30 março 2008

Páscoa II

A Igreja e a Glória de Cristo

“Dei a eles a glória que me deste, para que possam ser um, assim como tu e eu somos um.”
São João 17.22

“Aqui está a significação da Igreja. É o mistério da participação de homens e mulheres na glória de Cristo. Batizados em sua morte e tendo sido feitos participantes na sua Ressurreição, são agora membros do Corpo de Cristo, ramos da vinha que é Cristo.
Nela habitando a glória, a Igreja é o templo de Deus. Mas a glória na Igreja é uma glória invisível. Embora a Igreja seja visível, a glória não pode ser confundida com majestade e esplendor terreno, pois é glória somente discernível pela fé.
Somente na parousia a glória será visível. A glória na Igreja é uma amostra da glória que está por vir. Aqui, os poderes da era vindoura já trabalham na humilhação da Igreja: , a visão aberta da glória espera a Igreja no dia em que o julgamento começar, na casa de Deus. Separada deste contexto escatológico a doutrina da Igreja se torna a doutrina de uma instituição dentre outras no plano da história.”
Arcebispo Michael Ramsey
Gateway to God
Editado por Lorna Kendall
Darton, Longman and Todd, Londres 1988

White Crucifixion, 1938
Marc Chagall (1887-1985)

“Nos primeiros dias do Cristianismo um – apóstolo – era antes de tudo um homem que afirmava ser testemunha ocular da Ressurreição. Alguns dias mais tarde, depois da Crucifixão, quando dois candidatos eram considerados para a vaga criada pela traição de Judas, sua qualificação era a de que haviam conhecido Jesus pessoalmente, tanto antes quanto depois da Sua morte e podiam, falando aos de fora, oferecer um testemunho em primeira mão da Ressurreição (Atos dos Apóstolos 1.22)...
A Ressurreição é o tema central em toda pregação cristã reportada em Atos dos Apóstolos. A Ressurreição e suas conseqüências, eram o Evangelho – ou as boas novas – que os cristãos apresentavam: aquilo que nós chamamos de – evangelhos -, ou narrativas da vida e morte de nosso Senhor, foram compostos mais tarde, para o benefício daqueles que já haviam aceito o Evangelho! Estes documentos não foram de fato a base do Cristianismo: eles foram escritos para os já convertidos. O milagre da Ressurreição, e a teologia daquele milagre, vêm primeiro: a biografia viria mais tarde, quase que como um comentário...
Quando os escritores contemporâneos falam da Ressurreição, usualmente significam um momento particular – a descoberta do Túmulo Vazio e a aparição de Jesus a poucos passos dali. O relato daqueles momentos é o que os apologistas buscam apoiar e defender... e os céticos se esforçam por desacreditar. Mas esta concentração quase exclusiva naqueles primeiros cinco minutos, mais ou menos, da Ressurreição, teria desconcertado os primeiros mestres cristãos. Ao clamar terem visto a Ressurreição eles não estavam necessariamente afirmando terem presenciado aquele primeiro evento . Alguns deles, sim o viram. Outros não. Aquele primeiro – encontro – não tinha importância maior que qualquer outra das aparições de Jesus ressurreto... a não ser pela importância dramática e poética que as experiências iniciais costumam ter.O que eles afirmavam era que todos eles, uma ou outra vez, encontraram Jesus durante as seis ou sete semanas que se seguiram à Sua morte. Por vezes parece terem estado sozinhos, mas uma ocasião os Doze estavam juntos ao encontrá-lo... e ainda em outra ocasião, perto de mais ou menos quinhentos deles...sendo que, segundo São Paulo, a maior parte deles estava ainda viva quando escreveu a I Carta aos Coríntios, isto é, em torno do ano 55.”
C.S. Lewis, Miracles
William Collins Sons, 1974