 2009

Leituras do Domingo
Profecia de Jeremias 31.31-34
Carta aos Hebreus 5.7-9.
Evangelho de São João 12.20-3


Confissão, nem opcional nem compulsória!


Não há na Igreja Anglicana uma norma no sentido de que o sacerdote negue a comunhão a alguém que não tenha buscado a Confissão. Neste sentido, a Confissão não é “compulsória”. Mas o que isto significa? Significa que a Igreja Anglicana, certa ou equivocadamente, colocou a responsabilidade de receber o sacramento da Penitência, quando necessário, sobre a pessoa, restringindo-se de legislar sobre a questão. A remoção da responsabilidade de uma pessoa não justifica que o pároco se omita no ensino ao seu povo, definida e claramente, sobre a necessidade do sacramento. Em verdade, isto agrega uma responsabilidade ainda maior sobre o sacerdote. Ele deve ser ainda muito mais zeloso sobre este ensino para que o povo da Igreja não busque o altar de Deus pelo caminho fácil. No caso de alguém em risco de vida, o clérigo deverá ser ainda mais prestativo e amoroso, de modo que o enfermo se sinta tocado pela possibilidade de uma confissão especial de seus pecados. O sacerdote falha seriamente, com Deus e seu povo, ao se omitir em seus deveres, na necessidade da confissão. No trabalho comum da vida paroquial o normal é que o sacerdote cumpra regularmente com o dever de ensinar e explicar pacientemente ao seu povo, por homilias, boletins, reuniões de pequenos grupos, pela visitação pastoral e outros meios apropriados, a importância de se receber este sacramento. Se a prática da Confissão perdeu-se por razões históricas da eclesiologia da IEAB, ou se empobreceu ao longo de décadas e, particularmente em nossos dias, a responsabilidade é do processo histórico mesmo e também das pessoas, se é que o clérigo, devidamente instruído, agiu como dele é de se esperar. Deseduca gravemente a Igreja de Deus dar a entender que a Confissão pode ser “opcional” ou “compulsória”. Uma vez o sacerdote “ensine” que existem dois meios para se receber a absolvição, um deles fácil e o outro difícil, pode contar como certo que não será certamente procurado para o ministério da confissão. Como humanos, somos frágeis e sempre tenderemos a “racionalizar” nossos desejos, escolhendo sempre o caminho mais fácil. “Levantar-me-ei, irei a meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti: já não sou digno de ser chamado teu filho.” São Lucas 15.18,19

22 março 2009

Quaresma IV • 22 de Março de 2009

Leituras do Domingo

II Crônicas 36.14-16, 19-23
Carta aos Efésios 2.4-10
Evangelho de São João 3.14-21


Tempo de Confissão

“Se dissermos que não cometemos pecado, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós; se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para no-los perdoar, e para nos purificar de toda injustiça.”
I Carta de São João 1.8-9

A confissão é parte inarredável da vida de piedade pessoal. Sem ela, na verdade não existimos. Sem ela, não experimentamos também arrependimento de verdade. Dentre todos os sacramentos que a Igreja nos disponibiliza, a confissão sacramental é a mais indigentemente usada e talvez a mais mal compreendida. Há quem pense que não necessitamos da confissão sacramental porque já dispomos da Confissão Geral rezada sempre que participamos da Eucaristia. Pois aí é que está o problema. Ela é geral! Em tempos mais antigos a confissão era aberta e pública. O argumento era, e em alguns casos continua a ser – posso me confessar diretamente a Deus, não necessito nem de sacerdote nem de audiência pública. A confissão a Deus, em segredo, não é confissão de fato. É, sim, reconhecimento diante de Deus de que conhecemos o que Ele já conhece! A confissão, por definição é aberta e pública. Não sendo assim não é confissão. Quando as pessoas se decidiam pela experiência do arrependimento como forma de se preparar para a vinda de Jesus segundo a pregação de São João Batista, São Marcos diz que elas “confessavam seus pecados.” (São Marcos 1.5) Elas não diziam a Deus em segredo o que Ele já sabia! Elas, em verdade, confessavam seus males a todos os que se achavam nas margens do Jordão. Semelhantemente, São Tiago também recomenda que os cristãos “confessem seus pecados uns aos outros”. (São Tiago 5.16) Não se trata de uma sugestão do apóstolo São Tiago mas de um mandamento. Os cristãos devem revelar suas fraquezas uns aos outros para que assim sejam curados. A Confissão Sacramental é um sacramento de cura: cura as almas dos pecados que as faz enfermas. Se a confissão é, por definição, reconhecimento de pecados, de forma aberta e pública, por que então a Igreja direciona os penitentes a buscarem um sacerdote para a confissão privada? Os sacerdotes não têm poder para perdoar pecados; somente Deus pode fazer isto. Mas o papel do sacerdote é testemunhar a confissão e prescrever, se necessário, a penitência apropriada. Mais importante ainda, o sacerdote está presente para assegurar o perdão de Deus através da oração da Absolvição. Ela é pública no sentido de que o sacerdote representa a com unidade da fé, como pastor do rebanho, além da presença sacramental de Cristo mesmo.O sacerdócio sacramental é participação no sacerdócio de Cristo. Assim, a Quaresma é tempo de confissão. Se para você, esta for uma primeira experiência, recomenda-se que procure por ajuda na preparação apropriada. Há material para leitura e instrução. “Filho, filha, Cristo está aqui invisivelmente para ouvir tua confissão... eu sou somente uma testemunha, testemunhando diante dEle tudo o que vais desistir... dentre o que venha ser teu maior pecado. Coragem, portanto... a menos que venhas ao médico e aceites retornar sem a esperada cura.” Esta é só uma das muitas exortações ao penitente existente nos diferentes Ritos da Confissão.

15 março 2009

Quaresma III • 15 de Março de 2009

Leituras do Domingo
Êxodo 20.1-17
I Carta aos Coríntios 1.22-25
Evangelho de São João 2.13- 25.



A “Glorificação” de Cristo



“Eu mostrei a tua glória ao mundo e terminei o trabalho que me deste para fazer.Meu Pai! Agora dá-me glória na tua presença, a mesma glória que eu tinha contigo antes de existir o mundo.”
São João 17.1-5


Para a maioria de nós, a crucifixão – uma forma particularmente cruel de execução – pode ser descrita sob muitas formas menos como – gloriosa! Para os judeus, a morte na cruz significava que o condenado era na verdade um maldito (Deuteronômio 21.23). Para os romanos, a prática permitia eliminar qualquer vestígio de dignidade de quem fosse crucificado. A vítima, pendurada numa cruz, durante o calor do dia todo, fazia com que os passantes amontoassem ainda mais maldades sobre o condenado. Não é surpresa que o hino de São Paulo à humildade de Cristo diga: “Foi humilhado, e andou nos caminhos da obediência até a morte – e morte de cruz.” (Filipenses 2.8) No entanto, nesta passagem do Evangelho, é – a glorificação – de Cristo que o texto refere. Jesus falara sobre ela antes mesmo do seu evento: “Chegou a hora de ser glorificado o Filho do Homem” (São João 12.23) Aí, poucas horas antes do Gólgota, Ele reza para que sua morte fosse o meio pelo qual o Pai o – glorificaria – e que o Filho então glorificasse o Pai: “Pai, chegou a hora. Glorifica teu Filho, para que ele te glorifique.” (São João 17.2) Como entender tudo isso? Sua resposta diz que somente por este caminho de dor Elepoderia exercer a divina autoridade de oferecer vida eterna: “... tens dado ao Filho autoridade sobre todos os homens, para que ele dê a vida eterna aos que lhe deste.” (S. João 17.2) O Pai será glorificado ao se completar o trabalho para o qual Jesus foi enviado, a salvação do mundo. Talvez, o clamor triunfal na hora da cruz: “Está consumado” (19.30) afirmava que a tarefa se cumprira. A vida eterna é aqui compreendida em termos muito simples. Consiste em conhecer Deus e conhecer o Messias a quem Ele enviou. (17.3). Devemos rezar mais por conhecer ao Pai e ao Filho, bem mais do que simplesmente estar informados a respeito deles.

09 março 2009

IV Curso de Verão


08 março 2009

8 de Março de 2009 • Quaresma II

Leituras do Domingo
Gênesis 22.1-2, 9-13, 15-1
Carta aos Romanos 8.31-34
Evangelho de São Marcos 9.2-10
A Alegria que Permanece

“...afirmo que vocês vão chorar e ficar tristes, mas a gente do mundo ficará alegre. Sim, vocês ficarão tristes, mas essa tristeza se transformará em alegria... assim acontece com vocês agora: agora estão tristes. Mas eu verei vocêsnovamente. Então ficarão cheios de alegria, e ninguém poderá tira-la de vocês.”
Evangelho de São João 16.20-24



O texto de São João refere aqui uma forma de alegria muito especial. É a alegria que pode ter raízes mesmo na dor. A imagem do nascimento humano é vívida. Não sabemos se as mães de hoje esquecem a dor assim tão rapidamente! O centro da ilustração é, no entanto, ainda verdadeiro: após o parto a criança recém nascida representa grande maravilha e porta consigo a alegria que deixa no passado a dor momentânea. A dor passa e a alegria permanece. Isto é o que seria também vivido pelos discípulos, Jesus os assegura. Neste momento mesmo estão assustados e ansiosos. Trevas e morte estão logo adiante, seguidas de luto. Mas o Senhor sabe que os encontrará novamente, no dia glorioso da Páscoa. A alegria que conhecerão então será sem fim. “Quando eles viram o Senhor, ficaram muito alegres.” S. João 20.20 Foi mesmo assim, apesar das “provas” da identidade que o Senhor lhes mostrou. Eram as feridas de sua morte. Uma vez mais o Senhor urge com eles a que orem em Seu nome. E acrescenta um incentivo. Pela súplica e bênção que receberão, sua alegria será completa. Através dos tempos e circunstâncias de dor, a alegria de Deus procura por nós. Primeiro vem a Cruz. Então, a Ressurreição. Assim como a alegria dos discípulos nasceria desde a dor, também a paz viria na perseguição. Somente aqueles que conhecem a dor conseguem experimentar a alegria mais profunda; Só os que sofrem ansiedade e medo podem reconhecer a bênção da paz. Nossa paz e alegria são verdadeiras em Cristo, e no Pai em quem Ele é um. Esta, a meditação para cogitar em silêncio, começando a segunda semana da Quaresma.

01 março 2009

1º de Março de 2009 • Quaresma I

Leituras do Domingo
Gênesis 9.8-15
I Carta de São Pedro 3.18-22
São Marcos 1.12-15


As limitações e o caminho do sofrimento

Conhecemos todos um sem número de deficiências humanas que abalam a tão instável compreensão de “saúde”. Sabemos também de admiráveis casos de coragem moral e força de vontade em que pessoas, passando por grande sofrimento ou perdas de partes seu próprio corpo ou de algumas de suas capacidades, afirmam um testemunho de bravura e confiança na vida que por momentos nos elevam acima de nós mesmos. Há também a lembrança de rostos, organizações e legislação que mais e mais tentam dar de si como reconhecimento de uma dívida social para com os que, embora humanamente “deficientes”, são tanto ou até mais “capazes” que os assim tidos como “saudáveis”.
Só os que não amam escapam do sofrimento! Trata-se de um discernimento discutível mas aponta numa direção sensata. O sofrimento, e o luto como extremo mais doloroso principalmente, são o preço que precisamos todos pagar, eventualmente, pelo amor que assegura a dignidade do viver.
Para quase todos nós, sofrimento e morte são lembranças que preferimos evitar. “Não, muito obrigado!” Convivemos diariamente com a visão de pessoas que, por muitas e diferentes razões, sofrem tanto ou mais que nós. De um modo geral, parece, preferimos “fazer de conta” que a dor e o sofrimento dos outros não é conosco. A “solidariedade” ou “proximidade” sérias podem como que ser mesmo contagiantes. Até quando evidenciamos algum sinal “social” de reconhecimento e respeito, nos deixamos levar logo, logo, pelo silêncio e indiferença.
Talvez sejamos assim, nem tanto por crueldade mas por “ignorância”. Em tempos passados, quando a arte da medicina não dispunha do “arsenal” de hoje, e não conseguia manter muito longe de si os braços das deficiências várias, e da morte, as pessoas pareciam saber lidar mais humanamente com a dor e as limitações. Talvez a noção de respeito fosse diferente! Nossas debilidades de saúde, de qualquer ordem, nas limitações e no sofrimento especialmente, não podem “andar ligeiro!”. Esta é uma lição que nossa sociedade e cultura precisam aprender ainda. Precisaremos dela seja para a solidariedade com outros seja para, mais dia menos dia, nossa própria ajuda.
A vida é difícil, o sofrimento, as limitações da idade e a morte mesma são suas companheiras. São nossas acompanhantes! Levar a sério estas coisas é uma questão de maturidade e sabedoria. Todos temos seres amados a quem gostaríamos de ajudar, proteger, cuidar e aliviar. Todos tememos, por amor, os riscos que ameaçam aqueles a quem amamos. Para quem vive pela fé em Cristo, “no meio da vida estamos na morte!” Este é um padrão que mesmo nossos padrinhos já reconheciam durante nosso batismo. Este é o padrão no qual, cada domingo, somos participantes através dos santos Mistérios do Pão e do Vinho. Agora mesmo, neste tempo santo da Quaresma, talvez mais que em qualquer outro momento do Ano Cristão, somos recordados de que “somos pó e ao pó voltaremos.” Nada há de morbidez no reconhecimento e convívio com este cenário. Não somos “impecáveis” e, sob muitos aspectos, somos todos defectivos. Na alma, no coração, na constituição física e nas circunstâncias da vida. Cada novo dia nos leva mais para perto da casa do Pai. Crescemos na estatura da Graça e fisicamente nos esforçamos por uma vida mais saudável. Mas a curva biológica não muda seu perfil. O curso regular da vida, em seu ritmo “normal” sempre nos confronta com momentos de limitação, desapontamento e incompreensão.
Como adultos, não podemos evitar o confronto maduro com impactos que são, ou serão, inescapáveis e muito pessoais. Entender melhor o impacto da devastação, ou nosso próprio convívio diário com a “roupagem” com que o Criador nos “revestiu”, significa reconhecer também os sentimentos estranhos, amargos e indesejados... como “sintomas” de nossa experiência como criaturas. Na expressão de G. B. Shaw, “As mágoas são a vida mesmo nos educando”.
Aprender a solidariedade e participação nas nossas limitações mútuas é certamente uma grande medicina para aclarar o que, mesmo não percebendo, é para nosso próximo, a tristeza em busca de iluminação. Não se trata de “consolar” a dor ou de minimizá-la, como é usual e mais fácil! A nós compete, como seres humanos, alcançar e encontrar aos que sofrem para que sejam restaurados. Todos precisamos de ajuda e encorajamento, aqui ou ali. Reconhecemos, na limitação dos outros, momentâneas ou não, as dores, o medo, a raiva, a culpa, a frustração, a solidão e, tantas vezes, o sentimento de abandono que os esmaga. Este senso de cuidado e responsabilidade tanto pode ser interpessoal quanto deve ser também, quem sabe, praticado em “pequenos grupos”. Os cristãos e as igrejas deveriam saber disso! Mas não só! Há muitas outras formas humanas de associação humana que têm semelhante dever de compaixão e compromisso.
Nas limitações e adversidade da vida de cada dia, estamos todos no mesmo barco. Ou, nas palavras do Salmo 23, andamos pelo vale da sombra... Quaisquer que sejam as nossas circunstâncias, prevalece sempre a consolação do Pai. Ou, como o C. S. Lewis, teólogo Anglicano tão bem conhecido por seus textos e experiência de vida ao lado da esposa enferma Joy, mais tarde escreveu: “...quanta felicidade, e mesmo contentamento tivemos juntos depois que toda esperança se foi. Como fomos longe, tranqüilos, nutrindo-nos mutuamente naquela que foi a última noite.” (C.S. Lewis, A Grief Observed.)

D. Luiz O. P. Prado

22 fevereiro 2009

22 de fevereiro de 2009 • Epifania VII - Domingo da Quinquagésima

Leituras dom Domingo
Profecia de Isaías 43.18-19, 21-22, 24-25
II Carta aos Coríntios 1.18.22
Evangelho de São Marcos 2.1-12

“Eis que vou fazer uma coisa nova...”

Profecia de Isaías 43.19

O Senhor promete aos cativos no exílio que... “fará uma coisa nova...ela já vem despontando: não a percebeis?” Deus está preparado para virar de pernas para o ar o mundo de toda gente, abrindo um caminho em meio ao deserto, fazendo nascer rios na aridez. O profeta Isaías proclama o que Deus faz sempre em nossas vidas. Mas antes que tudo isto aconteça, diz o Senhor... “Não fiqueis a lembrar coisas passadas, não vos preocupeis com acontecimentos antigos.” Antes que o que é novo ocorra e o percebamos, nossas velhas preocupações e antigas cegueiras devem ser deixadas para trás. Velhos rancores e culpas, antigos afetos talvez e esperanças (ilusões?) equivocadas...As coisas antigas podem se transformar em certezas, virtudes e convicções. Agarrar-nos cegamente a elas, ou por muito tempo, pode cegar-nos ao que Deus está de fato fazendo acontecer como novidade em nossas vidas.

George Herbert (1593-1633) – Sacerdote, Poeta e Teólogo
Nascido de família aristocrática em Pembroke, George Herbert entrou em Cambridge em 1614, tornando-se nome muito especial no Trinity College. Ainda com 25 anos tornou-se orador da Universidade e Membro
do Parlamento, aparentemente destinado a uma vida na corte mesma. Para surpresa de todos, escolheu ser ordenado e, após passar algum tempo com seu amigo Nicholas Ferrar na comunidade de Little Gidding, foi feito diácono em 1626. Casou em 1629 e foi ordenado sacerdote em 1630, dedicando-se ao cuidado de seu povo na paróquia de Bemerton, perto de Salisbury, onde passou o resto de uma vida muito breve. Escreveu bastante e seus hinos ainda são bem populares dentre os eclesianos de fala inglesa. Seu tratado, The Country Parson, sobre a vida sacerdotal, e sua poesia, especialmente O Templo, deram a Herbert um lugar ímpar na literatura inglesa. Jamais descuidou do cuidado pastoral de seu povo em Bemerton e incentivou a presença dos eclesianos na prática dos Ofícios Diários, fazendo ressoar as palavras de seu hino, - “Sete dias inteiros e
não um só em sete... eu te louvarei.” George Herbert morreu no dia 27 de Fevereiro de 1633, aos 40 anos de idade.

14 fevereiro 2009

15 de Fevereiro de 2009 - Epifania VI – Domingo da Sexagésima

Leituras

Levítico 13.1-2, 45-46
Salmo 42
I Coríntios 10. 31—11.1
São Marcos 1.40-45


A Encarnação


A força e gênio da tradição espiritual Anglicana se enraízam na Encarnação. A tradição espiritual Anglicana recebe seu poder e efetividade de uma visão da Encarnação que é “caseira”, regular e mundana. O peso do testemunho Anglicano repousa no poder da comunhão diária em comunicar o que é Santo.
No centro desta tradição espiritual está a percepção de que a vida propriamente vivida é devocional por natureza. A oração é o anseio humano suscitado pelo Santo Espírito em unir-se ao propósito de Deus. Assim, a vida vivida devocionalmente e intencionalmente, com a atenção voltada à vontade Deus, nos molda em caminhos enraizados na existência diária regular. Através dos eventos diários Deus nos capacita a participar no efeito cósmico da Encarnação. Isso implica também em que oramos não para mudar quem Deus é, mas para abrir-nos às mudanças que Deus tem em mente para nós todos. A implicação desta perspectiva é imensa em nossa busca pela percepção da ação de Deus no mundo e nas nossas vidas. Não necessitamos seguir caminho esotérico algum de iluminação. Nossa peregrinação exige atenção séria aos encontros e eventos diários. Uma das formas de se cultivar uma sensibilidade apropriada à atividade de Deus na realidade de nossas vidas está em devotar-nos a nós mesmos tempos regulares de oração, meditação e adoração; assim, o curso diário aparentemente mundano de viver será uma continuada oração oferecida a Deus, que nos criou, redimiu e sustenta.
Para os Anglicanos, os dois ofertórios mais compreensivos alcançando o substrato para esta atividade divina são os Ofícios da Oração Matutina e Vespertina, alicerçados ma Santa Eucaristia. De forma sutil e nem sempre compreensível, o comprometimento regular com estes Ofícios e a Eucaristia abrem espaço em nossos corações e nossas vidas para um encontro com o Santo. O tempo empregado em comunhão regular com os Ofícios Diários e na Eucaristia provém o substrato que vai ao mais fundo de nossa vida espiritual, despertando em nós a fome por intimidade que nossa natureza feita à imagem de Deus sempre exige, provendo assim o contexto para comprometimento e a profundidade ainda maior com Aquele que busca por nós.
Outras tradições cristãs também tomam e utilizam estes dois meios de encontro com a santidade para nutrir suas expressões peculiares de espiritualidade. Nós todos partilhamos discernimentos e materiais, sem falar no depósito vital e vivificante da Santa Escritura. Todas as tradições eclesiais podem aprender lições inestimáveis umas das outras a respeito disto que é tão antigo e tão desafiador, a peregrinação chamada de Vida Cristã. Como Anglicanos temos um dom distinto para contribuir para com a vida da família cristã inteira, sem qualquer pretensão de dominação, algo enraizado em nossa própria história e experiência.


William Willoughby, The Anglican Digest

08 fevereiro 2009

8 de Fevereiro de 2009 • Epifania V ou Septuagésima - Terceiro domingo antes da Quaresma

O Cristão na Epifania

Para o cristão há sempre como que um vazio, no ano litúrgico, entre os pontos clímax da Natividade do Senhor e a Quarta-feira de Cinzas que nos conduz até a Páscoa e Ressurreição de Jesus. Olhando para trás, o Advento nos aponta para uma espera e alerta. Mas qual é mesmo o tema da Epifania? O que a Epifania, já coincidindo com a pré-Quaresma (domingo da Septuagésima) nos chama a viver? Creio que a palavra chave para a Epifania é brilho. O símbolo tradicional da Epifania é o da estrela conduzindo os sábios à manifestação da Divindade. Todos os temas da quadra de Epifania ecoam este cenário. Mas como fazer o tema do brilho ser real em nossas vidas, mesmo na luminosidade e calor do Verão? Como cristãos, cremos que nossas vidas mostram Deus aos outros e, quanto mais nos modelamos em Jesus, melhor! Na linguagem de São Paulo, nossas vidas refletem a glória já mostrada na vida e mensagem de nosso senhor Jesus Cristo! A forma como podemos “mostrar” Deus aos outros é, em primeiro lugar, vivendo a comunhão verdadeira com
Aquele a quem Jesus chamou de Pai, chamando-o de nosso Pai também. Assim como Jesus, precisamos da disciplina obediente de reservar um tempo quieto, em silêncio, em contemplação, cada dia!
Na medida em que aprendermos assim, também ganharemos a bênção de ouvir ao Pai, tanto no silêncio quanto como na Escritura e também na Liturgia da Santa Igreja! Mas nosso chamamento não se encerra na contemplação de Deus em nossas vidas. Jesus nos ensina a amar ao próximo como a Deus mesmo. Nosso “brilho” não acontece na escuridão de um vazio. Trata-se de um brilho de dedicação e de vontade intencional. Precisamos aprender a ouvir o próximo tal como ouvimos a Deus. Só assim nosso “brilho” poderá alcançar os cantos escuros das vidas dos outros. Esta é a parte mais difícil pois precisamos aprender a enfrentar nossas mentiras, falsidades, ilusões e também distrações. As nossas e as de nosso próximo... até alcançar a própria realidade mais profunda. Isto é muito difícil.
Preferimos crer em falsidades fáceis. Preferimos a fala da TV ou dos governantes. Tudo isto é mais fácil que enfrentar a realidade! Preferimos ilusões mais “macias”. É como já disse alguém, “a humanidade não consegue enfrentar a realidade”. Encarar a realidade e o Deus da realidade pode nos levar à mudança e ao desconforto. Há, no entanto, sinais de muitas pessoas já “sacodem o pó”, permitindo que um pouco mais de luz as aclare. Rezemos por brilhar a luz do Pai na Epifania e na Quaresma que se aproxima.

31 janeiro 2009

1º de Fevereiro de 2009 • Epifania IV

A Epifania, o Bispo Andrewes e nós todos.



“Deus avisou em um sonho os visitantes do Oriente para não voltarem aonde estava Herodes... eles voltaram para a sua terra por outro caminho.”
São Mateus 2.12



Na festa do Natal de 1622, o Bispo Lancelot Andrewes suscitou um discernimento novo a respeito da jornada dos Magos. Sugeria então que história antiga dos Magos é uma parábola da conversão dos seres humanos; uma parábola da conversão de todos nós na peregrinação Cristo. Era a viagem através de um deserto inóspito, com camelos recalcitrantes e guias de viagem que não mereciam toda confiança, sempre através de vilarejos e cidades muitas vezes hostis, além da impressão recorrente de que tudo parecia ser loucura. Mas era a viagem estranha e arriscada na direção de um mundo novo e diferente. Ao final da viagem um paradoxo: nascimento e morte. O nascimento de Cristo e nossa morte. A morte de Cristo e o nosso nascimento. São paradoxos terríveis que estão bem no centro da vida e da fé cristãs. Vivendo, morremos e, morrendo, vivemos. Nascimento e morte são os dois lados de toda transformação e a Epifania tem a ver com transformação.
O Filho de Deus se manifesta. “Portanto, todos nós, com o rosto descoberto,refletimos como um espelho a glória do Senhor. Aquela glória vem do Senhor, que é o Espírito. Ela nos torna parecidos com o Senhor, e assim a nossa glória cada vez fica maior.” II Cor. 3.18. “Parecidos com o Senhor” ou, transformados pela adoração!
Não mais conformados com este mundo mas “transformados pela renovação de nossa mente”. Esta renovação é um contínuo morrer em nós. Mas é também contínuo renascer. Em Cristo, morremos para nEle viver: este o mistério da redenção; este o mistério da liturgia que celebramos: “Vocês já morreram, e suas vidas estão escondidas com Cristo, em Deus.” Colossenses 3.3. Por detrás das imagens da Epifania que todos conhecemos e adoramos, há a história da jornada da fé através de uma terra estranha, para encontrar o Verbo de Deus bem em meio à ambigüidades das palavras humanas, e também para provar o gosto da vida de Deus nos santos sinais do Pão e do Vinho, para encontrar a morte na vida e a vida na morte, para adorar o mistério e nos deixar ser por Ele transformados. Onde está o Filho de Deus que veio para nos salvar? Onde está o Pão da Vida pelo qual tanto ansiamos? Pela fé, somos todos reunidos como no estábulo. A fé nos faz encontrar o Verbo de Deus em palavras humanas; a fé nos faz experimentar a vida mesma de Deus nos mistérios do Pão e do Vinho, a fé nos faz encontrar e servir ao Filho de Deus uns nos outros, e não menos, ela nos faz ver e afirmar a glória que brilha aí. Então, Belém é para nós também. A Epifania também é para nós; a Sua glória brilha e nós oferecemos nossos dons de adoração. Encontrando o Senhor em Belém, nós o adoramos e não retornamos como éramos antes. Não retornamos a Herodes. Transformados pela adoração, retornamos por outro caminho. “...eles voltaram para a sua terra por outro caminho.”

(NOTA: Lancelot Andrewes (1555-1626), Bispo de Winchester, se afirmou como pregador célebre, especialmente nos grandes festivais da vida da Igreja. Seu trabalho mais conhecido entre nós é talvez a coleção de orações editada em 1648, Preces Privatae. Ele desejava que a Igreja expressasse sua adoração através de um cerimonial bem ordenado e, em sua própria capela a comunhão em ambas as espécies - pão e vinho – era oferecida, além do uso regular de incenso e velas.)

25 janeiro 2009

25 de Janeiro de 2009 • Epifania III

A Confissão de Pedro

“Sou uma testemunha dos sofrimentos de Cristo, e vou participar da glória que será revelada.”
I Carta de São Pedro 5.1-4

Na data de 18 de Janeiro a Igreja celebra a festa da Confissão de São Pedro. Ele foi mesmo uma criatura especial, diferente dos outros onze sob muitos aspectos. Era cheio de fé e não necessitou de qualquer revelação mais pessoal. Tudo o que considerou foi a palavra do Senhor: - Vem! – Deixou então suas redes e O seguiu. Era impetuoso, imprudente e impulsivo. Mas estes traços bem podem ter sido dons do Espírito!
Foi um homem leal. Sozinho, tomou a defesa de Jesus no cenário de cerco do jardim. Da mesma forma, sentiu vergonha pela covardia quando da prisão do Mestre a quem negara por três vezes. Não esteve
livre de preconceitos ao considerar a “fronteira” entre judeus e estrangeiros. Ao mesmo tempo, se deixava mudar, em suas opiniões, pela inspiração de Deus. De temperamento aberto, prontamente se entregou à
tarefa de pregar com vigor, tentando obedecer ao mandamento de Jesus – Apascenta as minhas ovelhas -. Pedro sabia que Jesus era o Cristo e era do tipo que daria este testemunho em um simples minuto. Por esta humanidade tão nossa, damos graças a Deus por tê-lo chamado.


A Conversão de São Paulo

“...Não desobedeci a visão que veio do céu...”
Atos dos Apóstolos 26. 9-21

No dia 25 de Janeiro a Igreja celebra também a Conversão de São Paulo. Muitos dos santos de Deus experimentaram uma Visão do Céu. São João, o Divino, nos alcança sua Visão no Apocalipse inteiro. Mas de
um modo geral, eles indicam o rumo de todos nós, nossa destinação. Como rezamos na celebração da Santa Eucaristia: “Portanto, com os Anjos e Arcanjos e com toda a multidão celestial, que não cessam de proclamar a tua glória, jubilosos louvamos o teu Nome...” Devemos apreciar melhor a Visão; reconhecer as implicações da “incontável multidão, de toda tribo, raça e linguagem.” O Céu está cheio de pessoas, todas confortáveis umas com as outras, conhecendo e se alegrando juntas, celebrando como “a grande nuvem de testemunhas”. Em nosso tempo aqui, em nossa jornada e peregrinação na direção da vida por vir, jamais estaremos sozinhos. Os conselhos e ensino de São Paulo não são “para mim” enquanto indivíduo, mas para a família da fé, a Igreja, o Corpo. Como nos recorda a Carta aos Hebreus, “não abandonemos, como alguns estão fazendo, o costume de assistir às reuniões. Ao contrário, animemos uns aos outros, e ainda mais agora que vocês vêem que está chegando o Dia do Senhor.” (Carta aos Hebreus 10.25) Não percamos de vista que Saulo precisou de um bocado de tempo para ser feito... Paulo!

18 janeiro 2009

18 de Janeiro de 2009 • Epifania II

Deus não existe...

“... ele sabia que seus filhos ofendiam a Deus e não os repreendeu...”
I Samuel 3.13

“Deus não existe. Deixa de te preocupar e desfruta a vida!” Este é o moto ou lema da moda dos ônibus ateus, surgida há pouco na Inglaterra, já conhecida na Espanha e, pelo efeito uniformidade da globalização, deverá logo estar também aqui conosco. Assim como nossos ônibus têm em sua parte traseira propaganda de diferentes agências, principalmente escolas, os conhecidos “double-deck” ingleses e agora os ônibus na Espanha, têm escrita em cores a expressão que inicia este texto. Trata-se de ateísmo rasteiro, sem seriedade e que busca por uma banalização do “problema de Deus”. É bom lembrar que o “problema de Deus” não é dEle mas nosso! O conteúdo do “conselho” nos ônibus é...¨“Desfrute a vida sem pensar no pecado”. Tudo começou com uma jornalista inglesa do The Guardian apoiada pelo já também conhecido Prof. Richard Dawkins, da Associação Humanista Britânica. Estes fatos nos fazem olhar mais de perto para I Samuel 3.1-20, umas das leitura deste domingo. É triste a figura de Eli, considerando-se a forma de viver de seus filhos. Durante muitos anos ele foi fiel e devotado às tarefas no templo; homem de Deus, sem mais nem menos! Mas seus filhos obstinadamente recusavam abraçar a fé e a devoção paternas. O comportamento dos filhos Hofni e Finéias em relação ao Templo era simplesmente “ateu”. A cidade sabia destas coisas e Eli também sabia que o assunto se tornara de domínio público. Sua velhice se fez ainda mais penosa – sem visão e com filhos como razão de constrangimento e amargura. Mas Deus confiara a ele a educação do menino Samuel. Samuel passou a ser o filho devotado que Eli jamais tivera. Nossas crianças crescem hoje cercadas por mensagens e formas de “lazer” que nada tem a ver com a vida em Cristo. Mesmo a boa formação de casa pode ser diluída na escola, nas ruas, pelos recursos de TV e pelos tantos os canais de distração online. Uma cultura de aparências, celebridades, drogas, sexo e violência tem mais impacto que o esforço dos pais. Mas as crianças também podem reconhecer a sinceridade, acolhendo o amor e o cuidado dos pais porque chegarão a compreender o que se faz e o que se diz pelo seu bem e felicidade. De qualquer forma, o quinto andamento não funciona automaticamente. Os pais devem rezá-lo, ensiná-lo e também merecê-lo.